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Britango. Foto: Bruno Berthemy / VCF

Abutres-do-egipto demoram 20 minutos a atravessar estreito de Gibraltar

Vinte minutos foi o tempo que precisaram dois abutres-do-egipto (Neophron percnopterus) para atravessar o estreito de Gibraltar, nas suas migrações outonais, revelou a Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife).

 

Esta terá sido a primeira vez que se estudou o tempo exacto que estas aves demoram a chegar ao continente africano para passar o Inverno, vindas da Península Ibérica, mais concretamente de Espanha.

“Estes 20 minutos mostram o espectacular esforço que muitas aves migradoras, especialmente as aves planadoras, realizam para chegar às suas zonas de invernada”, comenta a organização. A SEO/Birdlife lembra, em comunicado, que um ferry demora entre uma hora e hora e meia a fazer o mesmo trajecto.

O início de Outubro é celebrado a nível internacional pela migração das aves que partem dos locais onde se reproduziram para os locais onde passam o Inverno. Em Portugal, o feito é celebrado, por exemplo, pelo VII Festival de Observação de Aves, a decorrer de 30 de Setembro a 5 de Outubro em Sagres, e pelo Eurobirdwatch 2016, de 1 a 2 de Outubro. Este evento, que acontece desde 1993, foi celebrado por mais de 24.000 pessoas em 40 países europeus, incluindo Portugal, que observaram cerca de 5.8 milhões de aves em migração.

A SEO/Birdlife e a Fundación Iberdrola España têm a decorrer o Programa Migra para conhecer melhor a migração das aves. E agora obtiveram dados novos, graças ao Quel e a Brieva, dois abutres-do-egipto marcados com GPS. Estas duas aves começaram a sua migração outonal no início de Setembro. “Em cinco dias chegaram ao estreito de Gibraltar, a 800 quilómetros dos seus ninhos, e cruzaram o estreito até África a 10 e a 14 de Setembro, respectivamente”, explicou a SEO/Birdlife.

Ana Bermejo, coordenadora do Programa Migra, disse que os dois abutres tiveram sorte. “Naqueles dias, as condições meteorológicas foram favoráveis. Com vento ou chuva fortes, esta travessia – que parece fácil – torna-se um desafio difícil de superar. Muitas aves perdem a vida.”

E não foram apenas Quel e Brieva a aproveitar o bom tempo. Naqueles dias atravessaram o estreito de Gibraltar outros 146 abutres-do-egipto, segundo dados da Fundación Migres, que contabiliza quantas aves sobrevoam o estreito durante as migrações.

Uns dias depois, a 22 de Setembro, o abutre Rupis chegou a África, depois de ter percorrido mais de 700 quilómetros entre Salamanca e Tânger. Esta ave – que está a ser seguida há mais de dois meses no âmbito do projecto LIFE RupisConservação do britango e da águia-perdigueira no vale do rio Douro (2015-2019) – atravessou o estreito de Gibraltar entre as 12h00 e as 13h00 desse dia. Segundo os dados mais recentes, relativos a 29 de Setembro, Rupis, abutre com três anos de idade, estava na Mauritânia.

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.