Gafanhoto-do-egipto, com as serras do Porto no horizonte. Foto: Hugo Amador

Guia gratuito dá a conhecer borboletas, gafanhotos e outros invertebrados do Parque das Serras do Porto

Obra inclui 117 espécies observadas nos quase 6000 hectares de uma área protegida que se estende pelos municípios de Gondomar, Paredes e Valongo. Lançamento acontece esta sexta à noite, na Biblioteca Municipal de Paredes.

O novo livro, lançado a 26 de Maio, explica quem são e onde vivem os muitos invertebrados do Parque das Serras do Porto, uma paisagem protegida regional na área metropolitana portuense, que abarca as serras de Santa Justa, Pias, Castiçal, Santa Iria, Flores e Banjas.

A cabra-loura ou vaca-loura (Lucanus cervus) e a lesma-do-Gerês (Geomalacus maculosus), mas também invasores como o gorgulho-das-palmeiras (Rhynchophorus ferrugineus), foram alguns dos mais de 1000 invertebrados contabilizados na região desde que os primeiros registos foram feitos pelo naturalista espanhol Ignacio Bolivar, em 1887. O guia conta a história destes e de outros estudos realizados até à criação legal da área protegida, em 2017, num capítulo escrito por José Manuel Grosso-Silva, do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto. Nas primeiras páginas, abordam-se também as necessidades e os desafios face à conservação dessas espécies.

Gaiteiro-ocidental (Calopteryx xanthostoma), uma das espécies que constam do guia. Foto: Hugo Amador

Já a segunda parte do guia, baptizada de “guia ilustrado”, é um convite a pegar no livro e levá-lo a passear pelo Parque das Serras do Porto. Aqui, encontramos fotografias e várias informações sobre 117 espécies que habitam nesta área protegida, divididas por 15 grupos diferentes – incluindo borboletas e traças, moscas, escaravelhos, libélulas e libelinhas, gafanhotos, grilos e saltões, abelhas e vespas, e até mesmo sanguessugas.

“O nosso intuito é que este guia seja útil e acessível para qualquer pessoa de qualquer idade, tanto para consulta em casa como durante uma visita à área do Parque”, explica Sónia Ferreira, coordenadora dos conteúdos do livro e investigadora na associação Biopolis/CIBIO. Foi esta entidade ligada à Universidade do Porto que realizou o projecto na origem desta nova obra, com o apoio financeiro dos municípios do Parque: o levantamento do todo o conhecimento relativo aos invertebrados da região.

“O livro encontra-se ricamente ilustrado, com fotografias das distintas espécies captadas por 17 autores, e inclui também ilustrações das diversas ordens, indicando as principais estruturas características de cada grupo, da autoria da bióloga e ilustradora Andreia Albernaz Valente”, descreve também Sónia Ferreira. “Esperamos com ele chegar aos naturalistas e amantes da natureza, mas também às comunidades escolares, aos alunos universitários de ciências naturais e até às famílias que visitam o Parque.”

“Pouquíssimos livros dedicados a invertebrados”

A ideia deste guia de campo nasceu em 2022, depois de concluída a avaliação do estado do conhecimento sobre as muitas espécies de invertebrados que habitam nesta paisagem regional protegida. Os investigadores ligados ao projecto encontraram mais de 125 documentos com dados para a fauna da região, cujas referências bibliográficas fazem agora parte dos conteúdos do livro. A juntar a essa informação, os membros da equipa realizaram entretanto vários registos de espécies que ainda não tinham sido inventariadas.

O resultado desse trabalho, explica Sónia Ferreira, foi um relatório com “uma lista de mais de 1000 espécies conhecidas da área”. Destas, uma pequena parte é agora dada a conhecer no novo guia, que “não é de todo exaustivo para a fauna do Parque das Serras do Porto”.

Pirilampo-preto (Phosphaenus hemipterus). Foto: Rui Andrade

E fazem falta mais livros como este? “Sem dúvida!”, reage a investigadora do Biopolis/CIBIO, que acrescenta que “de uma forma geral temos pouquíssimos livros dedicados a invertebrados em Portugal” e que “alguns dos que já foram editados encontram-se actualmente esgotados”.

“Sabemos muito pouco sobre as faunas locais e na generalidade a população desconhece grande parte dos invertebrados, mesmo no caso de espécies comuns”, sublinha a mesma responsável. “É preciso reduzir este desconhecimento e aumentar a familiaridade entre a população e estes animais”, pois “muitas vezes os invertebrados são mortos por medo e desconhecimento”, lamenta.

Cigarrinha-corcunda-verde (Stictocephala bisonia). Foto: Sónia Ferreira

Sónia Ferreira reconhece ainda que alguns invertebrados são “nocivos” para os humanos, mas isso não acontece com a maioria. “E mesmo apesar de alguns serem menos bonitos – sublinha – a verdade é que a diversidade de cores e formas é extraordinária, mesmo em zonas muito urbanizadas, onde esperaríamos encontrar um menor número de espécies.”

Ainda assim, apesar de já existir muita informação, há ainda grupos que “precisam de atenção urgente”, pelo que é necessário continuar a investigar. É o caso dos polinizadores e o caso dos moluscos, “para os quais temos informação muito limitada”, indica a bióloga. “Para estes grupos precisamos primeiro de os conhecer melhor, para os podermos divulgar amplamente aos visitantes e utilizadores da área do Parque.”


Saiba mais.

O lançamento do guia de campo “Os invertebrados do Parque das Serras do Porto” está agendado para esta sexta-feira, dia 26 de Maio, às 21h, na Biblioteca Municipal de Paredes. A participação será livre até lotação do espaço e vai ser oferecido um exemplar às pessoas presentes.

Para ter acesso a este guia, segundo a equipa responsável, pode também encontrá-lo na sede do Parque das Serras do Porto ou enviar um email para [email protected].

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.