Foto: José Frade

Aves do mês: o que ver em Maio

Cinco aves a não perder em Maio, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer este mês, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.

Este é o terceiro texto da série “Aves do Mês”. Em cada mês, apresentamos cinco espécies de aves que ocorrem em Portugal e que poderá observar este mês. Estas são as cinco espécies que lhe propomos para procurar em Maio.

Abelharuco (Merops apiaster):

Abelharuco. Foto: José Frade

O que está a fazer em Maio: Os abelharucos chegaram no final de Março e no início de Abril; a maioria das posturas dá-se no final de Abril e no início de Maio e por isso, ao longo deste mês, muitas aves estarão a incubar, encontrando-se no interior das tocas que lhes servem de ninho. Enquanto isso, os respectivos parceiros dedicam-se a procurar alimento.

É uma das aves mais coloridas da nossa fauna. Contudo, apesar do seu aspecto exótico, o abelharuco é uma ave autóctone. A plumagem é multicolor, sendo composta por um misto de tons vermelhos, amarelos, azuis e pretos.

Esta espécie distribui-se pelas chamadas zonas de influência mediterrânica, podendo ser vista no Interior Norte e Centro e em toda a região Sul, mas está ausente das regiões com maior influência atlântica, que abrangem o litoral a norte do rio Tejo. Trata-se de uma espécie migradora, que nos visita na Primavera para se reproduzir. Os seus ninhos são escavados em barreiras de terra ou mesmo no solo.

A alimentação é composta por insectos, com destaque para os himenópteros (abelhas e vespas); por este motivo, os abelharucos não são muito apreciados pelos apicultores.

Onde ver: é no Interior alentejano que esta espécie é mais abundante, sendo fácil de encontrar nas zonas de Elvas ou Mértola; também pode ser visto no litoral do Algarve.

Melro-preto (Turdus merula):

Melro-preto. Foto: José Frade

O que está a fazer em Maio: O canto do melro-preto pode ouvir-se ao longo de toda a Primavera, muitas vezes logo de madrugada, antes de o Sol nascer. Por esta altura, os primeiros juvenis já deverão ter saído do ninho e aventuram-se no mundo exterior, sendo ainda alimentados pelos pais durante as primeiras semanas.

De tamanho médio, o melro-preto, ou simplesmente melro, caracteriza-se pela sua plumagem escura – esta é preta no macho e castanha ou acinzentada na fêmea. Os juvenis apresentam-se sarapintados, sendo as pintas de cor bege. O bico é de um tom amarelo-torrado, que é mais vivo no macho. O melro pode confundir-se com o estorninho-preto, que também tem a plumagem preta e o bico amarelo, mas esta espécie distingue-se pela cauda mais curta e pela plumagem brilhante, ao passo que a do melro é mais baça.

O melro é uma espécie muito comum em todo o território nacional, incluindo os arquipélagos dos Açores e da Madeira. O seu comportamento varia consoante os locais: em meio urbano pode ser muito confiante e fácil de observar, mas nas zonas rurais torna-se mais desconfiado e não permite grandes aproximações.

Assim, os melhores locais para observar o melro-preto são precisamente as zonas urbanas. A espécie é geralmente fácil de ver em parques e jardins, saltitando nos relvados enquanto procura minhocas e outros invertebrados que lhe servem de alimento.

Onde ver: em qualquer parque ou jardim urbano, de preferência com árvores e zonas ajardinadas.

Cartaxo-comum (Saxicola rubicola):

Cartaxo-comum. Foto: José Frade

O que está a fazer em Maio: O cartaxo nidifica muito cedo, começando ainda em pleno Inverno, sendo possível encontrar juvenis voadores a partir do meio de Março, em especial no Sul. No Norte a reprodução acontece um pouco mais tarde, mas durante o mês de Maio também já deverá ser possível encontrar juvenis do ano.

O pequeno cartaxo é uma ave insectívora de dimensões reduzidas. O macho caracteriza-se pela cabeça preta, pelo colar branco incompleto e pelo peito de tom vermelho alaranjado. A fêmea é parecida, mas menos contrastada e com tonalidades mais acastanhadas.

Esta espécie pousa geralmente em locais visíveis, sendo frequente vê-la no topo de árvores, arbustos ou postes de vedações, assim como em cabos aéreos e até em ruínas. Com alguma frequência é possível ver um macho e uma fêmea pousados no mesmo fio, a poucos metros um do outro.

Comum e bem distribuído por todo o território nacional, o cartaxo é uma das aves mais fáceis de encontrar por qualquer pessoa que comece a ver aves. Esta espécie aparece principalmente no “campo”, evitando as zonas densamente urbanizadas e florestas muito densas.

Onde ver: qualquer terreno aberto em planície ou em zonas serranas, preferencialmente em zonas agrícolas ou com algum mato.

Pernilongo (Himantopus himantopus):

Pernilongo. Foto: José Frade

O que está a fazer em Maio: Muitos pernilongos iniciaram a sua reprodução em Abril, realizando as suas posturas nesse mês. Em Maio dá-se a eclosão das crias – estas são nidífugas, o que significa que podem abandonar o ninho logo que saem do ovo. Se por acaso visitar uma zona frequentada por pernilongos, caminhe com cuidado para não pisar nenhuma cria!

O pernilongo pertence ao grupo das chamadas aves limícolas. É uma espécie fácil de identificar: tem a plumagem preta e branca e um bico fino e comprido. Contudo, a característica que mais se destaca são as longas patas rosadas, sendo este aspecto que está na origem do seu nome português. Em espanhol esta espécie é conhecida como “cigueñela”, uma designação que significa “pequena cegonha” e alude ao facto de o pernilongo parecer uma cegonha em miniatura.

Tal como a generalidade das limícolas, o pernilongo nidifica no solo. Não constrói um ninho, em vez disso deposita os seus ovos numa pequena depressão no solo, geralmente em cômoros de salinas ou nas margens de alguma lagoa ou açude.

Pode ver-se um pouco por todo o país, embora seja relativamente raro a norte do Douro. É mais comum no Litoral, com as maiores concentrações a ocorrerem nos principais estuários, em especial naqueles que têm complexos salineiros. 

Onde ver: salinas da Ilha da Morraceira (Figueira da Foz), salinas do Samouco (Alcochete), salinas de Tavira.

Cotovia-de-poupa (Galerida cristata):

Cotovia-de-poupa. Foto: José Frade

O que está a fazer em Maio: Estas cotovias estão agora em plena época de reprodução e os machos passam uma grande parte do dia a cantar. O canto pode ser emitido em voo ou então a partir do solo ou de um poiso. Entretanto, tanto o macho como a fêmea têm de cuidar das crias, que por esta altura já deverão ter nascido.

A família das cotovias compreende um conjunto de aves de plumagem acastanhada e cuja identificação nem sempre é fácil. Neste grupo de aves é importante estarmos atentos aos detalhes. A cotovia-de-poupa, como o nome indica, ostenta uma pequena poupa no alto da cabeça, que confere à ave um aspecto bastante gracioso. Esta característica permite distingui-la da maioria das outras cotovias, excepto da cotovia-montesina, mas esta última espécie tem a plumagem mais escura, é um pouco mais pequena e ocorre principalmente no interior do país.

A cotovia-de-poupa é uma ave de áreas abertas, em especial zonas com erva curta, terrenos lavrados ou incultos e sistemas dunares. Passa grande parte do tempo no solo, onde procura o seu alimento, e é também no solo que constrói o seu ninho. Contudo, e tal como sucede com a maioria dos membros da família, o seu canto é frequentemente emitido em voo.

Esta espécie distribui-se um pouco por todo o país, mas é mais comum nas terras baixas do Litoral que nas zonas serranas.

Onde ver: Lezíria Grande de Vila Franca de Xira, campos de Elvas, zonas dunares do Algarve.


Agora é a sua vez.

Parta à descoberta destas espécies e envie as suas fotografias, com a data e a localidade, para o email [email protected]. No final do mês publicaremos uma galeria com as suas imagens e descobertas!