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Aves do Mês: o que ver em Março

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Cinco aves a não perder em Março, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer este mês, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.

Este é o primeiro artigo da série “Aves do Mês”. Em cada texto desta série iremos apresentar-lhe cinco espécies da avifauna portuguesa que poderá observar no mês da publicação, explicaremos o que estão a fazer este mês e dar-lhe-emos algumas dicas sobre como as poderá observar.

O desafio que lhe deixamos é assim o de tentar encontrar e observar cada uma dessas espécies. Todos os meses surgirá um novo desafio e assim, aos poucos, ficará a conhecer melhor as diversas espécies de aves que fazem parte da nossa vida selvagem!

Para cada uma das espécies seleccionadas são sugeridos alguns locais onde a espécie pode ser vista com facilidade, embora haja muitos outros sítios onde é possível observá-las.

Eis cinco espécies que pode ver este mês:

Pato-real (Anas platyrhynchos):

Pato-real (Anas platyrhynchos). Foto: José Frade

O que está a fazer em Março: Nesta altura do ano os patos-reais já andam, muitas vezes, aos casais, sendo frequente observar o macho e a fêmea a nadar ou a voar juntos. Alguns até já deram início às posturas.

O pato-real é o mais comum dos patos portugueses e é também um dos mais fáceis de identificar. O macho é bastante colorido, pois tem uma cabeça verde escura, um colar branco, o peito castanho e o corpo cinzento. O bico é amarelo. Já a fêmea é mais acastanhada e, por isso, menos vistosa.

Este pato pode ser visto um pouco por todo o lado: onde quer que haja água, facilmente aparece. Prefere locais com água doce. Os melhores sítios para o ver são os pauis, as lagoas costeiras, as pequenas charcas, algumas albufeiras e margens de rios.

Também aparece em lagos urbanos, mas atenção: muitas vezes os patos que aparecem nestes ambientes são aves domésticas, muito confiantes e que toleram bem a presença de pessoas. Muitas destas aves domésticas pertencem a raças diferentes e apresentam a plumagem alterada, por exemplo com manchas brancas no peito.

Onde ver: Parque da Cidade (Porto), Jardim da Fundação Gulbenkian (Lisboa), Lagoa de Albufeira (Sesimbra)

Cegonha-branca (Ciconia ciconia):

Cegonha-branca (Ciconia ciconia). Foto: José Frade

O que está a fazer em Março: As cegonhas regressam bastante cedo aos seus territórios e em Março os ninhos já estão quase todos ocupados. Durante este mês poderá ver sobretudo os membros do casal a ‘namorar’ no ninho, mas no próximo mês verá que um dos progenitores passará a maior parte do tempo no choco, isto é, a incubar os ovos. E a partir de Maio já será possível ver as crias.

A cegonha-branca é uma ave fácil de ver e de identificar. É fácil de ver porque é grande e se mostra muito, uma vez que tende a pousar em locais muito expostos. E é fácil de identificar porque tem uma plumagem contrastada, assim como um bico vermelho bem visível e patas vermelhas igualmente longas. É, pois, uma espécie que não se confunde.

Os seus ninhos estão geralmente construídos bem à vista, em cima de árvores, postes ou edifícios. Às vezes aparecem alguns em sítios mais originais, como por exemplo em pontes, pórticos de auto-estradas ou grades com botijas de gás!

Ao longo dos últimos 50 anos a cegonha-branca expandiu-se muito no nosso país e actualmente está presente em quase todo o território. É mais abundante no Alentejo e em certas zonas do litoral centro, mas é possível encontrá-la em muitas outras regiões. O único distrito onde não se conhece a nidificação da cegonha-branca é o de Viseu, mas quem sabe se um destes dias não aparece um casal a nidificar neste distrito também? Se por acaso reside nesta região e sabe de algum ninho, diga-nos, pois gostaríamos muito de saber!

Onde ver: Salreu (Estarreja), Lezíria Grande de Vila Franca de Xira, Estrada Nacional 123 entre Castro Verde e Mértola

Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica):

Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica). Foto: José Frade

O que está a fazer em Março: Diz-se que as andorinhas chegam com a Primavera. Bem, na verdade as primeiras aparecem mais cedo. Todos os anos podem ser vistas algumas logo a partir de Janeiro, no sul do país e a partir de Fevereiro, mais a norte. Uma coisa é certa: em Março, já estão ‘por todo o lado’.

São várias as espécies de andorinhas que nos visitam. Hoje apresentamos uma das mais comuns: trata-se da andorinha-das-chaminés. Esta é uma ave elegante, com umas asas longas e uma cauda muito longa e bifurcada. A plumagem é azul-metalizada por cima e clara por baixo, tendo ainda uma mancha vermelho-escura na zona da garganta.

Esta andorinha pode ver-se em todo o país, tanto em meio urbano como em zonas rurais. O seu ninho tem a forma de uma meia taça, feita de lama.

Durante o dia estas aves podem ser vistas a fazer os seus voos rápidos, muitas vezes perto de habitações, enquanto procuram os insectos de que se alimentam. Outras vezes estão pousadas em cabos aéreos, sendo esta a melhor altura para conseguir ver os detalhes da plumagem.

Onde ver: em qualquer aldeia

Trigueirão (Emberiza calandra):

Trigueirão (Emberiza calandra). Foto: José Frade

O que está a fazer em Março: A partir deste mês, e durante toda a Primavera, o canto monótono do trigueirão enche os nossos campos. Numa visita às planícies alentejanas, é quase impossível não sermos brindados com o som de um macho a cantar. E uma vez aprendido, este canto já não se esquece e não se confunde!

Esta pequena ave castanha, ligeiramente maior que um pardal, pode não ser muito fácil de identificar à primeira vista: não tem cores vivas nem marcas particulares, é um pássaro castanho com um padrão riscado, bico grosso e patas alaranjadas.

O trigueirão pode ver-se se norte a sul do país, embora seja relativamente escasso no litoral norte e centro. É uma ave característica das planícies do interior, podendo ser localmente abundante. Pousa frequentemente em locais expostos, a partir de onde emite o seu característico canto. E é exactamente o seu canto que torna a identificação mais fácil: este é composto por uma sequência de notas secas, que começam espaçadas e depois vão acelerando até se confundirem.

Para tentar ver um trigueirão, a melhor forma será percorrer estradas rurais em zonas relativamente planas e com poucas árvores e ir prospectando postes, vedações e cabos para ver se lá está algum trigueirão a cantar.

Onde ver: campina de Idanha-a-Nova, planície de Évora, planície de Castro Verde

Chapim-real (Parus major):

Chapim-real (Parus major). Foto: José Frade

O que está a fazer em Março: Com a Primavera a aproximar-se, o chapim-real está empenhado em defender o seu território e é precisamente neste mês, em que a época dos ninhos está a arrancar, que o canto do chapim real mais se faz ouvir.

O chapim-real é um pequeno passeriforme insectívoro que é bastante comum no nosso país. Trata-se de uma ave bastante colorida: a cabeça é preta com as faces brancas, as partes inferiores são amarelas, mas com uma grossa risca central e as partes superiores são esverdeadas.

Esta é uma ave arborícola, o que significa que vive nas árvores. Não constrói um ninho em forma de taça, em vez disso nidifica em buracos de árvores e também pode ocupar caixas-ninho. Frequenta todo o tipo de bosques e também pode ser visto em parques e jardins.

“Chapim” é uma onomatopeia que faz referência ao canto repetido desta espécie: “cha-pim-cha-pim-cha-pim”, repetido em longas sequências. 

Como curiosidade, refira-se que o chapim-real foi a primeira espécie que o autor destas linhas conseguiu identificar sozinho sem a ajuda de terceiros e tendo como único auxiliar um guia de campo. Esse foi o primeiro passo de uma longa caminhada na observação e identificação das nossas aves selvagens.

Onde ver: Parque da Cidade (Porto), Choupal (Coimbra), Jardim da Estrela (Lisboa)


Agora é a sua vez.

Parta à descoberta destas espécies e envie as suas fotografias, com a data e a localidade, para o email [email protected]. No final do mês publicaremos uma galeria com as suas imagens e descobertas!