Que espécie é esta: aranha-de-cruz

A leitora Marta Alves encontrou esta aranha na Amadora no final de Outubro de 2021 e pediu ajuda na identificação. Pedro Sousa responde.

“Tenho este belo exemplar de aracnídeo na minha propriedade, na Amadora. Infelizmente, decidiu fazer a sua casinha mesmo na entrada da minha casa do forno e dada a envergadura da tecelagem [e do bicho!!!], já ninguém consegue lá entrar… Queria conseguir removê-la e colocá-la noutro sítio onde possa ser feliz e que também nos deixe voltar a cozer pão. Fiz uma pesquisa muito breve e parece ser uma aranha de cruz. Confirmam? Também gostaria de saber se é perigosa para as minhas crias, não só para perceber como manusear, mas também para saber quão longe preciso de a realojar”, escreveu a leitora à Wilder.

Trata-se de uma aranha-de-cruz (Araneus sp.)

Espécie identificada e texto por: Pedro Sousa, investigador do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos).

É uma aranha de cruz, sim 🙂

Mas em Portugal há duas aranhas de cruz! No Biodiversity4All chamam-lhes: Tecedeira-de-Cruz-Cosmopolita (Araneus diadematus) e Tecedeira-de-Cruz-Pálida (Araneus pallidus).

A Tecedeira-de-Cruz-Cosmopolita é a mais comum e a mais provável candidata. Mas não é possível ter a certeza pois as espécies são muito semelhantes e a foto que mostra a parte de cima da aranha, com a cruz, não tem suficiente qualidade para me permitir distinguir.

A Tecedeira-de-Cruz-Pálida tem duas projeções muito óbvias na parte de cima do abdómen, que não me parecem existir na imagem. Por outro lado parece ter um abdómen bastante arredondado.

Pode ver as diferenças entre as espécies nos links que deixo acima. Para termos a certeza teríamos que ter fotos com qualidade da face ventral do abdómen da aranha.

Em relação a ser perigosa, não, não creio que seja perigosa. Nesta altura do ano elas são muito grandes pois chegaram ao tamanho adulto e preparam-se para colocar os ovos, dentro de um grande casulo de teia, de onde sairão os juvenis que se tornarão adultos apenas no próximo ano.

Estas aranhas são suficientemente grandes para morder alguém se forem provocadas, por exemplo se alguém as tentar esmagar. Mas não são agressivas e, como quase todas as aranhas, preferem esconder-se ou “deixar-se” cair da teia se algum perigo se aproximar.

Também não conheço qualquer registo de um caso de alguém mordido por este tipo de aranha e que tenha tido problemas, e estas aranhas são muito comuns e abundantes.


Agora é a sua vez.

Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie-nos para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.

Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.