Voluntários precisam-se para limpar o Estuário do Sado na Sexta-feira Santa

Para esta Sexta-feira Santa, dia 30 de Março, está marcada uma das maiores acções de limpeza do Estuário do Sado, da campanha “Mariscar Sem Lixo”. São 10 locais a limpar. São precisos 80 voluntários.

 

Ao longo dos últimos dois anos, através de acções mensais, a Ocean Alive, organização sem fins lucrativos, tem promovido a visão “de um estuário do Sado limpo e mantido por todos”. Até agora, esta campanha já organizou 29 acções de limpeza e recolheu mais de 36 toneladas de lixo e 41.069 embalagens de sal vazias. Tudo isto foi conseguido por um total de 2.291 voluntários.

A Campanha “Mariscar SEM Lixo” começou em Março de 2016, na Sexta-feira Santa, por tradição o grande pico anual de afluência de mariscadores no estuário, sítio da Rede Natura 2000 e casa da única população de golfinhos residente no nosso país. O grande objectivo é retirar o lixo marinho do Estuário do Sado, envolvendo a sociedade, e acabar com o mau hábito dos mariscadores do lingueirão e do casulo em deixar as embalagens de sal na maré.

A próxima acção é a 30 de Março. “Neste dia em particular e nos dias seguintes, a afluência de mariscadores ao estuário do Sado é tão grande que num só dia chegam a estar mais de 1.000 mariscadores no estuário”, escreve a Ocean Alive em comunicado. “Este é por isso um dos momentos chave para sensibilizar os mariscadores para não deixarem no mar as embalagens de plástico de sal que usam para mariscar o lingueirão.”

Raquel Gaspar, a coordenadora da iniciativa e da Ocean Alive, disse hoje à Wilder que vão ser limpos 10 locais do Estuário do Sado, dois deles nos baixios do estuário, ou seja, zonas de lodo que ficam cobertas na maré cheia. Há outros que ficam em plena Reserva Natural do Estuário do Sado, como Mitrena, Pousadas e Gambia.

Segundo a responsável, as zonas mais problemáticas quanto ao lixo ficam na margem Sul do estuário. “É a margem Sul que recebe a maior parte do lixo, por causa da Nortada, o regime de ventos dominante.”

Mas na margem Norte há uma zona que causa preocupação, a Gás Limpo. “Nos outros locais onde temos vindo a limpar já notamos a diferença, mas ali não. Tem sempre lixo.”

 

 

O lixo que podemos encontrar no Estuário do Sado vem do rio, tendo origem em toda a bacia do Sado. “Tem origem nos rios e ribeiras afluentes do Sado, mas também das cidades, das estradas, das indústrias, da agricultura, da pesca e mariscagem e da ocupação das praias”, explicou. “Hoje sabe-se que, em média, 80% do lixo no mar vem da terra”, acrescentou.

Para remover este lixo do estuário, a Ocean Alive tem como meta a participação de 80 voluntários, quer para sensibilizar os mariscadores (entre as 07h30 e as 11h00), quer para limpar as margens do estuário (10h30-14h00, dependendo dos locais). As inscrições fecham a 28 de Março às 20h00.

“De momento temos cerca de 30 inscritos. Temos o essencial para cobrir todos os sítios, mas o ideal seria conseguirmos 80 pessoas”, notou Raquel Gaspar.

Os voluntários são uma peça crucial nesta campanha, iniciativa que tem como um dos alvos principais os mariscadores. É durante a maré baixa que centenas de pessoas apanham o lingueirão deitando sal fino para as suas tocas. Como este animal tem uma concha muito sensível às perturbações de salinidade e temperatura, rapidamente emerge à superfície da areia e é apanhado.

No entanto, “uma parte dos mariscadores do lingueirão deixa as embalagens de plástico de sal vazias na beira-mar”, diz a Ocean Alive. Esta estima que cada mariscador profissional utilize cerca de 10 embalagens por maré.

Com o tempo, as embalagens vão-se deteriorar e transformar-se em pequenas partículas de plástico que acumulam poluentes tóxicos e que acabam por ser ingeridas por peixes, mariscos e golfinhos. Estas partículas – que vão persistir durante décadas ou séculos – “poderão ferir, asfixiar, causar úlceras ou a morte de animais marinhos”, salienta a Ocean Alive. Além disso, “parte das embalagens vem dar às praias de Setúbal, Tróia e Arrábida, constituindo também um risco para a saúde pública”.

Para 2018, este projecto prevê outras grandes acções, especialmente em Junho e Julho, e pretende aumentar a rede de mulheres da comunidade piscatória, as Guardiãs do Mar. Um dos maiores desejos é continuar a aumentar o número de agentes locais que apoiam esta campanha, actualmente 43.

 

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Inscrições aqui para ser voluntário a 30 de Março.

Descubra estas cinco espécies na maré baixa em Tróia.

Que espécies tem observado no Estuário do Sado? Para se inspirar, aqui ficam as imagens de um bando de flamingos que estes leitores da Wilder registaram.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Em Agosto de 2017 falámos com Raquel Gaspar, a coordenadora da iniciativa e da cooperativa Ocean Alive, sobre um ano de limpeza no Estuário do Sado. Leia aqui o que foi conseguido até agora.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.