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A viagem fotográfica de um biólogo aos Pirinéus

O leitor da Wilder Daniel Santos conta a sua experiência numa expedição recente aos Pirinéus. Este biólogo e fotógrafo de natureza partiu à procura da natureza, com vários quilos de equipamento fotográfico às costas.

 

Nada me deixa mais motivado para viajar do que a fotografia e a possibilidade de explorar novos habitats e espécies.

Os Pirenéus são conhecidos pelos picos de encostas íngremes e pelas paisagens repletas de florestas ricas em biodiversidade. Portanto não poderia embarcar nesta aventura sem, pelo menos, tentar captar as incríveis paisagens e a fauna local.

No primeiro dia faço uma caminhada que começa junto ao Lac de Bious-Artigues e termina no refúgio Ayous. O objetivo é fotografar o Pic du Midi d’Ossau, uma montanha com uma altitude máxima de 2.884 metros, que se destaca de toda a paisagem envolvente.

Desde início, o trilho é inclinado e desafiante, principalmente com vários quilos de equipamento fotográfico às costas.

Depois de caminhar durante algum tempo rodeado por floresta, sou presenteado com uma vista impressionante para o Pic du Midi d’Ossau.

 

 

Quando finalmente chego ao refúgio fico ainda mais impressionado com o que tenho diante dos olhos. Um lago reflecte a luz do entardecer e em segundo plano permanece o imponente pico. “Isto é perfeito” penso. Mas à medida que o pôr-do-sol se aproxima, começa a formar-se nevoeiro.

No dia seguinte, antes do nascer-do-sol, volto ao lago com expectativas das condições estarem melhores. As temperaturas negativas congelaram completamente o solo e uma suave brisa agita as águas do lago. Tudo se alinha quase na perfeição e lá consigo uma imagem de que estou bastante orgulhoso.

 

 

Continuo a caminhada com esperança de ver algumas espécies emblemáticas dos Pirenéus. À medida que avanço vou vendo alguns grifos e várias gralhas-de-bico-vermelho que vocalizam e voam freneticamente de um lado para o outro.

 

 

Mas é mais tarde que finalmente vejo algo que me deixa boquiaberto: marmotas. Estão a recolher vegetação para forrarem as suas tocas para hibernarem. Aos poucos vão-se aproximando e consigo fotografá-las.

 

 

Pouco depois vejo um vulto no céu. De início penso que é mais um grifo, mas rapidamente percebo que é um quebra-ossos, uma espécie que está extinta em Portugal.

 

 

No terceiro dia decido ir ao Cirque de Gavarnie. Nunca me senti tão pequeno. As paredes enormes deste local atingem os 1.500 metros de altura desde a base do vale. Uma cascata gigantesca precipita-se a mais de 420 metros de altura.

 

 

No vale, além de áreas de pasto, também existem florestas, ora dominadas por coníferas, típicas dos climas de altitude, ora dominadas por folhosas. Esta zona é ideal para fotografar mamíferos como as raposas, mas infelizmente não consigo ver nenhuma. Várias flores de outono, principalmente do género Crocus (açafrão-bravo) cobrem as áreas de pasto, mas é a Campanula cochleariifolia que me chama mais a atenção no coração da floresta.

 

 

No último dia tenho como missão fotografar uma espécie que apenas existe nos Pirenéus e nas montanhas Cantábricas, a Camurça-dos-Pirenéus (Rupicapra pyrenaica).

Vou ao Cirque de Troumouse com a esperança de, pelo menos, ver camurças e fotografar marmotas. Mas isso não aconteceu. Ainda assim tive a oportunidade de fotografar as montanhas à distância no momento em que o sol nascia.

 

 

Nem sempre tudo corre como planeado, mas o importante é saber saborear cada momento. E esta manhã foi particularmente agradável, pois reinava o silêncio de uma paisagem desprovida de vida humana, de um local verdadeiramente selvagem.

 

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[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

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