Voluntários retiram 775 quilos de lixo de praia de Tróia

Em quatro quilómetros da costa de Tróia, 29 voluntários recolheram 775 quilos de lixo, como garrafas e garrafões de plástico, esferovites, latas e embalagens de sumos. No sábado dia 17 de Setembro aconteceu a 7ª acção de limpeza da campanha “Mariscar Sem Lixo”, a decorrer desde Março no Estuário do Sado.

 

Esta limpeza realizou-se na costa de Tróia (lado rio) entre o canal da Comporta e o cais dos ferries. Os 29 voluntários, divididos em duas equipas, espalharam-se pela praia e recolheram 775 quilos de lixo, desde garrafas e garrafões de plástico, garrafas de vidro, esferovites (caixas de pescado e de isco), latas de metal e embalagens de sumo.

Ainda assim, esta “é apenas uma pequena parte do lixo que se acumulou ao longo dos anos nesta margem da península de Tróia”, comenta a Ocean Alive, organização responsável pela campanha, em comunicado divulgado ontem.

Os voluntários recolheram também 1.275 embalagens de plástico de sal fino, usadas para apanhar o lingueirão ou peixe-navalha (Solen marginatus). Estas são um problema para o Sado e para a vida marinha se forem deixadas nas areias do estuário. Com o tempo, as embalagens vão-se deteriorar e transformar-se em pequenas partículas de plástico que acumulam poluentes tóxicos e que acabam por ser ingeridas por peixes, mariscos e golfinhos. Estas partículas – que vão persistir durante décadas ou séculos – “poderão ferir, asfixiar, causar úlceras ou a morte de animais marinhos”, salienta a organização. Além disso, “parte das embalagens vem dar às praias de Setúbal, Tróia e Arrábida, constituindo também um risco para a saúde pública”.

A campanha “Mariscar Sem Lixo” está a decorrer desde 25 de Março de 2016 e, até agora, um total de 271 voluntários já recolheram 11.980 embalagens de sal e 4.805 quilos de lixo do Estuário do Sado. O objectivo é a “alteração do mau hábito dos mariscadores do lingueirão e do casulo em deixar as embalagens de sal vazias no estuário”, explica a organização.

A campanha está no terreno em 13 acções mensais de limpeza das margens do estuário. O lixo recolhido é encaminhado pelas autoridades locais para aterros ou reciclado. As embalagens de sal têm um destino diferente: vão ser usadas para criar instalações de sensibilização e colocar em locais públicos, para chamar a atenção para a poluição dos oceanos por plásticos. A Ocean Alive adianta que “a primeira destas instalações será produzida já em Outubro a partir das cerca de 12.000 embalagens de sal recolhidas, sob a orientação da artista Susana António”.

Além do lixo recolhido, os voluntários ajudam também a sensibilizar os mariscadores e a comunidade costeira.

A iniciativa “Mariscar Sem Lixo” insere-se no projecto “Guardiãs do mar”, distinguida em Junho pela Fundação Calouste Gulbenkian com o prémio FAZ – Ideias de Origem Portuguesa. O grande objectivo é envolver as mulheres pescadoras do Sado na protecção das pradarias marinhas do estuário.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.