Ilustração: Helena Geraldes (Aguarela)

As 15 aves que vai gostar de observar neste Inverno

Todos os anos, largos milhares de aves chegam a Portugal para passar os meses mais frios, vindas do Norte da Europa. Mas são tantas as espécies que pode ser difícil escolher por onde começar. Gonçalo Elias, responsável pelo portal Aves de Portugal, escolheu estas 15 aves que tem mesmo de ver antes de se irem embora.

 

Aves aquáticas:

Ganso-bravo (Anser anser): um dos melhores locais para procurar gansos-bravos é o Estuário do Tejo onde, segundo os autores do livro “Aves de Portugal – ornitologia do território continental”, se concentram centenas ou mesmo milhares de indivíduos. Estes gansos viajam da Noruega, Suécia, Dinamarca e Alemanha para Portugal para se alimentar de raízes e folhas de plantas aquáticas e para descansar, mais concretamente nos sapais, lamas entre-marés e nas lezírias. O principal fluxo de chegada ocorre em Dezembro. A maior parte sai de Portugal no fim de Fevereiro.

Merganso-de-poupa (Mergus serrator): para observar estas aves o melhor a fazer é ir até ao Estuário do Sado. Mas também é possível encontrá-la nos estuários do Minho e Tejo, Lagoa de Albufeira e Ria Formosa, segundo aquele mesmo livro. É em Janeiro que chegam a Portugal mais mergansos-de-poupa. A ave alimenta-se de peixes e, quando os detecta, mergulha e captura-os debaixo de água. Estes são dos patos mais velozes, podendo atingir 128 quilómetros/hora.

Ostraceiro (Haematopus ostralegus): também conhecidos como pega-do-mar ou passa-rios, estas aves pretas e brancas e de bico e patas laranja são quase sempre encontradas no litoral, vindas da Islândia, Holanda, Alemanha, Escandinávia e Ilhas Britânicas. Alimentam-se de bivalves e conseguem abrir conchas que outras aves não conseguem, graças aos seus bicos especialmente fortes e achatados. Segundo o “Aves de Portugal”, as maiores concentrações invernais registam-se na Ria Formosa. A maioria dos ostraceiros começam a partir de Portugal em Março. Esta é uma espécie que se extinguiu como nidificante em Portugal, havendo relatos de nidificação no Estuário do Sado na década de 1930.

Pilrito-das-praias (Calidris alba): estas pequenas aves, brancas e acinzentadas, são presença comum nas praias portuguesas. São fáceis de ver em bandos, a correr junto à zona da rebentação, onde procuram pequenos invertebrados enterrados na areia, ou a sobrevoar o mar junto à costa. Mas é no Inverno que o litoral se enche de pilritos-das-praias, vindos do Ártico Siberiano ou da Gronelândia. Esta é a única ave costeira que tem apenas três dedos em cada pata (todas as outras têm quatro), uma adaptação para correr mais depressa na areia.

Garajau-Grande ou Gaivina-de-bico-vermelho (Hydroprogne caspia): é durante o Inverno que poderá ver as maiores concentrações desta ave, especialmente no Algarve. As aves, que chegam do mar Báltico, têm um tamanho semelhante ao de uma gaivota e são a maior andorinha-do-mar do mundo. Uma das suas principais características é o barrete preto, que contrasta com as penas brancas. Estas aves alimentam-se de peixes, invertebrados aquáticos, insectos, minhocas e, por vezes, de ovos e crias de outras aves.

 

Grandes aves terrestres:

Milhafre-real (Milvus milvus): esta ave de rapina de médio porte tem uma pequena população nidificante, mas é sobretudo invernante. Os picos de chegada acontecem entre Outubro e Novembro, com origem da Europa Central e do Norte, e as partidas em Fevereiro. É nesta estação do ano que se registam as maiores concentrações de milhafres-reais, especialmente junto a fontes de alimento e em dormitórios.

Esmerilhão (Falco columbarius): o esmerilhão é o falcão mais pequeno que ocorre em Portugal. É um invernante raro no nosso país, vindo do Norte da Europa, mas os melhores meses para procurá-lo são de Novembro a Fevereiro. Estas aves são predadores energéticos e destemidos, que patrulham as zonas costeiras e campos abertos à procura das suas presas, especialmente aves pequenas como cotovias e estorninhos. Normalmente costumam partir no final de Março.

Grou-comum (Grus grus): a chegada dos grous anuncia o Inverno. É nos campos e montados alentejanos que esta ave elegante decide passar os meses mais frios, formando grandes bandos. Os machos podem chegar a pesar seis quilos; a envergadura da asa pode chegar aos dois metros. Os bandos de grous em voo para os seus dormitórios são um dos espectáculos mais extraordinários durante o Inverno no Alentejo, especialmente em Castro Verde, Campo Maior, Moura e Mourão.

 

Grou-comum
Grou-comum

 

Abibe (Vanellus vanellus): a poupa, os tons esverdeados das penas e as vocalizações fazem do abibe uma ave incontornável. Esta ave invernante, especialmente comum na metade Sul de Portugal, pode ser observada em zonas abertas, como pastagens, pousios e terrenos incultos. Segundo o “Aves de Portugal”, esta é a espécie limícola mais numerosa das que ocorrem no país. É em Novembro que se regista o maior número destas aves. A sua partida faz-se no final de Janeiro e Fevereiro.

 

Coruja-do-nabal (Asio flammeus): o Estuário do Sado será a melhor opção para procurar esta coruja. Em Portugal esta é uma ave invernante, que pode ser observada entre Outubro e Março nas zonas húmidas como caniçais, sapais, arrozais ou salinas. Mais uma vez, a maior abundância da espécie no nosso país acontece no final do Outono e Inverno. Alimenta-se de pequenos roedores e de insectos.

 

Passeriformes:

Ferreirinha-alpina (Prunella collaris): esta é uma pequena ave de ocorrência rara em Portugal. Mas sabe-se que costuma passar o Inverno na região da Serra de Sintra, Peneda-Gerês, Serra da Estrela, Portas de Ródão e no Castelo de Marvão, segundo os autores do livro “Aves de Portugal”. A Ferreirinha-alpina é observada em pequenos grupos ou isoladamente entre finais de Outubro e finais de Março. Alimenta-se de insectos e de sementes.

Pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica): as principais zonas de invernada desta pequena ave (pesam entre 12 e 35 gramas) são o Estuário do Tejo, o Estuário do Sado e a Ria Formosa. Até Março, poderá partir à procura desta ave, famosa pelo peito azul dos machos. “A observação de um pisco-de-peito-azul pousado sobre um tronco ou um tufo de sapal tem o dom de animar qualquer sessão de observação num dia frio de Inverno”, segundo o portal Aves de Portugal. Ainda assim, é preciso ter perseverança, uma vez que este pisco passa muito do seu tempo escondido entre a vegetação, à procura de moscas, formigas, escaravelhos e aranhas.

Tordo-ruivo (Turdus iliacus): pode encontrar esta ave em bosques, vinhas, pastagens e até em parques a partir de Outubro. A maior parte dos tordos-ruivos chega em Novembro – vinda da Rússia, Islândia ou Escócia – e parte em Fevereiro. Durante a sua estadia em Portugal, estas aves alimentam-se de azeitonas, outros frutos e de invertebrados. Esta ave, o mais pequeno tordo que ocorre em Portugal, é das mais abatidas pelos caçadores.

Chapim-de-faces-pretas (Remiz pendulinus): cabeça branca e mascarilha preta são duas coisas a procurar para identificar esta ave que gosta da vegetação densa das zonas húmidas, especialmente caniços ou tabuas, e de tamargueiras e salgueiros. Estes chapins começam a chegar a Portugal em Outubro – aproveitando para se alimentarem de sementes, aranhas e larvas de insectos – e partem no final de Março.

Lugre ou pintassilgo-verde (Carduelis spinus): se procurar zonas com amieiros e vidoeiros, pode ser que encontre o lugre, uma vez que as sementes destas árvores fazem as delícias deste visitante de Inverno. Estas aves de plumagem preta e amarela começam a chegar do Norte da Europa em Outubro e ficam cá até Fevereiro ou Março.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

E por que não registar as suas espécies neste site de observação de aves e partilhar o que tem visto?

Aproveite também as suas observações para ajudar a melhorar o conhecimento que temos sobre as espécies. Conheça aqui os censos onde pode participar neste Inverno.

E se for para a região de Lisboa, esta é uma preciosa ajuda. Este guia online ajuda-o a identificar mais de 140 espécies.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.