Foto: Herminio M. Muñiz

“Montado, o bosque do lince-ibérico” chega aos cinemas a 11 de Agosto

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A 11 de Agosto chega às salas de cinema portuguesas “Montado, o bosque o lince-ibérico”, um filme de Joaquín Gutíerrez Acha e o documentário com maior orçamento até à data em Portugal.

O montado é considerado hoje um dos grandes santuários naturais e, além de reunir uma grande biodiversidade com mais de 200 espécies diferentes, conserva um conjunto de mamíferos em elevado risco de extinção. É também responsável pelo combate ao aquecimento global, à desertificação e aos incêndios que todos os anos assolam o nosso país.

Este filme de 95 minutos, realizado pelo naturalista e produtor espanhol Joaquín Gutiérrez Acha – membro da International Association of Wildlife Film Makers -, surge na sequência da candidatura do montado a património da humanidade da UNESCO.

Joaquín Gutiérrez Acha. Foto: D.R.

Com a narração da atriz Joana Seixas, o realizador mostra-nos um raro exemplo de boas práticas da interferência do homem no curso natureza em voos contemplativos sobre este bosque ancestral na Peninsula Ibérica.

Tal como o paraíso natural do montado, também este filme precisou de tempo e recursos para atingir o seu maior potencial. “Montado, o bosque do lince-ibérico” é o documentário com maior orçamento até à data em Portugal, tendo contado com cerca de quatro milhões de euros para a sua realização.

Joaquín Gutiérrez Acha e Carlos De Hita. Foto: D.R.

Num dos bosques mais antigos da Europa, têm subsistido, ao longo de milhões de anos, muitas espécies vegetais de origem arcaica.

Sobre estas árvores, três grandes águias que acabam de chegar de uma épica travessia iniciada em África, vigiam o solo em busca de répteis e serpentes, até que finalmente mergulham a grande velocidade, atacando violentamente as suas presas.

Ovelhas no montado. Foto: D.R.

Mas ao lado desta espécie africana voam também as águias-imperiais-ibéricas, espécie endémica da nossa fauna e em vias de extinção, o que faz dela uma das aves mais raras do mundo. Quando a sua sombra se projecta sobre as planícies do montado, todos os seus habitantes estremecem, sobretudo os coelhos, em cuja caça se especializaram.

Já no solo, vamos descobrir um universo misterioso formado por uma multitude de plantas e de fauna invertebrada com ritos únicos, como as aranhas-caranguejo, as aranhas-lobo ou as aranhas-tigre.

Linces-ibéricos. Foto: D.R.

Recorrendo a drones e helicópteros, sobrevoaremos montados que atravessam o Alentejo, a Andaluzia, a Estremadura e Castela e Leão. A partir destas localizações, presenciaremos a chegada de novos inquilinos provenientes de países longínquos como os pombos reais, os milhafres, os abutres de cara amarela ou os abutres do Egipto, que se deixam ficar por estas paradas antes de regressarem às respectivas estâncias de reprodução, proporcionando uma azáfama maravilhosa.

Entre as personagens deste documentários estão ainda coelhos, touros bravos, ovelhas, vacas andaluzas, gamos, muflões, sardões, cobras, abutres-pretos, mochos, corujas, grous, cegonhas e linces-ibéricos.

Foto: D.R.

E utilizando uma câmara capaz de registar mais de 1.500 imagens por segundo, podemos assistir às artes piscatórias do pequeno guarda-rios que, com a ajuda das suas pequenas asas, é capaz de se lançar como um verdadeiro projéctil sobre a superfície da água, capturando as suas presas.

O montado

O montado é um ecossistema semi-natural criado pelo homem há centenas de anos. É na Península Ibérica que atinge maior expressão, ocupando um terço de toda a sua área florestal (56% em Portugal e 44% em Espanha).

A história deste bosque ancestral começou na Idade Média, quando as comunidades rurais decidiram eliminar parte dos bosques que rodeavam as suas vilas de modo a evitar emboscadas por parte de invasores. Esta estratégia bélica foi-se estendendo ao longo das planícies douradas, dando origem a um modelo florestal tipicamente ibérico.

Coelho-bravo. Foto: D.R.

Oferece abrigo e alimento a mais de 160 espécies de aves, 24 espécies de répteis e anfíbios, 37 espécies de mamíferos, algumas das quais em eleva-do risco de extinção como o lince- ibérico ou a águia-imperial e ainda a muitas outras espécies vegetais.

O montado fixa até 14 milhões de toneladas de CO2 por ano, combate o aquecimento global e a desertificação, controla a erosão e regula o ciclo hidrológico. Do ponto de visto económico, ele garante um rendimento de mais de 900 milhões de euros por ano ao nosso país, servindo de suporte à indústria da cortiça mas também a outras actividades: o pastoreio, a recolha de frutos para alimentação animal, as culturas agrícolas, as actividades cinegéticas.

Veja aqui o trailer do documentário:


Sessões:

Semana de 11 a 17 de Agosto

Cinema City Alvalade: 19h35

Cinema City Leiria: 20h00

Cinema City Setúbal: 19h30

Saiba mais:

Produzido por: Wanda Natura, Ukbar Filmes
Género: Documentário de natureza
Período de rodagem: 18-20 meses
Locais de rodagem: Alentejo (Pt), Andaluzía (Es), Estremadura (Es), Castilla-León (Es)
Conclusão do filme: 2020
Produtor: José María Morales

Ficha técnica:
Coproduzido por: Pandora Da Cunha Telles, Pablo Iraola
Escrito e realizado por: Joaquín Gutiérrez Acha
Produtores executivos: José María Morales, Miguel Morales, Carmen Rodriguez
Direcção de produção: Carmen Rodriguez
Direcção de fotografia: Joaquín Gutiérrez Acha
Música: Pablo Martin Caminero
Montagem: Iván Aledo
Som: Carlos De Hita
Câmaras adicionais: Rubén Cebrián, Luke Massey
Pós-produção de som: Juan Ferro
Consultores: Salvador Suano, Mario Cea, Jorge Borges
Distribuição: Zero em Comportamento

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.