Que espécie é esta: morcego do género Pipistrellus sp.

A leitora Catarina Moniz fotografou este morcego na cidade de Coimbra a 28 de Fevereiro e pediu ajuda na identificação. Paulo Barros responde.

“Esta manhã (de dia 28 de Fevereiro) encontrei um morcego na varanda, a dormir no parapeito. Colocámos um cartão por cima dele para que não apanhasse sol, mas estranhámos o local escolhido para passar o dia. Conseguem identificar a espécie e esclarecer se este comportamento é normal? Em cima do parapeito vê-se que deixou alguns excrementos”, escreveu a leitora à Wilder.

Trata-se de um morcego do género Pipistrellus sp.

Espécie identificada por: Paulo Barros, investigador na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e membro da equipa de investigadores para os morcegos do Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental

“Parece-me ser um Pipistrellus sp.”, explicou Paulo Barros.

“Este tipo de comportamento, embora não seja normal, é algo que pode ocorrer nos dias em que a temperatura é anormalmente elevada no inverno, pois estes eventos de calor anormal podem provocar a interrupção do torpor dos morcegos.”

Segundo o investigador, apenas é possível identificar o género, não a espécie.

Há morcegos mais fáceis de identificar e algumas espécies são mesmo inconfundíveis, como o morcego-rabudo (Tadarida teniotis). Mas tal não é o caso do morcego da fotografia que o leitora nos envia.

Para identificar a espécie (das três que ocorrem em Portugal do género Pipistrellus) seria necessário “ter o bicho na mão”, explica Paulo Barros.

Algumas das formas de distinguir essas três espécies são, por exemplo, observar a “coloração dos órgãos genitais e a forma como as nervuras das asas são apresentadas”, explica o investigador. Normalmente, é necessário observar um conjunto de características distintivas para chegar à espécie.

Os morcegos do género que o leitor observou, Pipistrellus, são das espécies de morcegos mais comuns no nosso país. Por exemplo, o morcego-anão (Pipistrellus pipistrellus) ocorre frequentemente nas cidades. “É fácil de o vermos a voar à volta dos candeeiros.”

Estes são morcegos fissurícolas, isto é, abrigam-se debaixo de telhas e em fissuras nos edifícios, mesmo com apenas alguns milímetros de largura. Por isso, as cidades são “óptimos refúgios para estes morcegos”.

A maior parte dos morcegos que, por vezes, encontramos dentro das nossas casas são do género Pipistrellus.

E os morcegos “retribuem”. Segundo Paulo Barros, “são óptimos controladores de insectos, como melgas e mosquitos, e podem consumir até metade do seu peso numa noite. Podem comer até um milhar de insectos por noite”.


Agora é a sua vez.

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Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.