Abutre-preto (em primeiro plano). Foto: PJeganathan/Wiki Commons

Abutre-preto está a ganhar novos territórios no Norte da Península Ibérica

O abutre-preto, espécie ameaçada de extinção, está a conseguir fixar-se em duas novas zonas do Norte da Península Ibérica de onde tinha desaparecido, graças a um projecto de conservação.

 

O abutre-preto (Aegypius monachus) é a maior ave de rapina da Europa. Em Portugal é uma espécie Criticamente Em Perigo de extinção. Em Espanha também está classificada como espécie ameaçada.

São várias as pessoas que estão a trabalhar para que esta espécie não desapareça da Península Ibérica, nomeadamente a tentar criar novas populações. Entre elas está a equipa da associação naturalista espanhola GREFA – Grupo de Reabilitação da Fauna Autóctone e do seu Habitat.

Em comunicado divulgado hoje, esta associação revelou que a Reserva de Boumort (Lleida, Pirinéus) tem agora uma colónia de abutre-preto com cerca de 50 aves residentes e 16 casais. Nos 10 anos do Projecto Monachus, daquela associação, nasceram e sobreviveram mais de 20 crias, 11 das quais em 2016 e 2017.

 

um abutre-preto a voar
Abutre-preto. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

 

“O êxito explica-se com o facto de, nos últimos anos, termos libertado nos Pirinéus mais de 70 abutres-pretos, procedentes de centros de recuperação e de reprodução em cativeiro”, disse Ernesto Álvarez, presidente da GREFA e responsável pela recuperação dos abutres europeus através de projectos de reintrodução.

O Projecto Monachus está a tentar recuperar a população europeia de abutre-preto. Um dos objectivos é conseguir ligar as grandes populações naturais desta espécie existentes no Centro e no Sul da Península Ibérica com outras mais pequenas que foram sendo criadas nos últimos tempos na Europa.

Nesta temporada de reprodução já há 10 casais a incubar na colónia pirenaica de Boumort.

Um esforço conservacionista semelhante, para tentar criar uma nova colónia de abutre-preto, está em curso em outro local, na Serra de la Demanda. Os trabalhos começaram em 2016 e, em Outubro de 2017, foram ali libertados 15 exemplares. Estes animais tinham passado vários meses num recinto de aclimatização em Huerta de Arriba (Burgos), para se adaptarem à zona de reintrodução.

Nesse mesmo local está nesta altura um outro grupo de abutres-pretos, à espera de serem libertados ainda durante este ano.

Dos 15 abutres libertados na Serra de la Demanda, pelo menos dois já formaram um casal, contou Álvarez. Além disso, “vimos na zona três casais desta espécie procedentes de outras colónias espanholas”. Na opinião deste perito, estes são “indicadores muito bons”.

 

Abutre-preto em voo depois de ser libertado na Serra de la Demanda. Foto: GREFA
Abutre-preto em voo depois de ser libertado na Serra de la Demanda. Foto: GREFA

Em Portugal apenas existem 20 casais nidificantes, concentrados em três núcleos: Tejo Internacional, Douro Internacional e Baixo Alentejo. É aqui, mais concretamente na Herdade da Contenda (Moura), que está em curso um projecto para tentar fixar uma colónia de abutres-pretos, da responsabilidade da Liga para a Protecção da Natureza (LPN).

O projecto para tentar formar um núcleo reprodutor desta espécie no Baixo Alentejo começou no âmbito do Projecto Life Lince Abutre (de Janeiro de 2010 a Setembro de 2014), através de várias medidas como a instalação de 12 ninhos artificiais para abutre-preto pela LPN naquela Herdade.

Os anos de trabalho já deram frutos. A fêmea 7E foi a primeira a nascer no Alentejo no espaço de mais de 40 anos, em 2015. Em 2016 nasceu em macho, o 7K. E no ano passado foi a vez de outra fêmea, a 7M.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Eduardo Santos, da LPN, e Gonçalo Elias, do portal Aves de Portugal, dão-lhe as dicas que o vão ajudar a observar abutres-pretos. Leia tudo aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.