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Grande caça às algas: como participar no projecto Algas na Praia

Foto: CCMAR

Quem for à praia está a ser chamado a submeter as suas observações de algas no âmbito do projecto Algas na Praia, que entra agora no terceiro ano. Saiba o que já se descobriu até agora.

O projecto de ciência cidadã Algas na Praia, do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) e da Universidade do Algarve (UAlg), está interessado nas suas observações de grandes acumulações de algas no mar ou nas praias da costa portuguesa, incluindo Açores e Madeira.

Foto: CCMAR

Isto porque estas grandes quantidades de algas “podem ser um sinal de desequilíbrios nos ecossistemas marinhos”. Quando as algas crescem demasiado, “podem prejudicar a biodiversidade, as pescas e a qualidade ambiental da praia”, alertam os investigadores. 

Quem encontrar uma acumulação excessiva de algas, pode enviar a informação através deste formulário. Os investigadores pedem que indique qual a praia onde encontrou as algas, quando, se estavam na areia ou na água e qual a cor das algas (verdes, castanhas ou vermelhas). Há ainda possibilidade de submeter as suas fotografias do que encontrou.

A equipa do projecto procura responder a várias questões com ajuda dos dados que lhe são fornecidos através da plataforma Algas na Praia: de que espécies são as algas que se acumulam na costa portuguesa? Quando e onde ocorrem? O que está na sua origem e quais são os impactos que provocam? E finalmente, mas não menos importante, estarão estas acumulações a tornar-se mais ou menos frequentes?  

Até agora, a plataforma recebeu mais de 320 registos (167 em 2021 e 161 em 2022). “Desde o seu lançamento, no final de julho de 2021, temos tido uma boa adesão por parte dos cidadãos e dos profissionais das praias”, comentou, em comunicado, Dina Simes, professora da Universidade do Algarve e investigadora do CCMAR.

Com estes dados, os investigadores já conseguiram perceber melhor estes fenómenos.

O programa de ciência cidadã permitiu identificar que há três espécies que aparecem em grandes quantidades nas praias de todo o Algarve. Duas são espécies exóticas invasoras, Asparagopsis armata e Rugulopteryx okamurae. “Especificamente, a espécie R. okamurae tem vindo a atormentar na costa sul de Espanha há vários anos, mostrando um carácter explosivo invasivo, causando uma redução da biodiversidade nas comunidades nativas e impactos negativos na pesca local. Este mesmo comportamento altamente invasivo, com grande impacto na biodiversidade das espécies nativas, foi também estudado na costa Algarvia, no âmbito de um projeto do CCMAR.”

As análises destes registos, feitas pelo biólogo marinho Rui Santos, investigador no CCMAR, permitiram identificar três zonas de acumulações de macroalgas na costa do Algarve.

Na zona mais rochosa do Barlavento registaram-se em 2021, e com maior incidência em 2022, grandes acumulações de Rugulopteryx okamurae, uma espécie de alga castanha originária dos mares do Japão e Coreia. 

Na zona mais central do Algarve, entre Albufeira e Faro, registaram-se grandes acumulações da alga vermelha Asparagopsis armata que tem origem nas águas da Austrália. Estas acumulações tiveram maior expressão em 2021 do que em 2022.

Na zona da costa do Sotavento algarvio foram recebidos vários registos de grandes acumulações de uma espécie que é nativa da nossa costa, a Ulva sp., principalmente em 2021 com diminuição em 2022.

Segundo os investigadores, “apesar de os nutrientes serem geralmente a principal causa do crescimento excessivo das algas, os resultados obtidos até agora não mostram uma correlação significativa entre a concentração de nutrientes na água e a ocorrência destas acumulações”. Por outro lado, “observou-se uma relação significativa com outros parâmetros ambientais, nomeadamente a temperatura e o vento”.

As acumulações das espécies Asparagopsis armata, nas praias de Quarteira-Faro, e Ulva spp., no Sotavento, estão relacionadas com os ventos de norte (N) e noroeste (NW), enquanto que as acumulações de Rugulopterix okamurae, nas praias do Barlavento, estão mais relacionadas com uma maior temperatura da água.

Mas, realçam os investigadores, “dados de mais anos serão necessários para validar estas observações”. 

Até agora, explicaram os investigadores, “os resultados sugerem que o aumento da temperatura do mar pode favorecer o grande desenvolvimento e acumulação da alga castanha exótica Rugulopterix okamurae, enquanto o vento do quadrante Norte pode ser um fator chave para o desenvolvimento de espécies nativas das algas verdes Ulva spp. e da alga vermelha exótica Asparagopsis armata”. Porém, “será preciso investigar com maior detalhe a importância destes e de outros fatores, como as correntes, para o desenvolvimento de um sistema de deteção precoce que possa prever as grandes acumulações de algas nas praias de modo a se poderem implementar estratégias de mitigação e adaptação, como a colheita da biomassa e sua valorização económica”. 

A  plataforma Algas na Praia, além de monitorizar e identificar fenómenos de grandes acumulações de algas na água e nas praias, vai também promover estudos de valorização desta biomassa através de produtos de valor para a indústria farmacêutica, nutracêutica ou cosmética, como também para outros tipos de indústria, como  a agrícola, pecuária e ambiental. 


Agora é a sua vez.

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.