Paisagem do Baixo Vouga Lagunar. Foto: Vasco Neves/Wiki Commons

Ver garças-vermelhas e mergulhar no contraste das paisagens do Baixo Vouga

A Primavera é um dos melhores momentos do ano para descobrir o mundo natural. Bióloga da Universidade de Aveiro e responsável pela associação BioLiving, Milene Matos sugere uma região portuguesa que “é um mosaico de paisagens contrastadas, mas em harmonia, onde a Natureza se faz sentir”. “Vale bem uma visita com tempo e calma!”, convida.

 

Wilder: Qual é o local que gostava de dar a conhecer, neste início de Primavera?

Milene Matos: A região do Baixo Vouga Lagunar [situada nos concelhos de Estarreja, Aveiro e Albergaria-a-Velha.] Em concreto, para quem visitar a região, destacaria a Pateira de Frossos, os percursos do BioRia, a Pateira de Taboeira e as áreas de ‘Bocage’ de Albergaria-a-Velha e Cacia.

 

Foto: Vasco Neves/Wiki Commons

 

W: Por que razão é que sugere o Baixo Vouga Lagunar?

Milene Matos: O Baixo Vouga é um ecossistema húmido complexo que, no seu conjunto, não tem paralelo em Portugal.

Alberga uma fauna e flora muito diversificadas, com muitas espécies protegidas, mas é também um laboratório vivo no que respeita às dinâmicas hídricas (pois aqui as águas são doces, salgadas e salobras) e à conciliação das actividades humanas com a conservação da natureza.

É um mosaico de paisagens contrastadas, mas em harmonia, onde a Natureza se faz sentir. Vale bem uma visita com tempo e calma!

 

Foto: ObservaRia

 

W: Quais são as espécies que se podem encontrar, facilmente, nesta região?

Milene Matos: Em termos de fauna, posso destacar as aves e os anfíbios. Embora o Baixo Vouga tenha interesse em qualquer estação do ano, é na Primavera que se poderá observar a reprodução da garça-vermelha (aqui com a maior colónia reprodutora em Portugal), aves paludícolas (como o rouxinol-pequeno-dos-caniços ou a escrevedeira-dos-caniços), aves de rapina diversas, como a águia-sapeira ou o peneireiro-cinzento, e também aves florestais, como os chapins e picapaus.

 

Garça-vermelha. Foto: Yathin S. Krishnappa/Wiki Commons

 

O Baixo Vouga é também um dos locais de Portugal onde mais espécies raras se têm registado.

As noites são certamente animadas pelos anfíbios, principalmente se chover. No início da Primavera, relas, sapos e rãs fazem coros de múltiplas espécies (como a rã-verde, a rã-de-focinho-pontiagudo, o sapo-corredor), que vale a pena escutar.

 

Sapo-corredor. Foto: Marek Szczepanek/Wiki Commons

 

Em termos de flora e paisagem, na minha opinião, o destaque no Baixo Vouga vai para os caniçais ladeados pela mais extensa área de ‘Bocage’ genuíno, com os seus típicos retângulos de pastagem delimitados por valas e sebes vivas de carvalho-alvarinho, salgueiros e amieiros.

 

[divider type=”thin”]Série Passeios de Primavera:

Nesta Primavera, com a ajuda de especialistas no mundo natural, a Wilder vai sugerir-lhe alguns dos melhores passeios para ver de perto o que está a acontecer na natureza.

Para começar, conheça as flores da Serra de Montejunto e das Serras de Aire e Candeeiros.

Se tiver sugestões, pode enviar-nos texto e imagens para [email protected].

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Entre os dias 6 e 9 de Abril, realiza-se a Feira ObservaRia, no Esteiro de Salreu, Estarreja, na região do Baixo Vouga Lagunar. Leia aqui o que poderá encontrar nesta feira de turismo de natureza e observação de aves.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.