Que espécie é esta: lontra?

O leitor Ricardo Madeira fotografou estes excrementos no início de Junho entre Serpa e Mértola e pediu ajuda na identificação da espécie. Francisco Álvares responde.

“Gostaria de saber se conseguem identificar a possível espécie que defecou os seguintes excrementos”, escreveu o leitor à Wilder.

“Foram encontrados junto a uma barragem natural que tenho na minha propriedade que fica entre Serpa e Mértola, fotografadas início do mês. Serão de ave? Garça-real? Ou mamífero? Lontra? Parecem ser restos de crustáceos de água doce, não são muito grandes, terão entre 4-10 centímetros.”

Tratar-se-ão de excrementos de lontra (Lutra lutra).

Espécie identificada por: Francisco Álvares, investigador do CIBIO-InBIO, especializado em mamíferos carnívoros.

“É dificil, com base simplesmente numa foto, ainda por cima sem escala” identificar com toda a certeza a espécie, disse à Wilder o investigador.

“Mas caso o excremento esteja perto de um curso de água, poderá ser de lontra, tendo por base o aspecto do excremento (disperso e pouco formado) e o seu conteúdo (parecem ser restos de lagostim-da-lousiana).”

Outros vestígios de lontra, além dos dejectos com restos de lagostins (uma das suas presas preferidas) em cima de pedras que sobressaem de rios e ribeiras, são as pegadas com cinco dedos marcados (em solos mais duros pode ver apenas quatro; em solos mais macios até pode ver a membrana interdigital) e uma grande almofada palmar, com 6-8 centímetros de comprimento e 5.5-6 centímetros de largura.

A lontra é um mamífero da família Mustelidae. Pode chegar aos 90 centímetros de comprimento e ter uma cauda até aos 47 centímetros.

Lontra. Foto: Alexander Leisser/WikiCommons

Alimenta-se, principalmente, de peixes, anfíbios, crustáceos e insetos.

Segundo o site do Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental, as lontras “vivem normalmente em zonas húmidas de água doce, como rios, ribeiras, pauis, lagoas e albufeiras. Contudo também podem ocorrer em ambientes salobros, como os estuários, ou mesmo frequentar ambientes de água salgada no litoral. Preferem habitats ripícolas por proporcionarem simultaneamente um fácil acesso ao meio aquático e refúgio”.

Esta espécie ocorre por todo o país, excluindo os arquipélagos dos Açores e da Madeira.

O seu estatuto de conservação é Pouco Preocupante.


Agora é a sua vez.

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Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.