lobo ibérico
Lobo ibérico conservado no Museu de História Natural, Lisboa. Foto: Joana Bourgard

Mais de 20 organizações pedem fim das batidas ao lobo nas Astúrias

Um documento assinado por 23 organizações espanholas pede hoje ao Governo do Principado das Astúrias o fim das batidas ao lobo-ibérico (Canis lupus signatus).

 

Esta tomada de posição surge depois de em Setembro ter entrado em vigor o novo Programa para o Controlo do Lobo nas Astúrias, para 2017-2018. Este documento, entretanto já denunciado como ilegal pela organização WWF – Espanha, dá luz verde para a caça indiscriminada de lobos-ibéricos numa área de 3.300 quilómetros quadrados, o que corresponde a cerca de um terço do território da região. Além disso, autoriza as batidas aos lobos por caçadores em qualquer época do ano.

Hoje, 23 organizações – entre elas a Asociación para la Conservación y Estudio del Lobo Ibérico, Circulo Animalista de Podemos Asturias, Lobo Marley e a Sociedad Española de Ornitología – SEO/BirdLife – juntaram-se para lembrar ao Governo das Astúrias que as batidas violam a legislação e que o lobo é uma espécie protegida pela União Europeia desde 1992, através da Directiva Habitats.

Por outro lado, salientam, o lobo não é uma espécie cinegética nas Astúrias. Segundo o Regulamento da Caça, de 1991, apenas se podem caçar as espécies incluídas nos seus anexos, com excepções. Estas serão justificadas por questões de índole biológica ou por danos causados.

O documento assinado pelas 23 organizações recorda que o Governo das Astúrias já reconheceu que os danos diminuíram significativamente nos últimos anos. Por isso, “não se pode aplicar o carácter excepcional previsto no regulamento da caça”, explicam em comunicado.

Para estas organizações “não é aceitável que se estejam a autorizar batidas ao lobo”, “sem fazer públicas as resoluções das batidas nem a justificação da dita medida excepcional”.

Assim, as organizações apelam ao Governo para encontrar “soluções de consenso para o conflito e para fomentar o uso de medidas preventivas para que diminuam os possíveis danos provocados pelo lobo”. O documento lembra ainda a importância de pagar, “sem demoras”, os possíveis danos.

“Pedimos que se deixem de fazer declarações institucionais contra o lobo, o que em nada beneficia nem a criadores de gado, nem a espécie, nem a conciliação entre a conservação da natureza e o desenvolvimento do mundo rural.”

Perante o Programa para o Controlo do Lobo, a WWF revelou em Setembro ao jornal espanhol Público que está a pensar em fazer uma denúncia à Comissão Europeia. “É ilegal”, disse então Luis Suárez, responsável pelas Espécies na WWF – Espanha, àquele jornal. “Erradicar a espécie de regiões inteiras é uma medida completamente indiscriminada e injustificada que contradiz a directiva europeia.”

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.