Flamingos em Tavira. Foto: Gonçalo Elias

Escritor naturalista português lança livro com os 100 melhores locais para ver aves no Algarve

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“Os 100 melhores locais para ver aves no Algarve” actualiza a lista dos sítios mais populares e revela outros desconhecidos. Gonçalo Elias fala sobre o seu livro que demorou três anos a fazer.

WILDER: Para quem é este livro?

Gonçalo Elias: Este livro destina-se a qualquer pessoa que goste de observar aves no seu habitat natural e pretenda ter mais informação sobre os melhores locais de observação no Algarve.

Petinha-dos-campos Anthus campestris no Rogil (Aljezur). Foto: Gonçalo Elias

W: Qual o seu objectivo?

Gonçalo Elias: Acima de tudo dar a conhecer a todos os interessados o potencial do Algarve como local de observação de aves. Embora existam publicações anteriores sobre o tema, elas já estão um pouco desactualizadas. Por isso achei que era importante fazer uma actualização. Além disso, o livro também pretende divulgar outros locais além dos sítios mais conhecidos. Claro que estes locais populares – como é o caso de Sagres, Lagoa dos Salgados, Vilamoura, Quinta do Lago ou Castro Marim – são referidos, no entanto também incluí muitos outros menos conhecidos, uma boa parte dos quais nunca tinham sido mencionados anteriormente em qualquer livro de observação de aves, mas que são igualmente muito interessantes. Por fim, quis também detalhar o potencial ornitológico de cada um dos concelhos do Algarve.

Sobreiral em Cachopo (Tavira). Foto: Gonçalo Elias

W: Como surgiu a ideia para este livro e qual a relação com a série “Birding Hotspots in the Algarve”?

Gonçalo Elias: A série “Birding Hotspots in the Algarve” começou em 2016 com um pequeno volume sobre a zona de Lagos. Eu na altura já tinha a ideia de produzir informação sobre toda a região, mas como isso ia representar um grande investimento e poderia ser muito demorado, decidi fazer por fascículos. A série ficou completa em 2019, com um total de oito livros, nos quais se descreviam 91 hotspots. Cada volume incidia sobre uma zona específica do Algarve. No primeiro semestre de 2020 publiquei uma edição revista dos oito volumes – no âmbito desta revisão adicionei alguns hotspots novos, elevando o total para 100. Nessa altura já estava nos meus planos produzir um volume global com esses 100 hotspots. Durante o Verão passado estive então a juntar e a organizar esses conteúdos e a produzir o volume global. Assim que terminei a compilação, traduzi tudo para português, o que me permitiu lançar as duas edições em simultâneo (inglês e português).

Flamingos Phoenicopterus roseus em frente à cidade de Tavira. Foto: Gonçalo Elias

W. Quanto tempo demorou a fazer?

Gonçalo Elias: A série que deu origem a estes livros demorou três anos. Envolveu muitas visitas aos locais para verificar não apenas as espécies de aves que lá ocorrem nas diferentes épocas do ano, mas também os habitats existentes e as condições de acesso e de visita. O volume global foi mais rápido porque já não foi necessário realizar trabalho de campo: juntei os conteúdos dos oito volumes e produzi algum texto adicional que não existia nos volumes individuais, como as introduções dos concelhos e a introdução global.

Garajau-grande Hydroprogne caspia” em Vila Real de Santo António. Foto: Gonçalo Elias

W: Como está organizado este livro?

Gonçalo Elias: O livro, que tem perto de 300 páginas, está organizado por concelhos, com um capítulo para cada um dos 16 concelhos da região. Cada capítulo tem uma folha de rosto, com a imagem de uma espécie característica do concelho. Segue-se uma pequena introdução de duas páginas, na qual se descreve um pouco o concelho, se faz um resumo dos hotspots existentes e se referem algumas das espécies mais interessantes da zona. Por fim são descritos os hotspots do concelho. Cada hotspot tem uma descrição do local, uma lista das aves mais interessantes que lá ocorrem e a explicação de qual a forma de lá chegar e de explorar a área. Para cada hotspot inclui-se também uma imagem e um mapa. No início do livro há ainda uma breve apresentação da região e das aves que se pode esperar encontrar em cada habitat e em cada época do ano. No final do livro há dois apêndices, o primeiro sobre saídas pelágicas (isto é, de alto mar) e o segundo sobre o uso de transportes públicos para chegar até aos hotspots.

Ilha da Culatra (Faro), junto à Ria Formosa. Foto: Gonçalo Elias

W: Pode dar exemplos das espécies “mais procuradas/desejadas”?

Gonçalo Elias: Quando alguém vai ver aves a uma região diferente daquela onde mora, normalmente o principal objectivo passa por observar espécies que não encontra na região onde reside. Nesta perspectiva, o conceito de espécie mais desejada depende um pouco da origem do observador. Assim, para o observador português o maior interesse vai para as espécies que a nível nacional são praticamente exclusivas do Algarve, como a gaivota-de-bico-fico e a calhandrinha-das-marismas, e também para outras que, não sendo exclusivas, são mais comuns e por isso mais fáceis de encontrar nesta região como a gaivota-de-audouin, o borrelho-ruivo, a toutinegra-tomilheira, o rouxinol-do-mato ou o andorinhão-cafre, por exemplo. Além disso, o observador nacional também vem ao Algarve no Outono para participar no festival de Sagres, onde se pode ver muitas aves de rapina e realizar saídas pelágicas (nas quais é possível ver aves marinhas) e, claro, em busca das raridades que aparecem na região. Já o observador estrangeiro, oriundo de países do centro e do norte da Europa, tem interesse num conjunto de espécies que para nós são mais ou menos triviais mas que não ocorrem nos seus países de origem, por serem espécies características do sul do continente, como o peneireiro-cinzento, a íbis-preta, a águia-calçada, o flamingo, o pernilongo, a poupa, o abelharuco, o noitibó-de-nuca-vermelha, o andorinhão-pálido, o picanço-barreteiro, o melro-azul, a felosa-poliglota, a pega-azul e até algumas exóticas introduzidas como o bico-de-lacre, o tecelão o bispo-de-coroa-amarela.

Caniçal de Vilamoura (Loulé). Foto: Gonçalo Elias

W: Que tipo de hotspots sugeres no livro e qual o critério para teres escolhido estes 100?

Gonçalo Elias: Na escolha dos hotspots procurei assegurar uma boa cobertura da região, nomeadamente de todos os concelhos, e também dos vários habitats. Todos os locais descritos são de acesso livre, ou seja, que qualquer pessoa pode visitar – este é um aspecto importante, pois não creio que faça muito sentido estar a recomendar locais privados onde haja muitas restrições de acesso. É certo que outros locais poderiam ter sido incluídos no livro, mas parece-me que a selecção é representativa daquilo que se pode encontrar em cada parte do Algarve. Adicionalmente este livro permite também às pessoas ficarem a conhecer sítios novos, não apenas pelas aves mas também pelas paisagens e pelos habitats. Há sítios de grande beleza como o Cerro de São Miguel (Olhão), que alguns descrevem como sendo o melhor miradouro do Algarve; as arribas da Carrapateira (Aljezur) onde uma pequena península entra pelo mar dentro; a ilha da Culatra (Faro) que oferece uma perspectiva única do Algarve visto de sul; a zona de Cachopo (Tavira) onde se encontram alguns dos melhores sobreirais da região; a Ponta da Piedade (Lagos) com as suas arribas douradas; ou as ribeiras de Odeleite e do Vascão (Alcoutim), onde os vales profundos rasgam a paisagem árida. Todos estes locais oferecem excelentes oportunidades de observação de aves, associadas a oportunidades fotográficas fantásticas.

Lagoa das Dunas Douradas (Loulé). Foto: Gonçalo Elias

W: E quais são os hotspots que mais gosta de visitar para ver aves e porquê?

Gonçalo Elias: Sempre me deu particular satisfação descobrir informação nova, isto é, encontrar aves em sítios onde a sua ocorrência não tinha sido registada anteriormente, porque isto ajuda a aumentar o conhecimento global sobre os padrões de ocorrência das aves e a sua distribuição. Por este motivo, tendo a ir pouco aos sítios mais conhecidos onde “toda a gente vai” e prefiro explorar sítios novos. Há ainda muitas coisas para descobrir e eu gosto de contribuir para isso. No caso do Algarve, gosto muito das ilhas-barreira, local que durante muitos anos foi pouco explorado e que comecei a percorrer de forma regular em 2017 – e foi desta forma que descobri três novos núcleos de calhandrinhas-das-marismas (anteriormente esta espécie só era conhecida da zona de Castro Marim). Estas ilhas são também relevantes na migração, por serem um ponto de paragem das aves migradoras que se encontram a caminho de África ou que de lá regressam.


“Os 100 melhores locais para ver aves no Algarve”

Autor: Gonçalo Elias

Data de publicação: Setembro de 2020

Editora: regime de publicação independente. O livro pode ser adquirido através do sítio web da Amazon. (Versão em inglês e português)

Preço: 19,50 euros


Agora é a sua vez.

Saiba aqui onde ver aves no Algarve e quais as melhores espécies para procurar.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.