Que espécie é esta: aranha de casa

O leitor Nuno Fonseca fotografou esta aranha a 31 de Dezembro na Arrábida e quis saber a que espécie pertence. Sérgio Henriques responde.

“Temos umas aranhas nas portadas da nossa casa. Queria saber que cuidados devemos ter, se são perigosas se as podemos tirar dali, etc”, escreveu o leitor à Wilder.

“São portadas de madeira que fecham o vão grande que dá para o alpendre, virado a sul. Elas instalaram-se debaixo da travessa inferior das portas, do lado de dentro. Há algum tempo que não íamos lá.”

Tratar-se-á de uma aranha-de-casa (Tegenaria sp.).

Espécie identificada e texto por: Sérgio Henriques, líder do grupo de especialistas em aranhas e escorpiões da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e especialista da Sociedade Zoológica de Londres.

Esta parece ser uma fêmea do grupo Tegenaria/Eratigena. São aranhas comuns em casas e inofensivas.

As aranhas do grupo Tegenaria são difíceis de identificar, com alguns géneros próximos que não costumam ter anéis nas patas (Eratigena) mas com o qual estas aranhas se confundem.

Ainda são descritas espécies novas para a Ciência deste grupo para Portugal. Mas este grupo é um habitante comum das casas portuguesas. Estas aranhas constroem uma teia em funil que lhes dá o nome e comem os insectos que nos podem transmitir doenças ou contaminam a nossa comida.

Estas espécies que possivelmente viveriam originalmente em cavidades nas rochas, ou mesmo em entradas de cavernas, acham as nossas casas um bom substituto ao habitat natural que nós lhes tiramos. Embora muito mais seco. É por isso que, normalmente, se encontram ou nas casas de banho ou nas cozinhas. Porque têm sede.

Os pequenos animais tentam beber as gotas que deixamos na banheira ou no lava-loiça e, uma vez lá dentro, não conseguem sair.

O melhor para evitar encontros e salvar a vida a muitas destas criaturas será deixar uma toalha ou um pano nessas superfícies escorregadias. A aranha usa-a como escada para subir e volta à sua/nossa casa com a sede saciada e pronta a defender-nos por mais um dia.

Aqui fica um vídeo de uma aranha do mesmo grupo que ficou com as patas emaranhadas em pó da casa. Mas que quando se apercebeu que a pessoa que a encontrou só a queria ajudar, ficou bem calma e não só deixou que as patas fossem limpas, como as levantou.


Agora é a sua vez.

Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie-nos para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.

Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.


Já que está aqui…

Apoie o projecto de jornalismo de natureza da Wilder com o calendário para 2021 dedicado às aves selvagens dos nossos jardins.

Com a ajuda das ilustrações de Marco Nunes Correia, poderá identificar as aves mais comuns nos jardins portugueses. O calendário Wilder de 2021 tem assinalados os dias mais importantes para a natureza e biodiversidade, em Portugal e no mundo. É impresso na vila da Benedita, no centro do país, em papel reciclado.

Marco Nunes Correia é ilustrador científico, especializado no desenho de aves. Tem em mãos dois guias de aves selvagens e é professor de desenho e ilustração.

O calendário pode ser encomendado aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.