Que espécie é esta: Aranha cesteira-dos-prados

O leitor António Pereira fotografou esta aranha em Julho de 2020 em Porto Salvo, e pediu ajuda para saber a espécie. Sérgio Henriques responde.

 

Trata-se de uma fêmea de aranha-cesteira-dos-matos (Argiope lobata).

Espécie identificada e texto por: Sérgio Henriques, líder do grupo de especialistas em aranhas e escorpiões da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e especialista da Sociedade Zoológica de Londres.

Esta é uma fêmea de Argiope lobata, uma das maiores e mais belas aranhas da nossa fauna. 

A sua coloração prateada pode parecer estranha, mas na natureza a sua forma em roseta permite que passe despercebida por uma planta, enquanto que a sua cor reflete muito bem a luz (e por conseguinte o calor) do sol nos nossos longos dias de verão.

É uma espécie que costuma ser encontrada no meio da sua teia.

São animais muito desastrados no chão (como um leão seria desastroso numa corda bamba), mas na sua teia são rápidos e ágeis predadores que conseguem capturar, paralisar e enrolar as suas presas em poucos segundos. 

A sua teia tem a forma característica que estamos habituados a ver em filmes como o homem aranha, ou em decorações do dia das bruxas, a que chamamos na literatura científica de teia orbicular. Esta espécie em particular constrói ainda um zig zag de seda mais espessa no meio da sua teia a que chamamos de stabilementum, por se pensar que serviria para estabilisar teia. Hoje sabemos que as teias são extremamente estáveis sem esta estructura e que o stabilementum serve, na verdade, para evitar que as aves colidam contra a teia, enquanto simultaneamente atraem insectos voadores, como os mosquitos, que pensam ser uma pista de aterragem, no que acaba por ser o seu último voo.

Os machos são muitíssimo mais pequenos que as fêmeas, com uma forma quase afilada e padrão com duas linhas escuras que os fazem parecer membros de uma outra espécie totalmente diferente. São mais frequentemente encontrados a viver nas margens da teia da fêmea, onde ficam a tentar garantir que são o único amor da sua vida. Quando a relação é bem sucedida o resultado é muito bem guardado num saco de ovos em forma de cesto, feito com seda cor de ouro, que também é bastante distinto nesta espécie. 

São animais extraordinários de observar e, para mim, é sempre um privilégio poder encontrá-los na natureza.


Agora é a sua vez.

Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie para o nosso email o seu nome, a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.

Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.