O que procurar no Outono: Cogumelos no bosque

Há mais de 3000 espécies de cogumelos registadas em Portugal, a maior parte delas mais visíveis no Outono. A Wilder pediu ajuda a Rute Rainha Pacheco, engenheira agrícola e técnica de micologia que realiza passeios guiados, e dá-lhe a conhecer dez espécies que pode observar nos bosques portugueses.

Alguns cogumelos são comestíveis, mas o melhor é arriscar apenas a apanha quando for acompanhado por técnicos certificados. Até lá, delicie-se a encontrá-los nos troncos das árvores e escondidos entre a vegetação e tente adivinhar a que espécies pertencem.

 

Foto: Rute Rainha Pacheco
Foto: Rute Rainha Pacheco

Frade (Macrolepiota procera) – Este cogumelo é conhecido por frade, roca, fuso ou chapéusinho. Tem um anel que se move e muitas escamas no chapéu bege, que é muito grande e chega a ter o tamanho de um prato. O pé tem também muitas escamas. Nasce sempre aos pares e encontra-se muito facilmente, normalmente ao pé de pinheiros, em terrenos férteis.

O frade é um cogumelo comestível e o mais conhecido em Portugal. Em Trás-os-Montes, muitas vezes é comido assado nas brasas. É necessário cuidado pois pode confundir-se com o Macrolepiota venenata, tóxico quando ingerido. Neste último, há algumas diferenças, como o facto de o pé não ter escamas e de o anel não se mover.

 

Foto: Rute Rainha Pacheco
Foto: Rute Rainha Pacheco

Boleto (Boletus edulis) – Este é outro cogumelo muito conhecido em Portugal. Tem um pé muito gordo e com chapéu grande e de cor clara, mas acastanhado nas margens. O pé parece ter o rendilhado de uma meia de vidro e quando se abre não oxida.

São cogumelos grandes, que chegam a pesar um quilo, e comestíveis, aproveitando-se tudo. Normalmente ocorrem nas raízes de carvalhos, castanheiros, sobreiros e coníferas. Já o Boletus pinophilus é outro do mesmo género que ocorre ao pé de pinheiros, também comestível.

 

Foto: Andreas Kunze / Wiki Commons
Foto: Andreas Kunze / Wiki Commons

Cantarelos (Cantharellus cibarius) – Também apelidados de rapazinhos, estes cogumelos frutificam tanto no Outono como na Primavera, normalmente por baixo de carvalhos, mas também ao pé de pinheiros.

São amarelos ou alaranjados e pequeninos, com um cheiro doce, apresentando pregas em vez de lâminas por baixo do chapéu. Sendo comestíveis, há quem os cozinhe para compota.

 

Foto: Petitrap / Wiki Commons
Foto: Petitrap / Wiki Commons

Sanchas (Lactatus deliciosus) – Podem observar-se  no Outono. Estes cogumelos são muito conhecidos em Trás-os-Montes e muito apreciados. A margem do chapéu, que pode medir de 5 a 15 cm de diâmetro, é enrolada para baixo. São alaranjados, com algumas zonas mais vermelhas.

Encontram-se por baixo ou ao pé de pinheiros e aparecem sempre em grupos. Oxidam muito facilmente. Se se cortar o pé para cozinhar e deitarem um latex branco ou amarelo, devem-se rejeitar. Se o latex for laranja ou vermelho, são Lactatus sanguinophorus, igualmente comestíveis e muito apreciados.

 

Foto: Rute Rainha Pacheco
Foto: Rute Rainha Pacheco

Língua de vaca (Fistulina hepatica) – Este cogumelo é curioso: parece realmente uma língua de vaca, tal como o nome comum indica, podendo confundir-se também com um fígado. Observa-se nos troncos de castanheiros e carvalhos, em soutos mais antigos, e o chapéu é gelatinoso e pode atingir até 25 centímetros de diâmetro. Não tem pé.

Na zona inferior do baixo do chapéu, este cogumelo tem uma esponja que se retira quando se pretende cozinhar. Pode ainda ser consumido crú, cortado em pequenas fatias.

 

Foto: Selso / Wiki Commons
Foto: Selso / Wiki Commons

Pé-de-cabra (Hydnum repandum) – Os pés-de-cabra aparecem em meses mais frios, já no final do Outono e durante o Inverno. Têm os chapéus de cor branca com tons de beje, que por baixo apresentam uma espécie de agulhinhas, em vez de lâminas. São pequeninos, com cerca de cinco centímetros de diâmetro, e têm a forma de um pezinho – daí o nome comum pelo qual são conhecidos.

Estes cogumelos não são muito fáceis de encontrar, mas os seus locais favoritos são bosques de carvalhos e de pinheiros. São comestíveis mas é necessário retirar as agulhas todas, com uma faca, pois estas são muito amargas.

 

Foto: Rute Rainha Pacheco
Foto: Rute Rainha Pacheco

Cogumelo-dos-césares (Amanita caesarea) – Estes cogumelos parecem quase sempre nascer de um pequeno ovo, conhecido como vulva, de onde sai o pé. A parte de baixo fica como que partida ao meio. Encontram-se em bosques de carvalhos e de castanheiros.

Na altura da Roma Antiga, eram já um manjar muito apreciado pelos imperadores. Todavia, é necessário cuidado, pois podem confundir-se com os Amanita muscaria, que pertencem ao mesmo género.

 

 

Alguns cogumelos tóxicos:

Foto: Rute Rainha Pacheco
Foto: Rute Rainha Pacheco

Cicuta verde (Amanita phalloides) – É provavelmente o cogumelo que mata mais pessoas na Península Ibérica. Confunde-se muito com o Tricholoma equestre, este último mais conhecido por míscaro e igualmente tóxico – mas de uma forma diferente, pois envenena por acumulação. Esta espécie está presente em todos os tipos de bosques.

Quando se apanha deve ver-se a parte de baixo, pois parece nascer de um pequeno ovo (conhecido por vulva), o que o distingue dos míscaros. Pode ser fatal quando é ingerido, especialmente devido aos problemas que causa no fígado e que só se manifestam através de sintomas quando os danos são já irreversíveis.

 

Foto: Rute Rainha Pacheco
Foto: Rute Rainha Pacheco

Amanita mata-moscas (Amanita muscaria) – De chapéu vermelho e com pintinhas brancas, é a espécie que inspira as ilustrações os livros infantis em que se fala de cogumelos.

Também conhecido por rebenta-boi, o Amanita mata-moscas pode causar alucinações a quem o ingere. Provoca também distúrbios alimentares muito abundantes. Encontra-se tanto em pinhais como em bosques de carvalhos.

 

Foto: Jerzy Opiola / Wiki Commons
Foto: Jerzy Opiola / Wiki Commons

Míscaros (Tricholoma equestre) – É o cogumelo utilizado nos festivais de míscaros que se realizam por norma no Outono, tendo vários nomes comuns, incluindo míscaro amarelo e também tortulho. Costuma aparecer em pinhais.

No entanto, em países como Espanha e França a apanha é proibida por lei, pois desde há vários anos que se sabe que é um cogumelo tóxico.

“Não mata de uma vez só, mas sim por acumulação”, explica Rute Pacheco. Em causa está uma doença muscular degenerativa, a rabdomiolise, que surge por vezes apenas passados alguns anos, quando esta espécie é consumida em doses sucessivas.

 

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Quais os cuidados que deve ter na apanha de cogumelos?

Antes de tudo, deve ter certeza sobre as espécies que está a apanhar e limitar a quantidade com base no que pretende consumir. Rute Rainha Pacheco sublinha que nunca se devem arrancar cogumelos, mas sim cortá-los junto ao solo, para deixar os micélios debaixo da terra e assim permitir que não sequem. Para isso, também é útil cobrir a zona na qual se apanhou o cogumelo.

Outro cuidado a ter é utilizar cestos de vime na apanha e não sacos de plástico ou outros recipientes. “Os cogumelos desta forma não se deterioram e vão espalhando os esporos através dos buraquinhos no cesto, enquanto são transportados”, explica.

Se quiser conhecer mais sobre estes fungos, pode também ler as informações que constam deste artigo, sobre uma exposição que se realizou esta semana no Museu Nacional de História Natural e da Ciência.

 

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Série “O que procurar no Outono”

A Wilder celebra o Outono com uma série de trabalhos sobre aquilo que não pode mesmo deixar de ver na natureza. E esta estação traz inúmeras coisas interessantes que podemos ver. Veados, esquilos-vermelhos, florestas douradas, cogumelos, bagas e frutos e libélulas são excelentes desculpas para um passeio no campo. E tudo pode ser mais entusiasmante se soubermos o que procurar e onde.

Aqui ficam os artigos desta série já publicados:

O que procurar no Outono: libélulas

O que procurar no Outono: a brama dos veados

O que procurar no Outono: a fauna nos campos agrícolas florestais

O que procurar no Outono: o esquilo vermelho

O que procurar no Outono: plantas com flores

O que procurar no Outono: cinco bagas que dão cor aos nossos bosques

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.