Aves do mês: o que ver em Junho

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Cinco aves a não perder em Junho, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer este mês, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.

Este é o quarto texto da série “Aves do Mês”. Em cada mês, apresentamos cinco espécies de aves que ocorrem em Portugal e que poderá observar este mês. Estas são as cinco espécies que lhe propomos para procurar em Junho.

Andorinha-dos-beirais (Delichon urbicum):

Andorinha-dos-beirais. Foto: José Frade

O que está a fazer em Junho: Tal como acontece com a generalidade das aves, esta andorinha nidifica na Primavera. A sua nidificação não foi muito estudada em Portugal, contudo sabe-se que no resto da Europa a espécie pode realizar duas posturas. Dado que muitas aves começam a ocupar os ninhos em Março, é de crer que as aves da primeira ninhada já tenham voado e que muitos adultos estejam agora a tratar da segunda ‘fornada’.

A andorinha-dos-beirais é de pequena dimensão. A sua plumagem é essencialmente preta por cima, destacando-se o uropígio branco, que é bem visível em voo, e branca por baixo. A cauda é curta e levemente bifurcada.

Esta pequena ave é comum em zonas habitadas, fazendo os seus ninhos em todo o tipo de construções, desde casas, igrejas e tribunais, até pontes ou depósitos de água. É uma espécie colonial e não é raro encontrar colónias com dezenas ou mesmo centenas de ninhos. Estes são feitos de lama e têm um formato semi-esférico, com uma pequena abertura que dá acesso à câmara.

Apesar de a chegada das andorinhas ser tradicionalmente associada à Primavera, a realidade é que esta espécie é um dos primeiros migradores a chegar ao nosso país, podendo ver-se logo a partir de Janeiro no sul e em Fevereiro mais a norte. Durante o mês de Junho pode observar-se em todo o território nacional, geralmente em frenética actividade junto aos ninhos. À semelhança das outras andorinhas, esta espécie alimenta-se de insectos, que captura em voo. 

Onde ver: vilas e aldeias de norte a sul do país.

Toutinegra-de-barrete (Sylvia atricapilla):

Toutinegra-de-barrete. Foto: José Frade

O que está a fazer em Junho: A toutinegra-de-barrete pode ser ouvida a cantar durante toda a Primavera e até mesmo no início do Verão. Assim, ao longo do mês de Junho não é raro ouvir o seu canto melodioso, seja em parques urbanos, seja em matas ribeirinhas ou bosques de folhosas, um pouco por todo o país.

A toutinegra-de-barrete é uma das aves residentes mais frequentes em Portugal. A plumagem é essencialmente acinzentada, mas destaca-se o barrete de cor diferente – este é preto no macho e castanho na fêmea e nos juvenis. O bico é fino, como é próprio das aves insectívoras.

Como é habitual entre as toutinegras, esta espécie mostra-se pouco e passa muito tempo escondida por entre folhagem densa. No entanto, o seu canto alegre denuncia a sua presença. A espécie é bastante comum no nosso país e aprecia parques e jardins, pelo que é fácil de encontrar em meio urbano, nomeadamente onde existam árvores frondosas de folha larga. Com um pouco de paciência, é geralmente possível vê-la a espreitar por entre os ramos.

Refira-se que esta espécie ocorre não apenas no continente como também nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, ocorrendo em todas as ilhas habitadas de ambos os arquipélagos.

Onde ver: Parque da Cidade (Porto), Choupal (Coimbra), Jardim da Fundação Gulbenkian (Lisboa).

Grifo (Gyps fylvus):

Grifo. Foto: José Frade

O que está a fazer em Junho: O grifo tem uma época de nidificação muito longa, que se estende por cerca de seis meses. As posturas acontecem no primeiro trimestre do ano e assim quando chegamos a Junho os juvenis já estão relativamente crescidos e prontos para abandonar o ninho, no seu primeiro voo.

O grifo é o mais comum dos abutres portugueses. Trata-se de uma grande ave planadora, que mede mais de dois metros de envergadura. Caracteriza-se por uma plumagem predominantemente castanha, com as penas de voo mais escuras. O pescoço é cinzento e encontra-se despido de penas. O bico é espesso, próprio para desfazer as carcaças que lhe servem de alimento.

Esta espécie aparece principalmente na metade interior do território nacional, sendo mais numerosa em Trás-os-Montes, na Beira Baixa e no Alentejo. Ocasionalmente surge em sítios mais próximos do litoral, em especial no período outonal.

Nidifica colonialmente e por isso não é raro ver colónias com algumas dezenas de casais. Os ninhos situam-se em escarpas rochosas, geralmente em locais de difícil acesso. Por serem aves planadoras, é sobretudo a partir do meio da manhã que os grifos levantam voo, tirando partido das correntes ascendentes (vulgarmente denominadas ‘térmicas’), partindo então em busca de alimento.

Onde ver: Douro Internacional, Portas de Ródão, fronteira de Galegos (Marvão).

Garça-vermelha (Ardea purpurea):

Garça-vermelha. Foto: José Frade

O que está a fazer em Junho: As garças-vermelhas são migradoras e chegam ao nosso território em Março; a maioria faz as posturas durante o mês de Abril. Em Junho os juvenis já nasceram e a maioria abandona o ninho durante este mês.

Esta garça de grande dimensão é parecida com a garça-real, distinguindo-se desta espécie pelos tons ruivos da plumagem, tanto na cabeça e no pescoço como no corpo e nas asas. O pescoço é longo mas, tal como acontece com as outras garças, é recolhido durante o voo.

A garça-vermelha gosta de zonas com vegetação densa, particularmente caniçais e tabuais, que existem nos grandes estuários, nas lagoas costeiras e nos principais pauis. Podemos encontrá-la principalmente na metade litoral do território, onde estão as manchas mais importantes de habitat favorável. É uma espécie migradora, que está presente no nosso país de Março a Setembro.

O seu ninho é construído no meio destas formações vegetais, geralmente em locais alagados, o que tem a vantagem de tornar a sua detecção mais difícil a partir do exterior, além de o colocar a salvo de predadores terrestres.

Onde ver: ria de Aveiro, lezíria grande de Vila Franca de Xira, lagoa de Santo André.

Noitibó-europeu (Caprimulgus europaeus):

Noitibó-europeu. Foto: José Frade

O que está a fazer em Junho: A reprodução do noitibó-europeu não está muito bem estudada em Portugal, mas sabe-se que estas aves chegam geralmente em finais de Abril ou princípios de Maio. Durante o mês de Junho muitos ninhos deverão ter ovos e alguns poderão até já ter crias. Certo é que o seu canto crepuscular pode ser ouvido ao longo de todo o mês.

O noitibó-europeu é uma ave insectívora de hábitos crepusculares e nocturnos, que nos visita durante a Primavera e o Verão para se reproduzir. Caracteriza-se pela plumagem essencialmente cinzenta, com um pequeno bigode branco e, no caso do macho, duas manchas alares brancas, visíveis em voo. Não se confunde com outras aves, a não ser com o noitibó-de-nuca-vermelha, que é frequente no sul do país.

O noitibó-europeu ocorre essencialmente a norte do rio Tejo, embora apareça pontualmente mais a sul. Em termos de habitat, prefere zonas com mato e algumas árvores. Parece gostar de zonas serranas, embora também apareça em planície.

Durante o dia, estas aves permanecem imóveis, pousadas no solo ou num ramo de árvore. Quando escurece, saem para caçar e é nessa altura que fazem ouvir o seu canto crepuscular: “rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr”, que faz lembrar um insecto ou um motor distante. Assim, a melhor altura para detectar o noitibó-europeu ocorre cerca de 45 a 60 minutos depois do pôr-do-sol, quando já se ouve o seu canto e ainda há alguma luz natural. Durante a noite, não é raro encontrar uma destas aves pousada na estrada ou num caminho de terra.

Onde ver: serra do Gerês, serra da Estrela, Herdade de Pancas (estuário do Tejo).


Agora é a sua vez.

Parta à descoberta destas espécies e envie as suas fotografias, com a data e a localidade, para o email [email protected]. No final do mês publicaremos uma galeria com as suas imagens e descobertas!