Foto: Mónica Almeida

Noites das Criaturas das Trevas vão ensinar-lhe a gostar destes animais

Descubra o que são as Noites das Criaturas das Trevas, que espécies raras poderá ver de perto e quais os pontos altos de um programa que vai revelar a verdadeira natureza de rãs, sapos, salamandras, morcegos, traças, ratos e corujas. Nesta comemoração naturalista da Noite das bruxas, 26 peritos entusiastas estarão em mais de 10 cidades à espera de cidadãos “sem medo”.

 

Revelar a verdadeira importância e beleza de morcegos, sapos, rãs, salamandras, aranhas, traças, corujas, mochos e ratos ao maior número de pessoas possível é o objectivo das Noites das Criaturas das Trevas, de 28 de Outubro a 5 de Novembro.

Esta é uma iniciativa que acontece todos os anos desde 2012 e é organizada por um grupo de especialistas que decidiu “deixar de pregar para os já convertidos”, explicou à Wilder Jael Palhas, promotor do evento.

 

Foto: Pedro Alves

 

“Estes são animais muito mal vistos pela população”, sofrendo por causa de mitos antigos, segundo os quais são perigosos, explicou este ecólogo. “Qualquer receita de bruxa tem olhos de morcego ou patas de salamandra”, brincou. “Morcegos, aranhas e sapos entraram neste imaginário e prestam-se a ideias erradas. As pessoas associam-nos a azar, a bruxaria. Por isso, é preciso fazer a divulgação científica destes grupos, para acabar com o grande contraste entre a importância deles e a forma como a sociedade os vê.”

 

Foto: Mónica Almeida
Foto: Mónica Almeida

 

A iniciativa começou em ponto pequeno em 2012, no âmbito da Campanha Charcos com Vida, iniciativa que, desde 2010, incentiva os cidadãos a descobrir, valorizar e investigar os charcos e a sua biodiversidade.

Este ano, as Noites das Criaturas das Trevas têm 11 cidades com eventos confirmados, desde Braga, Seixal e Évora ao Porto, Cantanhede e Aveiro. Mais de 25 investigadores entusiasmados pelos animais que estudam vão animar as noites, seja em saídas de campo ou em registos de espécies. As actividades são diferentes de cidade para cidade; há umas gratuitas e outras pagas, mas a mais cara custa apenas 5 €.

 

Foto: Pedro Alves

 

“Queremos entusiasmar as pessoas promovendo um lado divertido. E isso faz-se juntando os cidadãos aos peritos entusiastas que estudam os animais”, acrescentou Jael Palhas.

Outra forma para aproximar as pessoas destes animais é mostrando de que forma são importantes. “Estes animais são verdadeiros pesticidas naturais, ecológicos e gratuitos. Por exemplo, os morcegos e os anfíbios são muito importantes no controlo dos mosquitos que transmitem doenças como a dengue. Mas as pessoas correm a matá-los. Depois ficam aflitas para os substituir”, lembrou.

 

Foto: Bernardo Conde
Foto: Bernardo Conde

 

O programa das Noites ainda não está fechado, algo que deve acontecer em breve. Mas para já são 11 os eventos já marcados. Se pudesse, Jael Palhas “iria a todos, uma vez que para todos existem boas razões”. Mas mesmo assim, selecionou oito muito especiais que não vai querer perder:

 

1.Braga – Mosteiro de Tibães:

Data: 31 de Outubro, das 21h00 às 23h30

Organização Local: Laboratório da Li / Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem / Charcos com VIda

Monitores: Virgínia Duro e Nuno Garrido (morcegos); Lília CunhaPedro Alves e Daniela Barbosa (anfíbios)

É o maior evento, com duas actividades e 100 vagas em cada uma. Realiza-se num sítio fantástico e tem uma equipa muito dinâmica.

 

2. Porto – Parque da Cidade:

Data: 29 de Outubro, das 21h00 às 23h30

Organização Local: CIIMAR-UP / Charcos com Vida / Associação Portuguesa de Herpetologia

Monitores: Ana Ferreira (anfíbios), Iolanda Rocha (anfíbios), Vanessa Mata (morcegos)

Esta será uma boa oportunidade para ver o “charco maravilha”, assim chamado dada a elevada diversidade de espécies e à sua beleza.

 

3. Aveiro – Quinta Ecológica da Moita:

Data: 31 de Outubro, das 20h30 às 23h00

Organização Local: Quinta Ecológica da Moita (ASPEA / SCMA)

Monitores:  Ana Jervis (anfíbios), Bernardo Conde (anfíbios), Milene Matos (anfíbios, aves e morcegos);  Nuno Pinto (morcegos)

Nesta actividade poderá descobrir charcos muito importantes e são elevadas as probabilidades de conseguir observar espécies difíceis de ver, como a rã-de-focinho-pontiagudo.

 

4. Condeixa – Escola da Água:

Data: 29 de Outubro, das 20h00 às 23h00

Organização local: GPS – Grupo Protecção Sicó

Monitores: Jael Palhas (anfíbios), Pedro Alves (morcegos), Albano Soares (invertebrados)

Descubra os charcos de uma serra calcária (Sicó), muito rica em espécies de fauna.

 

5. Cantanhede – Tocha:

Data: 28 de Outubro, das 20h30 às 24h00

Organização Local: Associação Charcos e Companhia

Monitores: Jael Palhas (anfíbios), Pedro Alves (morcegos), Tatiana Moreira (invertebrados)

Segundo Jael Palhas, aqui estão os charcos biologicamente mais interessantes, charcos dunares, onde já foram observadas 11 espécies de anfíbios numa única noite. Não deixe de reparar nas muitas espécies de invertebrados que poderá ver.

6. Alcanena – Centro Ciência Viva do Alviela:

Data: 4 de Novembro, das 20h30 às 23h30

Organização Local: Centro Ciência Viva do Alviela

Monitores: Maria João Silva (morcegos), Jael Palhas (anfíbios), Albano Soares (invertebrados)

Esta é uma grande oportunidade para ver morcegos, como os morcegos-de-ferradura ou os morcegos-peluche.

 

7. Seixal – Pinhal das Freiras:

Data: 31 de Outubro, das 21h00 às 23h30

Organização Local: Charcos com Vida

Monitores: Jael Palhas (anfíbios), Margarida Augusto (morcegos), Erika Almeida (anfíbios), Mauro Hilário (rapinas nocturnas).

Neste local existem os charcos temporários mais importantes perto de Lisboa. Aqui será fácil ver morcegos e anfíbios.

 

8. Évora – Herdade da Mitra:

Data: 29 de Outubro, das 21h00 às 24h00

Organização Local: Universidade de Évora

Monitores: Tiago Pinto, Luís Sousa, Sílvia BarreiroErika Almeida

Esta é a única actividade das Noites numa área mediterrânica. Um dos pontos altos será conseguir observar o emblemático sapo-parteiro-ibérico, o sapo que carrega os ovos “às costas”.

E para o ajudar a fazer a sua lista de espécies, procure observar estas cinco espécies muito especiais:

Rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi)

Sapo-parteiro-ibérico (Alytes cisternasii)

Salamandra-de-pintas-amarelas (Salamandra salamandra)

Morcego-de-peluche (Miniopterus schreibersii)

Borboleta-caveira (Acheronthia atropos)

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Se ficou com vontade de ajudar a melhorar a vida destes animais, Jael Palhas deixa-lhe cinco sugestões simples do que pode fazer:

 

  • Crie e proteja pequenos charcos para a vida selvagem, que são abrigo e local de alimento para muitas destas espécies, especialmente rãs, sapos e morcegos;
  • Mantenha montes de lenha, muros de pedras soltas e estruturas antigas rurais que estão a desaparecer por causa da transformação da agricultura. Estes são importantes abrigos para répteis, anfíbios, morcegos e invertebrados;
  • Instale caixas-ninho ou caixas-abrigo para corujas, mochos ou morcegos;
  • Quando conduzir na estrada, esteja atento a rãs a passar, especialmente nesta época do ano. Muitos animais morrem atropelados, nas suas migrações desde os locais de abrigo até aos pontos de água onde se vão alimentar e reproduzir (não vai querer atropelar uma salamandra que pode viver até aos 30 anos em estado selvagem, pois não?);
  • Informe-se sobre estas espécies e incentive os outros a respeitá-las.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.