Foto: Miguel Dantas da Gama

Dias com Vida Selvagem: Lagoas de Bertiandos, onde passadiços fazem sentido

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Numa manhã amena deste início de verão quebrei a «rotina» da montanha para dar descanso às pernas, num breve passeio por relevo plano. Rodeado por outras serras do Noroeste de Portugal, a Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e de S. Pedro de Arcas merece uma visita.

Trata-se de uma interessante zona húmida onde, em depressões naturais, se formaram lagoas alimentadas pela água da chuva e pelo consequente aumento do lençol freático. Nomeadamente na bacia hidrográfica do rio Estorãos fluem vários ribeiros de caudal variável geradores de corpos de águas sazonais. Canais de regadio transportam água no verão e no inverno a subida do nível dos rios faz crescer as lagoas. 

Foto: Miguel Dantas da Gama

No miolo do espaço classificado prevalece o característico ambiente húmido das lagoas e dos bosques higrófilos que elas propiciam. Mas em qualquer dos percursos sugeridos, a diversidade de biótopos é maior. Áreas de pastagens e pinhais envolvem a zona alagada gerando diversidade de paisagens e encontros diversos para quem acorre ao local à procura de fauna selvagem, principalmente de aves. Para as que vivem com a água, Bertiandos é um refúgio importante no Inverno.

De entre os vários trilhos sinalizados e para os quais existem «flyers» de apoio, escolhi o denominado Percurso da Água. É um trajecto circular de 12,5 km com início no Centro Interpretativo Ambiental, ideal para se obter alguma informação adicional.

Os motivos de interesse que justificam a caminhada são diversos. Para além do mais óbvio, as lagoas, satisfazem igualmente os troços em que se atravessam ribeiros imersos em galerias ripícolas onde coexistem amieiros, salgueiros e freixos e outros em que se apreciam bosquetes de carvalho-alvarinho e azevinho ou pequenos vidoais.

Contrastando com estes espaços de vegetação densa, pequenos aglomerados de construções rurais e campos de cultivo a eles associados são percorridos nos troços abertos, dos quais nos é permitido avistar as encostas íngremes e pedregosas da vizinha e imponente serra D’Arga. O percurso passa pela Quinta de Pentieiros, uma infraestrutura dotada de equipamento de lazer e de uma quinta pedagógica, pelo grandioso Solar de Bertiandos, um ex-libris das casas senhoriais do Alto-Minho valorizado pela alameda de carvalhos que o une ao rio, e por construções diversas, como pontes, uma azenha ou a Estátua das Quatro Mãos, que evoca as freguesias abrangidas por este espaço natural do concelho de Ponte do Lima.

Foto: Miguel Dantas da Gama

O percurso é feito em perfis diversos. Trilhos de pé posto, estradas municipais alcatroadas, caminhos rurais empedrados. E passadiços, essas infraestruturas que, pelas piores razões, andam nas bocas do mundo. Mas aqui parecem fazer sentido. Destes, não se fala, porque são apenas um meio que melhor permite o alcance dos objectivos para que foi criado o espaço classificado e não o fim para que são atraídos os visitantes. São importantes para alcançar os terrenos intermitentemente inundados em torno das lagoas. Deles os visitantes não podem sair e os animais sabem disso, sentindo-se mais protegidos.

terreno plano cultivado
Foto: Miguel Dantas da Gama

Gostei particularmente da Lagoa do Mimoso. Rodeada por uma vegetação luxuriante, aprecia-se de um discreto observatório construído no próprio passadiço. É um dos locais de onde, com sorte e em época mais propícia, se podem avistar as aves dependentes das manchas de água. Garças-reais, frangas-d’água, galinhas-d´água, fuínhas-dos-juncos, mergulhões-pequenos, guarda-rios, rouxinóis-bravos e rouxinóis-dos-caniços destacam-se por isso das cerca de oitentas aves recenseadas. 

Fotos: Miguel Dantas da Gama

O corço, a lontra e a gineta estão presentes e evidenciam-se no conjunto dos mamíferos, constituído por muitas outras espécies mais vulgares, como o javali e a raposa. Entre os répteis assinala-se a presença das duas cobras de água, a de colar e a viperina. A truta-do-rio é uma das inúmeras espécies dos peixes que povoam esta importante zona húmida do norte do país.