Registadas 190 espécies selvagens no Campus da Universidade de Aveiro

Cerca de 200 alunos, professores e investigadores da Universidade de Aveiro descobriram em Maio 190 espécies de animais e plantas no âmbito do Campusblitz, iniciativa de registo da biodiversidade.

 

O Campusblitz aconteceu a 3 de Maio e terminou com um registo de 112 espécies de flora, 42 espécies de aves e 4 de répteis e anfíbios. Na semana passada, a iniciativa continuou, dedicada aos insectos. Desta vez foram registadas 32 espécies.

 

 

“O grande objectivo foi construir uma base de trabalho sobre as espécies que existem no campus e levar as pessoas a aprender sobre a biodiversidade de forma lúdica”, explicou Rosa Pinho, investigadora do Departamento de Biologia e responsável pelo Herbário da Universidade de Aveiro, à Wilder. “O campus é muito grande, mas acho que a iniciativa correu bem.”

Nos relvados, lagos, zonas ruderais e de árvores de fruto foram identificadas espécies de aves como o andorinhão-preto, o pintassilgo, cegonha-branca, chapim-azul, pisco-de-peito-ruivo, galeirão, gaio, milhafre-preto, andorinha-do-mar-anã, mergulhão e carriça. Quanto à herpetofauna, foram encontrados um licranço, uma rã-verde, uma lagartixa e uma muda de pele de serpente da família Colubridae.

Os naturalistas registaram ainda 32 espécies de insectos, como escaravelhos, joanhinhas (quatro espécies), besouro, abelha, abelhão, grilo, vespas, borboleta-do-nabo e cigarrinha.

 

Rã-verde

 

Entre as espécies de flora contam-se árvores e arbustos como o amieiro, medronheiro, bétula, freixo, oliveira, choupo-negro, lódão, pilriteiro e plantas como o espargo, malmequer-dos-sapais, margarida-brava, morrião, madressilva e dente-de-leão.

A diversidade de espécies explica-se pelo facto de o Campus da Universidade de Aveiro estar em estreito contato com a Ria de Aveiro e de ter sido construído numa zona que, em tempos, foi o “celeiro da cidade”, com um número considerável de plantas herbáceas.

Este foi o segundo ano em que se fez registo de espécies no Campus da Universidade de Aveiro. “Mas o primeiro ano, em 2016, foi apenas um ensaio, para nos ajudar a perceber o que podemos fazer”, explicou Rosa Pinho.

 

 

Por exemplo, este ano foi pedido aos serviços técnicos que não cortassem os relvados durante algum tempo. “Queríamos conseguir identificar o maior número de plantas possível. Mas como estes relvados são cortados com frequência, não temos forma de conseguir distinguir várias espécies, como as gramíneas. Isto mudou tudo, tanto mais que o número de herbáceas é significativo.”

Para Rosa Pinho, esta medida “reforça a ideia de que alguns destes relvados podiam ser transformados em prados naturais, que atraem mais fauna”.

Os dados recolhidos, das 190 espécies, “servem para sabermos o que temos no Campus e qual a sua evolução ao longo do tempo, a médio e a longo prazo.” Muito importante também, acrescentou, “é saber o que faz falta para aumentar a biodiversidade”, apostando em espécies de plantas que atraiam insectos que, por sua vez, atraem as aves, por exemplo.

 

 

Segundo um comunicado da Universidade, esta instituição pretende, a curto e médio prazo, continuar a  ter mais árvores, “para as gerações vindouras usufruírem dos seus benefícios. Existindo flora, a fauna virá espontaneamente, seja à procura do alimento, do local de repouso ou de nidificação.”

Este Campusblitz está aberto a qualquer pessoa da universidade e de fora. Para Rosa Pinho, a iniciativa deverá continuar para o ano. “Talvez possamos fazer o Campusblitz numa nova área que ainda não trabalhámos.” Na sua opinião, os bioblitz são iniciativas importantes que devem ser feitas. “São momentos únicos em que conseguimos reunir muitas pessoas a varrer uma única área. E quiçá poderão ser descobertas espécies novas.”

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Pode consultar aqui a lista das espécies identificadas (à excepção do grupo dos insectos).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.