Foto: Joana Bourgard

“A natureza está a enviar-nos uma mensagem”

A actual pandemia de coronavírus e a crise climática significam que a natureza está a enviar uma mensagem à humanidade, afirmou esta semana a responsável das Nações Unidas para a área do ambiente, Inger Andersen.

 

A directora executiva do Programa das Nações Unidas para o Ambiente, em declarações ao jornal The Guardian, considerou que os humanos estão a pressionar muito o mundo natural. Não tomarmos conta do planeta significa que não tomamos conta de nós próprios, avisou.

Inger Andersen disse também que o mais importante agora é proteger as pessoas do coronavírus e impedir que se espalhe. Já a resposta a longo prazo ao que está a acontecer tem de ser “enfrentar a perda de habitats e de biodiversidade”, avisou.

“Nunca como antes houve tantas oportunidades para os agentes patogénicos passarem da selva e dos animais domésticos para as pessoas”, disse ao jornal britânico, indicando que actualmente cerca de 75% das novas doenças infecciosas têm origem na vida selvagem.

“A erosão continuada que provocamos em espaços selvagens tornou-nos desconfortavelmente próximos dos animais e plantas que transportam doenças que podem ‘saltar’ para os humanos.”

Mas os efeitos da actividade humana estendem-se aos impactos sobre o clima, como os fogos devastadores na Austrália e as ondas de calor em níveis nunca vistos. “No fim de contas, todos estes eventos são a natureza a enviar-nos uma mensagem”, frisou a mesma responsável.

A responsável das Nações Unidas acrescentou que “há demasiadas pressões ao mesmo tempo sobre os nossos sistemas naturais e alguma coisa tem de ceder”. “Estamos intimamente interligados com a natureza, quer gostemos ou não. Se não tomarmos conta da natureza, não podemos tomar conta de nós próprios.”

 

Mercados de animais selvagens têm de fechar

Os cientistas têm avisado que era previsível a ocorrência de uma epidemia como o Covid-19, face ao aumento de surtos de doenças infecciosas nos últimos anos: Ébola, gripe das aves, síndrome de doença aguda respiratória grave (Sars), Zika e outras.

Em causa está o comportamento humano, incluindo a existência de mercados que vendem animais selvagens vivos, como é o caso do mercado na região chinesa de Wuhan onde se acredita que teve origem o actual surto de Covid-19. Nesses locais, animais selvagens como morcegos, pangolins e outros são amontoados todos juntos, em gaiolas umas em cima de outras. Para já, foram proibidos na China.

Andrew Cunningham, da Sociedade Zoológica de Londres, disse ao The Guardian que essa proibição deveria ser permanente, mas que é necessário encerrar mercados semelhantes que continuam a existir um pouco por toda a África Sub-sahariana e também em muitos países asiáticos.

Outras doenças com origem em animais selvagens, disse também, têm altas taxas de mortalidade. É o caso do Ébola, que mata cerca de 50% das pessoas infectadas – muito acima da taxa de mortalidade estimada nos casos de Covid-19. “Podemos não achar isso agora, mas provavelmente tivemos um pouco de sorte [com o Covid-19]”, acrescentou o mesmo responsável. “Por isso acho que devíamos ver isto como um sinal claro de aviso. É a nossa oportunidade.”

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.