Quase 500 mil pessoas contaram oito milhões de aves nos jardins do Reino Unido

O desafio foi lançado pelo 38º ano consecutivo. E cerca de 500 mil pessoas por todo o Reino Unido responderam, contando mais de oito milhões de aves que viram nos seus jardins e parques públicos. Conheça aqui os resultados do Big Garden Birdwatch, organizado pela RSPB e divulgados hoje.

 

No último fim-de-semana de Janeiro, 497 mil pessoas agarraram em binóculos e apontaram as espécies de aves que viram para se saber como estão as espécies dos jardins e parques públicos no Reino Unido.

A lista das 10 espécies mais observadas é encabeçada pelo pardal, pelo estorninho e pelo melro. A seguir chegam o chapim-azul, o pombo-torcaz, o pintassilgo, o pisco-de-peito-ruivo, o chapim-real, o tentilhão e, por fim, o chapim-rabilongo.

Segundo a organização Royal Society for Protection of Birds (RSPB), este ano aumentou o número de aves vistas nos jardins britânicos. Como os estorninhos que em 2016 foram vistos em 40% dos jardins, comparado com os 50% deste ano. Outras espécies que também foram mais observadas foram o pintassilgo (regista uma subida de 44% desde 2007), o melro (uma subida de 29%) e o pisco-de-peito-ruivo (22%). Na verdade, o número de piscos-de-peito-ruivo vistos nos jardins e parques públicos registou o nível mais elevado nos últimos 20 anos.

As aves que registaram menos observações em relação ao ano passado são o chapim-azul (menos 11%), o chapim-real (menos 10%) e o chapim-rabilongo (menos 14%). “O número de aves pequenas, como os chapins-azuis e os chapins-reais, é susceptível a alterações no clima ao longo do ano”, explicou em comunicado Daniel Hayhow, investigador na área da conservação da RSPB. “O tempo húmido prolongado durante a época reprodutora de 2016 levou a que menos crias sobrevivessem. Isto significa que menos tenham sido observadas nos jardins.”

O censo de 2017 também mostrou uma explosão no número de visitas de migradores pouco comuns, como as tagarelas-europeias. Estas aves das florestas do Norte da Europa, com poupa e mascarilha preta nos olhos, chegaram este ano ao Reino Unido, fora da sua área de distribuição, num evento conhecido como “irrupção”. Este dá-se de tempos a tempos, normalmente em anos com demasiadas aves e poucas bagas vermelhas, o seu alimento preferido. Quando isto acontece, as aves são obrigadas a descer mais para Sul.

Os resultados do censo revelam que “as tagarelas-europeias foram observadas 11 vezes em mais jardins do que nos últimos dois anos, com observações tão para oeste como o País de Gales e a Irlanda do Norte”, segundo a RSPB. “Bandos destas aves chegaram ao Reino Unido através da costa do Mar do Norte e ter-se-ão espalhado pelo país à procura de alimento. Isto só acontece a cada sete a oito anos e quem os conseguiu ver foi um sortudo”, acrescentou Hayhow.

Além das tagarelas-europeias, os jardins britânicos receberam ainda outras espécies menos comuns, como o tordo-ruivo e o tentilhão-montês. “As temperaturas negativas no continente forçaram as aves a procurar condições mais amenas.”

A RSPB salienta ainda a quantidade de pessoas que participou nas contagens. “Avistar um pisco ou melro empoleirado na vedação do jardim é, muitas vezes, uma das primeiras experiências que temos na natureza”, comentou Hayhow. “Por isso é fantástico ter meio milhão de pessoas a participar e a contar oito milhões de aves em apenas um fim-de-semana.”

Agora, com a informação recolhida, “será possível criar uma imagem de como estão as nossas aves dos jardins”. E para as ajudar os jardins podem contribuir bastante, segundo a organização. “Os resultados deste ano demonstram os efeitos positivos que jardins amigos da natureza estão a ter no comportamento das aves”.

“Os nossos jardins podem tornar-se um recurso valioso para as aves – durante todo o ano, as aves precisam de alimento, água e um sítio seguro para se abrigarem”, disse Claire Thomas, conselheira para a vida selvagem na RSPB. “Se todos fornecermos estas coisas nos nossos espaços ao ar livre, será uma enorme ajuda para estas aves e talvez ajude a reverter alguns declínios.”

Este ano, as escolas também participaram nas contagens, através do RSPB Big Schools Birdwatch, a nível nacional. Cerca de 73.000 alunos passaram uma hora na natureza a contar aves, de 3 de Janeiro a 17 de Fevereiro. Os melros foram as aves que mais observaram no recinto escolar, com 88% das escolas a observar pelo menos um. As outras duas aves mais vistas foram o estorninho e o pombo-torcaz.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.