O biólogo Eli Wyman com um espécime de abelha-gigante-de-Wallace (Megachile pluto). Foto: Clay Bolt

A maior abelha do mundo foi redescoberta passados 38 anos

O último registo oficial de uma abelha-gigante-de-Wallace era de 1981. Mas no final de Janeiro deste ano, o raro insecto foi fotografado e filmado vivo pela primeira vez, na floresta de uma pequena ilha na Indonésia.

 

Numa pequena ilha do Norte da Indonésia, uma equipa de investigadores encontrou a maior espécie de abelha do mundo. A abelha-gigante-de-Wallace (Megachile pluto) pode ser quatro vezes maior que uma abelha do mel europeia.

A espécie andava perdida para a Ciência desde 1981.

Quando alguns entomólogos estavam prestes a desistir da esperança de que este animal ainda sobrevivesse, tendo em conta a rápida desflorestação em muitas regiões da Indonésia, no ano passado, os investigadores encontraram num museu holandês um espécime que tinha sido recolhido da natureza em 1991. Além disso, outras duas abelhas, recolhidas recentemente, tinham ido a leilão, sendo vendidas a colecionadores privados, uma por cerca de 8.000 euros e a outra por 3.650 euros.

Decididos a investigar, no final de Janeiro deste ano, uma equipa de investigadores – da Universidade de Princeton, da Universidade de Sidney, da Universidade Central de Queensland, da Universidade de Saint Mary no Canadá – e guias locais partiram à procura do insecto.

Depois de cinco dias à procura na floresta tropical numa pequena ilha da Indonésia, e no penúltimo dia da expedição, finalmente encontraram a abelha-gigante-de-Wallace.

“Depois de fazer a dança da alegria, fotografei a abelha e captei algumas imagens em vídeo”, conta Clay Bolt, o fotógrafo de vida selvagem que captou a primeira fotografia desta abelha viva.

 

O fotógrafo Clay Bolt faz as primeiras fotos de uma abelha-gigante-de-Wallace viva. Foto: Simon Robson/Global Wildlife Conservation

 

“Foi simplesmente incrível ver o quão bonita e grande é esta espécie e ouvir o som das suas asas gigantes quando passou a voar rente à minha cabeça”. “Foi absolutamente de tirar o fôlego ver este insecto “bulldog voador”, ter provas reais mesmo à nossa frente de que ainda existe em estado selvagem”, acrescentou, em comunicado.

A abelha-gigante-de-Wallace é uma das 25 espécies da lista do projecto Search for Lost Species, coordenado pela Global Wildlife Conservation. Depois da salamandra trepadora de Jackson, é a segunda espécie desta lista cuja sobrevivência está confirmada.

“Simplesmente saber que esta abelha gigante voa nesta floresta antiga da Indonésia ajuda-me a sentir que, num mundo com tanta perda, ainda há esperança e maravilhas”, comentou Clay Bolt.

 

A maior espécie de abelha do mundo

O intrépido naturalista Alfred Russel Wallace terá sido o primeiro a recolher a espécie, em 1859, quando explorava a Ilha Becan, no Norte da Indonésia. Conseguiu recolher apenas uma fêmea, descrevendo-a como “um insecto grande e preto, parecido a uma vespa, com presas imensas como uma vaca-loura”. Na altura ainda não se sabia por que razão têm as fêmeas as mandíbulas tão grandes. Este mistério só viria a ser resolvido mais de um século depois.

Apesar do tamanho do insecto, passaram-se décadas sem mais nenhuma observação daquela que ficou conhecida como a abelha-gigante de Wallace.

Isto até o entomólogo norte-americano Adam Messer ter visto a abelha, em 1981, na ilha Halmahera, não muito longe do local onde Wallace tinha encontrado o insecto. Estudos posteriores revelaram que não apenas estava presente na ilha Becan como também vivia na ilha muito mais pequena de Tidore.

Messer descobriu por que razão as fêmeas têm mandíbulas tão grandes. É que as abelhas constroem os seus ninhos nos montículos de térmitas da espécie Microcerotermes amboinensis, nos troncos das árvores. Para fazer túneis e câmaras, as abelhas usam as suas grandes mandíbulas para recolher e transportar resina de outras árvores. Esta resina é usada depois para forrar o interior do ninho das abelhas antes que solidifique, para evitar a entrada das térmitas.

As fêmeas são muito maiores do que os machos. Estes foram observados a ter comportamentos territoriais perto dos ninhos, que contêm até seis fêmeas e 22 larvas.

Depois destas observações, contudo, a abelha-gigante-de-Wallace foi perdida para a Ciência mais uma vez. A sua raridade, o facto de apenas ocorrer em pequenas ilhas e a falta de investigação dedicada a estes grupos de animais ajudam a explicar a facilidade com que os insectos podem passar despercebidos.

Mas se a confirmação da sobrevivência desta espécie é uma boa notícia, a verdade é que há dúvidas quanto ao seu futuro.

Esta abelha vive, predominantemente, em florestas primárias, o que significa que enfrenta a ameaça da desflorestação. Desde 2000, a Indonésia terá perdido 15% do seu coberto florestal para o desenvolvimento urbano e agricultura.

De momento “não sabemos quase nada sobre este extraordinário insecto”, comentou Eli Wyman, entomólogo de Princeton que fez parte da equipa. “Espero que esta redescoberta promova mais investigação para que possamos ter mais informação sobre a história de vida desta abelha única e sobre o que podemos fazer para a proteger da extinção.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.