Abelhão extinto há 15 anos está a voltar aos prados ingleses

A espécie de abelhão Bombus subterraneus, que foi declarada extinta em Inglaterra em 2000, está agora de regresso, graças a um projecto de reintrodução a decorrer em 1000 hectares de prados do Sul do país.

 

Durante quatro dias consecutivos foram observados três abelhões operários na reserva natural de Dungeness, na região de Kent, gerida pela organização Royal Society for the Protection of Birds (RSPB), que deu hoje a notícia.

“Observações consistentes de operários nos últimos três anos mostram que as rainhas têm conseguido fazer os seus ninhos e produzir descendentes, um forte indicador de que os abelhões estão a encontrar alimento suficiente para construírem as suas colónias”, explicou a organização em comunicado.

Estes abelhões são uma espécie nativa do Reino Unido. Mas, em 2000, foram declarados extintos no país. De acordo com a RSPB, isso deveu-se à perda de quase 97% dos antigos prados de flores silvestres dos quais dependem. Estes polinizadores tinham sido observados em Dungeness, pela última vez, em 1988.

Depois de uma tentativa falhada em 2009, com abelhões trazidos da Nova Zelândia, este segundo projecto de reintrodução começa a dar frutos.

Todos os anos, desde 2012, cerca de 50 rainhas são trazidas do Sul da Suécia para serem libertadas na reserva natural de Dungeness, no âmbito deste projecto coordenado pelo Bumblebee Conservation Trust (BBCT), pela RSPB, pela agência governamental Natural England e pela Hymettus.

“Esta é uma descoberta entusiasmante e mostra que a conservação destes abelhões pode funcionar”, disse Nikki Gammans, gestora do projecto e membro do BBCT, em comunicado.

O projecto conta com o apoio de mais de 100 proprietários rurais e das comunidades locais em Dungeness e Romney Marsh, no Sul de Inglaterra. Cerca de 1000 hectares de habitats ricos em flores silvestres estão a ser geridos para as abelhas e abelhões.

 

 

“Este trabalho prova que é possível reintroduzirmos estes abelhões no campo rural inglês, com uma gestão cuidada, e também prova a importância de trabalharmos com os proprietários para trazermos de volta estes habitats”, comentou Jon Curson, especialista em invertebrados na agência Natural England.

Para Jane Sears, da RSPB, “ao providenciarmos uma variedade das flores mais adequadas da Primavera ao final do Verão, estamos a dar a estes animais as hipóteses para completarem o seu ciclo de vida e para se espalharem pelos arredores”.

Actualmente, não é só esta espécie de abelhões que está em risco. Em meados de Julho, um estudo publicado na revista Science alertou que as alterações climáticas estão a encolher o território dos abelhões polinizadores que vivem na Europa e na América do Norte.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.