Urso-pardo dos Himalaias (Ursus arctos isabellinus), no Parque Natural de Kufri, Índia.

Retratos dos animais que estão a desaparecer chegaram ao Porto

Joel Sartore tem uma missão. Este fotógrafo está a fazer o retrato de 12.000 espécies de aves, peixes, mamíferos, répteis, anfíbios e invertebrados em perigo crítico de extinção para documentar a sua existência e salientar a importância da sua conservação. Até Abril poderá espreitar para esta “arca fotográfica” numa exposição de fotografia no Porto.

 

Das 12.000 espécies selvagens em perigo crítico de extinção, Joel Sartore já tirou o retrato a 7.297 espécies. A criação deste arquivo da biodiversidade global começou na sua cidade natal em Lincoln, no Nebraska, e já o levou até 40 países.

 

Lemur Nosy Be e Joel Sartore, em Madagáscar. Foto: Chun-Wei Yi/WGBH Educational Foundation

 

O método mantém-se. Este fotógrafo da National Geographic fotografa os animais de Jardins Zoológicos com um fundo branco ou preto e trata-os sempre com o mesmo respeito e admiração, quer sejam grandes ou pequenos. “É o contacto olhos nos olhos que emociona as pessoas”, comentou Sartore, referindo-se à expressão dos animais captada nas fotografias. “Isso motiva sentimentos de compaixão e um desejo de ajudar”, acrescentou, citado pela National Geographic.

 

 

A 17 de Outubro foi inaugurada a exposição Photo Ark com algumas das fotografias deste norte-americano na Galeria da Biodiversidade do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto. São cerca de 40 fotografias, infografias e vídeos de espécies em perigo num espaço com 250 metros quadrados.

 

Pantera da Florida

 

Através destas imagens, os visitantes podem ficar a saber mais sobre os animais representados e olhá-los nos olhos, sabendo que são espécies únicas e que, por isso mesmo, devem ser protegidas.

O objectivo desta exposição é sensibilizar os portugueses para um problema à escala mundial: a preservação de espécies em vias de extinção.

 

Nycticebus pygmaeus no Zoo e Aquário Henry Doorly em Omaha, Nebraska.

 

“O que transmite vai muito além das fantásticas fotografias com que o autor nos presenteia. Ao olharmos para as espécies da exposição é impossível ficarmos indiferentes a este problema, que é de todos nós e para a resolução do qual todos podemos contribuir”, comentou Nuno Ferrand de Almeida, diretor do museu.

Para o fotógrafo este é o momento de agir. “Esta é a melhor altura para salvarmos espécies porque são tantas as que precisam da nossa ajuda”, afirma, em comunicado.

 

Lagarto Phelsuma serraticauda, no Zoo de Houston.

 

Tudo começou quando, em 2005, a sua mulher Kathy foi diagnosticada com um cancro da mama. Entre quimioterapia, tratamentos de radiação e intervenções cirúrgicas, Sartore decidiu fazer uma pausa para poder estar junto da família e cuidar dos seus três filhos. Durante um ano ficou em casa, aproveitando para pensar na sua carreira.

Inspirado por John James Audubon – ornitólogo americano do século XIX que pintou várias aves que hoje já estão extintas -, por George Catlin, Edward Curtis e outros pintores e fotógrafos, uma questão surgiu na sua mente: como posso levar as pessoas a preocuparem-se com o facto de podermos perder metade de todas as espécies do mundo até ao final do século?

 

Grifo-africano (Gyps africanus), no Cleveland Metroparks Zoo.

 

Assim, em 2006, Sartore apresentou a ideia ao seu amigo John Chapo, presidente do Jardim Zoológico Lincoln Children’s, e pediu autorização para fotografar alguns animais.

Apesar da doença de Kathy, o Zoológico ficava perto de casa e podia trabalhar um pouco. Ao chegar ao Zoológico, o fotógrafo pediu apenas um fundo branco e um animal que permanecesse quieto.

 

Allactaga tetradactyla, no Zoo Plzen na República Checa.

 

Randy Scheer, o curador do zoológico, sugeriu um rato-toupeira-pelado e, por incrível que pareça, esta criatura pequena e humilde inspirou Sartore na sua missão de fotografar as espécies cativas do mundo e levar o público a preocupar-se com o seu destino.

Assim nascia o projecto Photo Ark que, através da comovente documentação de extraordinários animais cativos em todo o mundo, dá voz à biodiversidade, pedindo a sua conservação.

Agora, foi a vez de Sartore fotografar no Zoológico de Lisboa.

 

Joel Sartore no Zoo de Lisboa

 

A 18 de Outubro, este profissional esteve naquele Zoo e fotografou 11 espécies: girafa-de-angola (Giraffa camelopardalis angolensis), impala-de-face-negra (Aepyceros melampus petersi), leopardo-da-pérsia (Panthera pardus saxicolor), leão-africano (Panthera leo), lobo-ibérico (Canis lupus signatus), macaco-de-nariz-branco (Cercopithecus ascanius ascanius), tartaruga-da-lama-de-adanson (Pelusios adansonii), serpente-rei-oriental (Lampropeltis getula getula), caimão-anão (Paleosuchus palpebrosus), gralha-preta (Corvus corone) e milhafre-preto (Milvus migrans). Estes vão em breve integrar o Photo Ark.

“Receber o Joel Sartore e o seu projeto em Portugal e poder contribuir para o crescimento do Photo Ark é um motivo de enorme orgulho”, disse Vera Pinto Pereira, Executive Vice-President Portugal e Espanha da National Geographic Partners. “O Jardim Zoológico tem realizado um trabalho fantástico na conservação de centenas de espécies e algumas delas vão agora percorrer o mundo, num projecto único que pretende mobilizar os cidadãos para a necessidade de proteção da biodiversidade no nosso planeta.”

 

Tartaruga (Astrochelys yniphora), no Turtle Conservancy.

 

“O Photo Ark é uma das missões mais importantes da National Geographic. Através do extraordinário trabalho de Joel Sartore, esperamos inspirar e sensibilizar os portugueses para esta missão. Sabemos que até os mais pequenos gestos podem ter um impacto muito positivo no futuro destas espécies e do mundo animal. Por isso é tão importante mobilizar todos, porque todos podemos fazer a diferença.”

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

A Galeria da Biodiversidade e a exposição estão abertas de Terça-feira a Domingo, entre as 10h00 e as 18h00.

Saiba aqui quais os preços dos bilhetes e outras informações.

Conheça melhor o trabalho de Joel Sartore aqui e o projecto Photo Ark.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.