Que espécie é esta: aranha-dos-troncos-grande

O leitor António Miguel encontrou esta aranha em Coimbra a 24 de Dezembro de 2020 e pediu ajuda para saber qual a espécie. Sérgio Henriques responde.

Trata-se de uma aranha-dos-troncos-grande (Zoropsis spinimana).

Espécie identificada e texto por: Sérgio Henriques, líder do grupo de especialistas em aranhas e escorpiões da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e especialista da Sociedade Zoológica de Londres.

Esta é uma fêmea de Zoropsis spinimana, uma espécie que costuma ser avistada com alguma frequência no Inverno, se bem que aparecer assim num carro é bastante invulgar. No entanto, como gostam de se abrigar do frio em garagens eu desconfio que foi assim que apanhou boleia.

Esta espécie passa muito tempo no seu abrigo de seda semelhante a algodão doce e no Inverno eu esperaria que passe ainda mais tempo abrigada do frio. Pelo que, para ter aparecido num carro, provavelmente a sua casa foi perturbada, o que também acontece com alguma frequência no inverno, em especial quando o seu abrigo é construído em amontoados de lenha (muitas vezes armazenados em garagens) e essa lenha é mexida ou retirada para queimar.

A minha sugestão é que no Inverno, ao colocar lenha na lareira, confirme se nenhum animal fez desse tronco a sua casa. E se encontrar nele um vizinho que não esperava, liberte-o na natureza onde seguramente desempenhará o seu paper natural a eliminar as pestes que destroem a propriedade (como as térmitas), contaminam a nossa comida (como muitas moscas) ou transmitem doenças (como os mosquitos). 

A aranha-dos-troncos-grande é uma espécie de aranha bastante grande para o tamanho médio da nossa aracnofauna e pode, por vezes, ser bastante colorida com tons laranja-ferrugem. 

É um animal grande, colorido e comum em casas.

Costuma ser mais avistada em garagens e barracões no Inverno, quando fica mais frio e as nossas infrastrutura são abrigos com muito bom aspecto para uma pobre criatura com frio.

Estas espécies são sobretudo nocturnas e passam grande parte do seu tempo num casulo de seda branca e macia, que se assemelha a algodão doce. Os seus abrigos e ninhos são normalmente feitos em cascas de árvore, escarpas rochosas ou debaixo de pedras. Mas um muro de pedra também faz um bom lar, e se não houver nenhum à mão, uma vedação de ferro com um portão ou also parecido também pode servir. São animais bastante adaptáveis.

Embora o seu tamanho lhe permita perfurar a pele humana (algo que poucas aranhas conseguem fazer), raramente o faz, e se for obrigada a isso, a sua mordedura não é perigosa.


Agora é a sua vez.

Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie-nos para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.

Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.