Foto: Hugo Silva

Que espécie é esta: ouriços-da-areia

O leitor Hugo Silva encontrou estes “tesouros” na Ria Formosa, a 27 de Junho, e quis saber do que se tratava. Dora Jesus responde.

“Encontrámos […] estes tesouros durante a maré vazia na Ria Formosa e ficámos intrigados com o que seria. À primeira vista parecem crânios, depois pareceram-nos ovos, mas não temos de todo a certeza”, descreveu Hugo Silva à Wilder.

Trata-de duas espécies de ouriços-da-areia, com os nomes científicos Echinocardium mediterraneum (no canto inferior esquerdo, o exemplar maior) e Echinocardium cordatum (os restantes exemplares).

Espécies identificadas e texto por: Dora Jesus, bióloga marinha da Universidade de Aveiro.

Estes ouriços são equinodermes, parentes das estrelas do mar, pepinos do mar, das estrelas do mar quebradiças e dos lírios do mar. Pertencem ao grupo dos ouriços designados como irregulares (têm uma forma semelhante à do coração, sendo conhecidos em inglês por ‘Heart urchins’). Isto porque a sua simetria pentaradial – dividida em 5 parte iguais, que é comum a todos os equinodermes – não é evidente como acontece com os ouriços que encontramos nas poças de maré.

Exemplar de Echinocardium cordatum ainda com os espinhos. Foto: Hans Hillewaert/Wiki Commons

Como o nome comum indica, vivem enterrados na areia a cerca de 10 a 20 cm de profundidade, abrindo um pequeno furo para a superfície por onde fazem passar uns pequenos tubos, essencialmente para manter um abastecimento contínuo de água fresca para os seus corpos e para a respiração.

Os seus espinhos são frágeis mas fortes, estão deitados ao longo do corpo e alinhados para a parte posterior do mesmo. Servem para evitar que a areia colapse em cima deles, ajudando a criar uma “câmara de ar” ao seu redor.

Alimentam-se da matéria orgânica (plantas e animais) no sedimento, sendo o alimento transportado até à boca pelos pés ambulacrários que têm espalhados pelo corpo.

As duas espécies presentes na fotografia distinguem-se essencialmente devido:

– à depressão/sulco na região ambulacral anterior, bem presente e visível no E. cordatum (ver exemplar do meio), e

– à fascíola, que é uma banda de pequenos espinhos em forma de pena, que nestas espécies toma a designação de endopetálica porque está por dentro das petálas de poros. No caso do E. cordatum, a fascíola vai desde a união das pétalas posteriores e sobe em direção à zona ambulacral anterior, acompanhando a depressão/sulco sem se fechar aparentemente (neste exemplar é mais perceptível no seu lado direito). Quanto ao E. mediterraneum, essa banda fecha antes de se atingir o extremo da zona ambulacral, e no exemplar do canto inferior esquerdo vê-se nitidamente essa banda, larga e com uma coloração mais escura.


Agora é a sua vez.

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Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.