Uma visita à Serra de Sicó, a casa de morcegos, orquídeas e carvalhos

Aqui ficam três razões para visitar as terras de Sicó na Primavera, um guia fotográfico naturalista sugerido por Manuel Malva e Pedro Gomes.

 

A Primavera transforma a Serra de Sicó e enche-a de vida e de estórias. Estas são sugestões para visitar este lugar de grande valor para a vida selvagem na Beira Litoral, entre Condeixa-a-Nova e Pombal.

 

Um dos maiores canhões do maciço do Sicó

 

Aqui há paisagens únicas e características, originadas pelos “afloramentos de rochas básicas e ultrabásicas, (…) que destoam do interminável eucaliptal em que grande parte da zona centro litoral se converteu”, escrevem Manuel Malva e Pedro Gomes.

 

Destruição de parte do carvalhal para plantação de eucalipto

 

Nos vales, olivais, vinhas e pequenas hortas vive um leque muito diversificado de fauna e flora. Em zonas mais altas, “a água molda o relevo e a rocha”, com “elevações suaves que alternam com formações geológicas sumptuosas”.

Nas encostas da serra, procure as “luxuriantes florestas de carvalho-português” que “explodem de verde e de vida” depois do Inverno. De acordo com os autores, “nesta zona ocorrem as maiores florestas desta espécie de todo o mundo”. Razão mais do que suficiente para uma visita.

 

Floresta de carvalho-português

 

“As árvores mais velhas, com cavidades naturais, rareiam e têm elevada importância para muitas espécies que dependem deste tipo de cavidades para se reproduzir ou proteger.”

No entanto, salientam, “apesar da sua elevadíssima riqueza e importância, vergonhosamente estas formações arbóreas não usufruem de qualquer tipo de proteção legal, verificando-se uma contínua deterioração desta riqueza, seja por ação do fogo, corte mal gerido ou reconversão para plantação de eucalipto”.

 

O rasto do fogo. Apenas as formas de antigos muros agrícolas prevalecem

 

Além de uma visita aos carvalhais, a descoberta de orquídeas selvagens é uma experiência imperdível. E aqui, estes verdadeiros embaixadores botânicos “despontam intensamente” na Primavera.

 

Orchis morio

 

Orchis italica

 

Quanto à fauna, os morcegos são uma peça central nesta região onde a “dissolução do calcário levou à abertura de extensas grutas e algares”.

 

 

(Imagem invertida)

 

Estes servem de abrigo aos morcegos. “Existem aqui importantes abrigos a nível nacional para a época de maternidade e hibernação destes animais.”

 

Morcego-de-ferradura-mediterrânico

 

“Espécies como o morcego-de-ferradura-mediterrânico, o morcego-de-ferradura-grande e o morcego-de-peluche encontram nestas cavidades condições favoráveis para o estabelecimento de populações de centenas ou até mesmo milhares de indivíduos. Com o decorrer da Primavera, estes animais vão-se progressivamente aglomerando nestes abrigos para dar início à época de maternidade.”

 

Entrada de uma gruta de grande importância para a época de maternidade de morcegos

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Descubra a família de ginetas que Manuel Malva seguiu e estudou durante um ano, na região de Coimbra.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.