A vida secreta das borboletas para quem tem 10 anos

O Borboletário de Cascais, onde vivem dezenas de espécies que ocorrem em Portugal, acabou de abrir portas depois de ter estado encerrado nos meses de Inverno. A Wilder juntou-se a uma visita de crianças muito curiosas.

 

Vinte meninos e meninas entre os 5 e 10 anos acabam de entrar no Borboletário de Cascais para começar a sua viagem pela “Vida Secreta das Borboletas”. O que era um espaço silencioso, e ao mesmo tempo fascinante pelas dezenas de borboletas, encheu-se do ribombar de passos, risos e confusão. A calma só se volta a instalar quando Diogo diz: “Façam silêncio que as borboletas não gostam de barulho. Vamos falar sobre insetos?”, um sussurro afirmativo ouve-se em concordância.

Diogo Silva, formado em biologia e especialista em Herpetofauna (anfíbios e répteis) e mais recentemente em Entomologia (insetos), é o atual monitor e gestor de projetos do Borboletário, situado na Quinta da Rana, em Cascais. Veio trabalhar para este local depois de desafiado pela agência CascaisAmbiente onde tinha começado a trabalhar há uns meses. Atualmente, além dele, um jovem do Programa de Ocupação de Jovens (POJ) da Câmara Municipal de Cascais completa a equipa do Borboletário.

 

 

E o Diogo continua: “então e quem me dá um exemplo de inseto?”. “Mosca, abelha, a lagarta” dizem os miúdos. O monitor aproveita a dica e pergunta: “disseste a lagarta, porquê?”. O Manel, pensativo, olha para os placares à sua volta e, de forma traquina, responde que deve ser porque existem ali imagens de lagartas. “Bom ponto”, diz o Diogo. “Então vamos lá ver as regras de ser um inseto de um modo simples: Um: geralmente o número de patas tem de ser seis! Dois: o tipo de corpo pode ser diferente, mas em geral está dividido em três partes: corpo, tórax e cabeça! A maioria dos insetos tem ainda asas e antenas”.

Mas a Joana está impaciente. “Quando vamos ver as borboletas a voar?”. “Bem, primeiro vamos falar sobre a importância das borboletas!” responde o Diogo. “A maioria dos insetos come pólen e/ou néctar das flores. Quando os insetos visitam as flores algum pólen fica preso nos mesmos e quando vão visitar outra flor levam-no atrás e pousam o que trouxeram nessa flor, contribuindo para o ciclo da vida das flores, uma vez que sem a junção dos seus pólen não pode haver criação de mais plantas. Esta ação dos insetos chama-se polinização… Essencial para termos um planeta cheio de vida!”. “Mas então o que se pode fazer?” pergunta o Luís. “É muito fácil ajudar – apenas é necessário plantar novas plantas com flor sempre que puderem!” remata em resposta o Diogo.

O projeto do Borboletário de Cascais iniciou-se em 2012 e a inauguração e abertura ao público aconteceu em 2013. Desde a sua origem este local assegura-se que nas suas ações envolve o público na importância da preservação dos insetos e das borboletas em especial.

 

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Uma caraterística importante das borboletas, referido no local, é o facto das mesmas serem indicadores ambientais ou seja, geralmente são sensíveis à poluição. Assim onde existem populações de borboletas podemos assegurar que esse ar é puro. A Serra de Sintra é um desses locais e aqui podem-se ver populações de borboleta Aurora, uma das mais sensíveis à poluição.

“Bem, vamos agora para o laboratório” chama o Diogo. Ao passarem pelas portas duplas de acesso ao jardim, um espetáculo de borboletas a voar. As crianças, deslumbradas, fazem um pequeno chinfrim sobre o voo a que assistiram até entrarem no laboratório. “Bem vindos ao laboratório, o local onde trabalham os cientistas!” começa Diogo. “O que é um cientista?” pergunta o João. E rapidamente o monitor responde: “É alguém que estuda algo. Neste caso eu estudo as borboletas, sou um cientista de borboletas… E hoje vão ter a oportunidade de ser cientistas de borboletas, o primeiro passo é estudá-las tal como fizemos há pouco! O segundo passo da aventura é saber identificar as borboletas no laboratório! Vamos a isso!” entretanto são distribuídos guias de campo pelas crianças e Diogo traz à mesa um suporte com diversos modelos de borboletas apanhados no local. E a identificação ruidosa começa.

 

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A vida das borboletas tem quatro fases distintas: o ovo, a lagarta, a crisálida e a borboleta ou mariposa. Cada borboleta pode pôr mais de 100 ovos. Nem sempre todos os ovos irão dar origem a borboletas uma vez que, em fase lagarta, apesar de só comer e dormir para crescer e armazenar muita energia, a produção das crisálidas é demasiado desgastante para as lagartas e por vezes acabam por morrer.

Neste laboratório dá-se uma pequena ajuda às borboletas. Em exposição dentro de gaiolas, que separam a entrada do laboratório, só estão as lagartas já numa idade estável onde fazem os casulos. Quando eclodem, as borboletas são libertadas no jardim.

Após um recolher de materiais barulhento da sessão de identificação das borboletas, Diogo diz: “Agora tudo mãos atrás das costas! “. Dirige-se às gaiolas dos modelos vivos de lagartas. A primeira que traz é a lagarta Psilogaster loti, preta, laranja e vermelha com pêlos amarelos. As crianças começam lentamente a fazer-lhes festas com bastante cuidado. Até o Diogo pedir: “Agora têm de cheirar os cocós das borboletas!”. Um ar de repudio percorre as caras de todas as crianças, mas mesmo assim atrevem-se a cheirar, “Ah não cheira a nada!! Até cheira bem” dizem as crianças. E o monitor explica: “O cheiro do cocó das lagartas tem a ver com o que elas comem. Se em geral elas só comem plantas este poucas vezes cheira mal, na maioria das vezes não cheira a nada ou até cheira bem!”. De seguida, aproximando outras lagartas, diz a sorrir: “Agora as próximas não podem tocar que são muito frágeis!”. Em cima de um prato estão quatro lagartas pequenas da couve, fininhas, verdes e peludas. “Às vezes vão calhar a algumas sopas, se isso acontecer comam que é proteína e não faz mal!”.

O mesmo não se poderá dizer das lagartas que o Diogo vai buscar a seguir, as lagartas venenosas, muito coloridas. Estas lagartas consomem uma planta venenosa para que os predadores não as comam.

Para rematar a aventura no laboratório, chegou a hora do trabalho de campo no jardim. No cubículo das portas duplas, Diogo dá às crianças uma missão: “O vosso objetivo é encontrar três espécies de borboletas!”. Sussurrando umas para as outras, as crianças avançam pelo jardim, espreitando todos os seus recantos à procura das borboletas.

 

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O número de espécies de borboletas no local é difícil de quantificar por ser muito variável ao longo dos anos. No entanto o mínimo de espécies que foram criadas e observadas no Borboletário mantém-se nas 18 espécies e o máximo de 53 espécies foi atingido no ano passado.

No jardim há um caminho de madeira, um pequeno lago e alguns bancos. Tudo o resto são canteiros das mais diversas plantas da zona. “Hi! Olha aquela tão grande!!” exclama a Sofia, apontando uma borboleta Monarca, nesta altura a mais vista no jardim e a que provoca nas crianças mais gritos quando passa.

Antes de terminarem a visita, Diogo incita as crianças a explorar a Serra de Sintra com o guia de campo e a procurar borboletas. Os miúdos, em euforia, saem pelas portas duplas a correr. Em poucos segundos, o borboletário volta a mergulhar no silêncio original.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Se quiser visitar o Borboletário, pode fazê-lo até ao final de Novembro. Só fecha às segundas e terças-feiras de acordo com o horário de funcionamento. Saiba mais aqui.