Migrações: Cinco aves que estão a passar por Portugal aos milhares

Esta é, talvez, a época do ano mais interessante para a observação das aves que estão em migração. Durante o mês de Setembro, procure estas cinco espécies que estão a passar em grandes quantidades por Portugal, a caminho de África.

Neste momento, largos milhares de aves estão a descer do Norte e Centro da Europa com destino à África tropical. Todos os anos o fazem, em busca de alimento abundante durante os meses frios do Inverno. 

Como a viagem é longa, algumas destas aves migratórias fazem uma paragem em Portugal para recuperar forças. 

“Normalmente viajam durante a noite, para evitar predadores e porque está mais fresco”, explicou à Wilder Gonçalo Elias, especialista em aves selvagens e responsável pelo portal Aves de Portugal. Durante o dia, procuram alimentar-se e repor energias.

Nesta época do ano, são muitas as espécies de aves que migram. Como as aves pequenas que se alimentam de insectos, por exemplo. Um pouco por todo o país há milhares de passeriformes que são migradores de passagem.

Gonçalo Elias sugere cinco espécies que vale a pena procurar este mês porque estão a passar em grandes quantidades por Portugal, parando por um ou vários dias. Quase todas têm populações nidificantes em Portugal, mas a quantidade de aves em passagem migratória é muito superior à quantidade de aves que se reproduzem cá.

Por isso, pegue nos binóculos, apure os ouvidos e saia para o campo.

Papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca):

Papa-moscas-preto. Foto: OhWeh/WikiCommons

Esta pequena ave insectívora é um grande voador, ainda que só tenha cerca de 13 centímetros de comprimento. É um ícone das migrações de Outono em Portugal. Em Setembro torna-se tão abundante que “pode chegar a ser a ave mais comum em certos locais”, segundo o livro “Aves de Portugal Continental”. Procure-o em qualquer zona arborizada, mesmo nos jardins das cidades. Esta pequena ave costuma pousar, à vista, nos ramos das árvores.

Papa-moscas-cinzento (Muscicapa striata):

Papa-moscas-cinzento. Foto: Martin Mecnarowski/WikiCommons

O forte desta ave não é, certamente, o garrido das penas. Na verdade, tem uma plumagem castanha que a pode fazer passar despercebida. Mas procure-a em qualquer local com árvores, incluindo pomares e jardins. Será elevada a probabilidade de ver (ou ouvir) um papa-moscas-cinzento. Ainda assim, não é tão frequente quanto o papa-moscas-preto.

Chasco-cinzento (Oenanthe oenanthe):

Chasco-cinzento. Foto: Philippe Kurlapski/WikiCommons

Durante a migração, esta ave torna-se numa das espécies mais comuns em terrenos abertos, em especial no litoral. Procure-a em terrenos abertos, campos de restolho, dunas, zonas agrícolas ou terrenos incultos. Esta espécie tem uma população nidificante em Portugal, em especial nas terras altas do Norte e Centro do país, mas é pouco significativa. Nesta altura, a maioria dos chascos-cinzentos que podemos ver são as aves que estão de passagem a caminho de África, vindas de outros países europeus.

Cartaxo-nortenho (Saxicola rubetra):

Cartaxo-nortenho. Foto: Artur Mikołajewski/WikiCommons

Setembro é também uma excelente oportunidade para ver o cartaxo-nortenho, ave pouco comum em Portugal e com a sua característica sobrancelha branca. Como nidificante, esta ave “está confinada às serras do extremo Norte do país”, segundo o livro “Aves de Portugal Continental”. Mas nas migrações de Outono surge numa grande variedade de habitats. Procure-o em zonas abertas, em especial pousado em vedações ou em pequenos arbustos.

Papa-amoras (Sylvia communis):

Papa-amoras. Foto: Andreas Trepte/WikiCommons

O papa-amoras mede entre 13 e 15 centímetros, tem a cauda comprida, a cabeça cinzenta e a garganta quase branca. Procure esta ave de asas ruivas nas sebes, silvados e moitas. Talvez seja necessário um pouco de paciência, dado que esta bonita ave é esquiva. Segundo o livro “Aves de Portugal Continental”, as populações de papa-amoras diminuíram nas últimas décadas, especialmente devido às secas severas nas zonas do Sahel onde passa o Inverno. Por isso, o número de aves que por aqui passa no Outono é “consideravelmente mais reduzido do que no passado”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.