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O que procurar no Inverno: a bonina

Depois de uns dias de chuva nada como voltar a ver o sol brilhar e sair para explorar o que há de novo na natureza. Durante o meu passeio, na pequena mata que existe perto de casa, encontrei imensas flores de Bonina (Bellis perennis). Esta pequena planta rústica e espontânea está agora em flor e podemos encontrá-la junto a caminhos, nos prados, nos campos, nos jardins e até em relvados das cidades.

A bonina

A bonina, também conhecida como margarida ou rapazinhos, pertence à família das Asteraceae, uma das maiores famílias de plantas. Esta família compreende mais de 1.600 géneros e 23.000 espécies. Em Portugal, é representada por cerca de 118 géneros e 376 espécies, distribuídas um pouco por todo o país.

Bellis perennis. Foto: Archenzo/WikiCommons

É uma pequena planta herbácea e perene que pode atingir até 20 cm de altura. As suas folhas, verde vivo, com uma só nervura e de margens serradas, têm forma espatulada e estão cobertas de pelos. Dispõem-se em roseta achatada, ou seja, as folhas dispõem de modo a formarem um círculo, todas situadas à mesma altura, junto ao solo. 

As suas flores surgem acima das folhas, numa haste floral fina, com cerca de 15 a 20 cm de altura. São hermafroditas, aparecem dispostas em inflorescências – capítulos, e são de dois tipos: tubulares, que têm a forma de pequenos tubos amarelos, dispostos em capítulo (parte central, de cor amarela, da inflorescência) e as outras, surgem na zona marginal, que contorna esse disco amarelo de flores, e são denominadas de lígulas, ou flores brancas, rosadas ou avermelhadas, femininas, muitas vezes confundidas como pétalas. 

O fruto é uma cipsela, ou fruto seco, com uma única semente, provido de um tufo de pelos que ajuda à sua dispersão pelo vento. As sementes são pequenas, ovadas, castanhas e pubescentes e as raízes são carnudas.

A denominação científica de Bellis perennis é muito intuitiva, está muito relacionada com a sua beleza e a sua profusão de flores ao longo de todo o ano. O nome do género Bellis, deriva do latim Bellus que significa “bela” ou “graciosa” e perennis, formada a partir da combinação de duas palavras, também do latim, per-– annuus que significa “durante todo o ano” ou “perene”, referente ao ciclo de vida da espécie. No entanto alguns autores referem que Bellis deriva da palavra latina Bellum, que significa “guerra”, em referência à sua capacidade de curar feridas. 

Ornamental, comestível e medicinal

A bonina é uma planta nativa no continente europeu, sendo mais comum no centro e sul da Europa. Em Portugal surge um pouco por todo o território continental e é também espontânea nas ilhas da Madeira e dos Açores, onde terá sido introduzida no passado.

Em plena floração. Foto: Sabina Bajracharya/WikiCommons

Tem preferência por uma exposição solar plena ou meia sombra, solos férteis, bem drenados e ricos em matéria orgânica. Tolerante ao frio, floresce abundantemente no inverno, no entanto não tolera geadas fortes, nem solos encharcados.

A profusão de flores e cores desta pequena e delicada planta, tornam-na muito interessante do ponto de vista ornamental, sendo muito utilizada em vasos, floreiras, em canteiros, bordaduras e maciços de jardins privados ou em espaços públicos. Por possuir hastes florais fortes e duráveis a bonina é também muito utilizada como flor-de-corte, na composição floral de arranjos e bouquets. 

Além destas características ornamentais, esta planta é também comestível. As folhas jovens e as flores são comestíveis, cruas ou cozidas, utilizadas em saladas ou para decorar pratos. 

Do ponto de vista medicinal, esta planta tem algumas propriedades terapêuticas. As suas folhas e flores têm sido usadas no tratamento de eczemas, acne, queimaduras, inflamações da pele, dores articulares, etc. Apresenta também propriedades cicatrizantes e depurativas, além de ser um excelente expectorante e antitússico. A infusão de flores e folhas pode servir como repelente de insetos.

Foto: Mabel Amber/Pixabay

A floração prolongada e o marcante disco floral tornam-na importante do ponto de vista ecológico, uma vez que atrai muito facilmente inúmeros insetos. As suas flores são muito visitadas por abelhas, abelhões, borboletas e escaravelhos, etc. e são uma excelente fonte de alimento fora da primavera. Quando surgem nos relvados, não é aconselhável o corte rente ou com muita frequência para não destruir as flores espontâneas.

Outras Bellis em Portugal

Em Portugal continental ocorrem, de forma espontânea, outras duas espécies do género Bellis

Bellis annua, vulgarmente conhecida como bonina-dos-prados, bonina-dos-campos ou margarida-anual, é uma planta anual de menor porte que as restantes do género. Distingue-se delas, sobretudo, pela forma das folhas, ligeiramente mais obovadas (forma oval, com parte mais estreita para baixo) e com margens mais crenadas, com recortes da folha mais arredondados. As inflorescências são mais pequenas e possui pelos mais rígidos. As suas raízes são muito finas. Esta espécie ruderal pode encontrar-se em zonas de prado, clareira de matos, bermas de estradas e caminhos e em locais com alguma humidade, um pouco por todo o território nacional, mas com maior predominância a sul. 

Bellis sylvestris, conhecida vulgarmente como margarida-brava ou margarida-do-monte, é uma planta vivaz, como a Bellis perennis. Distingue-se pelo caule praticamente inexistente e pelas folhas de cor verde-escura, compridas, com forma oblonga e com 3 nervuras. Os capítulos (inflorescências) são ligeiramente maiores que os da Bellis perennis e as flores líguladas são muitas vezes tingidas de púrpura, na parte posterior. As suas raízes são igualmente carnudas e ao contrário das outras espécies do género, o fruto desta planta, a cipsela, não apresenta um tufo de pelos que ajudará a dispersão pelo vento. As sementes caiem no solo, junto da planta, sendo as formigas as principais responsáveis pela sua disseminação. Esta espécie pode encontrar-se um pouco por todo o território nacional, em zonas de matos e em relvados húmidos.

Bellis sylvestris. Foto: Zeynel Cebeci/WikiCommons

Estas pequenas plantas encontram-se por todo o lado. Quem nunca colheu uma flor da bonina ou da margarida-do-monte e jogou “ama-me, não me ama?”. Um jogo que consiste em remover as lígulas (confundidas como pétalas) brancas ou rosadas, uma a uma, alternando as palavras “ama-me” e “não me ama” cada vez que se retira uma. O que é dito na última lígula (“pétala”) indicará a resposta à sua pergunta. Procurem-nas nas vossas caminhadas, joguem, divirtam-se.


Todas as semanas, Carine Azevedo dá-lhe a conhecer uma nova planta para descobrir em Portugal. Encontre aqui os outros artigos desta autora.


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