Um dia à procura de rãs e salamandras na ribeira

Agora que estamos a entrar na melhor altura do ano para descobrir o mundo natural dos charcos e poças de água, experimente fazer como Ana Ferreira, técnica do projecto Charcos com Vida, e ir à Mata da Machada, no Barreiro, à procura de rãs, salamandras, tritões, libélulas, escaravelhos-de-água…

Durante os meses frios estiveram sossegados. Uns enterrados, outros abrigados em fissuras de muros ou debaixo de pedras. À espera. Com a chegada das temperaturas mais amenas e das chuvas da Primavera, anfíbios, répteis e pequenos insectos começam a aventura da reprodução.

 

Tritão-de-ventre-laranja (Lissotriton buscai) Fotografia: Mauro Hilário

 

Ana Ferreira, técnica do projecto Charcos com Vida, esteve no sábado passado na Mata da Machada, no Barreiro, numa actividade do Centro de Educação Ambiental do Barreiro. E confirma que há muito para ver. “Esta é uma zona muito interessante por causa da humidade vinda do Sapal de Coina. Há boas condições de escorrência, criando pontos de água e charcos”. Ana segue os anfíbios na Mata da Machada há cerca de dois anos. No sábado passado, num passeio com 20 pessoas – “público em geral, famílias, fotógrafos de natureza” – Ana Ferreira viu tritões-de-ventre-laranja. “Num camaroeiro vieram mais de dez de uma só vez. Nesta altura são fáceis de ver.” E ainda “muitas larvas de várias espécies de libélulas” e, nas zonas de rodados de tractores, onde se acumula água, viu “cinco rãs-verdes”.

“Trouxemos amostras de água e observámos com uma lupa binocular. Identificámos barqueiros, larvas de efémeras e escaravelhos-de-água. Mas também espécies invasoras como a perca-sol no lago maior e lagostins-vermelhos-do-Louisiana”, contou à Wilder.

Estamos a entrar numa altura boa para explorar os charcos. “Os animais já estão dentro de água e começaram a época de reprodução”.

Ana Ferreira aconselha um passeio em Março e Abril ao longo da ribeira principal que atravessa a Mata da Machada, desde a sua entrada, até chegar à lagoa final no seu extremo. Levante um mapa da mata no Centro de Educação Ambiental do Barreiro (na Mata da Machada) para melhor orientação.

[divider type=”thin”]Se quiser fazer mais

Envolva-se na campanha Charcos com Vida e ajude a pôr no mapa os charcos que conhece. Ou então, descubra aqueles que estão perto da sua casa.

A campanha Charcos com Vida, lançada em 2010, quer incentivar a inventariação, adopção, construção e manutenção de charcos e pequenas massas de água para a observação da biodiversidade e conservação da vida selvagem. Após uma primeira fase de organização a cargo do CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos), actualmente a coordenação e desenvolvimento do projecto é da responsabilidade do CIIMAR (Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental), da Universidade do Porto.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.