Que espécie é esta: aranha Euryopis episinoides

O leitor José Pereira fotografou esta aranha a 1 de Dezembro de 2020 em São João do Estoril, Cascais, e quis saber qual a espécie. Sérgio Henriques responde.

“Encontrei esta aranha na parede de um prédio em São João do Estoril, Cascais, e gostaria de saber que espécie é”, escreveu o leitor à Wilder.

Tratar-se-á de uma aranha Euryopis episinoides.

Espécie identificada e texto por: Sérgio Henriques, líder do grupo de especialistas em aranhas e escorpiões da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e especialista da Sociedade Zoológica de Londres.

Esta aranha parece ser uma fêmea juvenil de Euryopis episinoides

Os adultos desta espécie nunca têm mais de 3mm de comprimento, mas é um predador bem especial da nossa fauna, que somente come formigas. 

O seu abdomen pontiagudo e coloração brilhante azeitona é muito característico; estas aranhas costumam ser mais facilmente observadas quando habitam sobre as paredes brancas do nosso país. Ainda assim, o seu habitat natural são rochas onde passam completamente despercebidas.

Um vestígio inconfundível da sua presença são os restos das suas presas que muitas vezes deixa nas nossas paredes. Quando vir uma formiga morta numa parede, lá no alto, é bem provável que o seu corpo esteja preso à parede com seda (senão teria caído) e é bem provavel que tenha sido caçada e deixada aí por uma Euryopis.

Esta aranha prefere comer agúdias (formigas do género Messor), também chamadas formigas-de-asa pelo grande número de indivíduos alados que podem ser muito numerosos na altura de dispersão desta formiga. 

As agúdias são formigas granivoras e os seus longos rastos em prados são muito característicos onde, por vezes, (sobretudo à noite) podem ser vistas a carregar grão (sementes selvagens de ervas). Foi este comportamente que originou seu nome científico, pois Messor é o nome de uma figura mitológica responsável pela ceifa de colheitas.

As Euryopis estão tão ligadas a estas formigas que as fêmeas desta aranha depositam os ovos perto do ninho das formigas e as pequenas aranhas quando nascem já conseguem caçar formigas 10 vezes maiores que elas. Para dar uma perspectiva do quão impressionantes estas aranhas são, isto seria como um gato doméstico ser capaz de capturar um touro adulto sozinho, se esse touro conseguisse jorrar ácido fórmico e tivesse mandíbulas duas a três vezes maiores que o gato.


Agora é a sua vez.

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Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.