Sete livros a ler

Senhores do Bosque

OS SENHORES DA FLORESTA – UNGULADOS SILVESTRES EM PORTUGAL

Por Paulo Caetano e Joaquim Pedro Ferreira

Bizâncio

A história da nossa relação com veados, corços, javalis, gamos, cabras-monteses e muflões é o coração do novo livro desta dupla de autores portugueses que já nos trouxe “Cães de Gado” (2010), “Alerta!! Pelos Burros” (2012) e “Filhos do Auroque” (2013).

Desta vez a atenção centra-se nos ungulados silvestres, os animais com uma unha fendida, que forma dois dedos em cada pata. Há muito que partilham connosco os bosques ibéricos e há registos deles nas gravuras do Côa e em pergaminhos medievais. Este livro leva-nos a tempos passados, numa história de luta pela sobrevivência, mas também ao presente, desvendando como vivem estas espécies e de que forma as populações humanas se relacionam com elas.

 

Marta

A MESSAGE FROM MARTHA: THE EXTINCTION OF THE PASSENGER PIGEON AND ITS RELEVANCE TODAY

Por Mark Avery

Bloomsbury

Como desaparece para sempre uma ave que, em tempos, terá sido a mais comum do mundo? Esta é a história do pombo-passageiro e de Marta, a última da sua espécie, que morreu a 1 de Setembro de 1914, no Zoo de Cincinnati, Estados Unidos. Num ano em que se passaram 100 anos desde esta extinção, o cientista e naturalista britânico Mark Avery descreveu como vivia a ave, em bandos de milhares de indivíduos, e como, nas décadas finais do século XIX, sofreu um declínio abrupto. Avery viaja até aos Estados Unidos e visita as regiões onde viveu o pombo-passageiro. Da sua experiência, o investigador conclui lições que adequa às actuais questões de conservação.

Mas apesar do tema de fundo ser a perda, este livro está longe de ser um testemunho deprimente ou mais uma história da ganância humana. Avery quer dizer-nos que precisamos evitar que mais espécies conheçam o mesmo destino de Marta. Para isso, propõe que reforcemos a nossa relação com o mundo natural, do qual dependemos, e que ouçamos a mensagem desta última ave da sua espécie.

 

Sylva

THE NEW SYLVA

Por Gabriel Hemery e Sarah Simblet

Bloomsbury

Este é um livro grande, com 400 páginas. Mas lá dentro estão mais de 100 espécies de árvores e 200 desenhos a tinta-da-China. Visto assim, já não parece assim tão grande.

O silvicultor Gabriel Hemery e a desenhadora Sarah Simblet decidiram criar uma nova versão do livro “Sylva”, escrito em 1664 por John Evelyn. Até hoje esta é considerada uma das maiores obras sobre florestas alguma vez publicada.

Durante mais de dois anos, ambos dedicaram-se às árvores, entre as quais carvalhos, salgueiros, abetos, pinheiros e zimbros. Neste livro contam-nos a sua história, descrevem as suas características através das várias estações do ano e explicam aquilo que as árvores significam para nós, dos pontos de vista culturais, económicos e ambientais.

Além dos textos de Hemery, um apaixonado por árvores, as elegantes e rigorosas ilustrações de Simblet fazem deste um livro que é um gosto folhear.

 

nature

4M2 DE NATURE

Por Stéphane Hette, Marcello Pettineo e Emmanuel Fery

Art & Nature

A natureza não é um santuário longínquo, mas começa à nossa porta. Este é o mote do livro “4m2 de Nature”, que quer mostrar os tesouros naturais da região francesa de Champagne-Ardenne. Mas que também podiam ser os nossos. Ao longo de 192 páginas, somos convidados a conhecer 200 espécies, desde insectos a anfíbios e flores. A obra demorou vários anos a fazer mas valeu a pena. São 400 fotografias combinadas com 350 desenhos a lápis e aguarela, que fazem lembrar os cadernos dos naturalistas curiosos dos séculos XVI e XVII. Até as espécies que achávamos não ter grande interesse, talvez por serem demasiado comuns, surgem com uma beleza e pormenor que nunca antes tínhamos visto, com os seus hábitos e formas de viver explicados por textos simples e claros. O objectivo dos autores foi misturar ciência e natureza, modernidade e história para incentivar os leitores a descobrir o mundo natural que os rodeia.

(A Wilder falou com o ilustrador Marcello Pettineo. Saiba mais sobre este desenhador naturalista aqui)

 

Abuzzinthemeadow

A BUZZ IN THE MEADOW

Por Dave Goulson

Vintage Books

Um dia, Dave Goulson comprou uma quinta abandonada no coração da França rural. Durante dez anos transformou 13 hectares de prados num sítio único para os abelhões e muitos outros insectos viverem. A história deste professor de biologia e autor do livro “A Sting in the Tale”, publicado no ano passado, está contada nas páginas do “A Buzz in the Meadow”, com a dose certa de humor. Incluindo os bastidores das experiências de campo dos cientistas.

Com Goulson aprendemos por que têm as borboletas manchas nas asas e muitas coisas sobre a vida de escaravelhos, libélulas e vespas.

Mas talvez o feito mais extraordinário deste livro é conseguir persuadir-nos a ir para o jardim ou varanda, a pormo-nos de gatas e a observar os insectos. A glória secreta da vida em todas as suas formas ainda está por descobrir.

 

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H IS FOR HAWK

Por Helen MacDonald

Jonathan Cape

A morte repentina do pai foi o acontecimento que fez com que Helen MacDonald decidisse seguir o seu sonho de criança e dedicar-se às aves, especialmente à falcoaria. Depressa ficou obcecada com a ideia de treinar o seu próprio gavião. A história desta escritora valeu-lhe, em Novembro passado, o primeiro lugar nos Prémios Samuel Johnson para não-ficção.

O livro, que alguns dizem poder tornar-se num clássico da escrita naturalista, é um testemunho da luta da escritora para sobreviver ao desgosto da morte do pai e para conseguir treinar uma ave tão selvagem.

Segundo Claire Tomalin, presidente do júri dos prémios, Helen MacDonald “escreveu um livro único sobre uma obsessão por uma criatura selvagem”, com uma prosa “por vezes técnica e sempre fascinante”.

 

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HERBACEOUS

Por Paul Evans

Little Toller Books

As alterações climáticas estão a mudar os padrões das estações do ano que tão bem conhecemos. Por isso, instintivamente, viramo-nos para o ciclo de vida das plantas para nos guiarem pelo ano.

“Herbaceous” é uma viagem que segue a evolução das plantas ao longo dos 12 meses, procurando novos ritmos num mundo em mudança. O despontar dos caules tenros, o florir de inúmeras espécies, a libertação das sementes e, por fim, o decair das plantas silvestres enriquecem o nosso dia-a-dia. Paul Evans, cronista no jornal britânico “The Guardian”, conta-nos as histórias, a beleza e o encanto deste mundo vegetal. E pede-nos para olharmos de maneira diferente para a nossa relação com as plantas, celebrando o seu poder para alimentar o espírito humano.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.