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Adiada abertura ao mar da Lagoa de Santo André para proteger as aves

Inúmeras espécies de aves, algumas delas protegidas, estão em pleno período de nidificação na Lagoa de Santo André. Por isso, a abertura da lagoa ao mar fica adiada para a primeira quinzena de Junho.

 

Todos os anos, a abertura da Lagoa de Santo André ao mar acontece até 15 de Março. Tudo para assegurar uma melhor qualidade da água e para permitir a “entrada de alevins de diversas espécies marinhas, como o robalo, e também de enguia (meixão), assim como a saída de enguias prateadas que se deslocam para o Mar dos Sargaços para se reproduzirem”, segundo uma nota do Ministério do Ambiente divulgada hoje.

Mas este ano, devido à Covid-19, “a abertura anual prevista da lagoa não reuniu condições para se realizar na data regularmente convencionada para o efeito”.

Agora, a abertura da Lagoa – que se localiza na Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha e é considerada uma das mais importantes zonas húmidas nacionais para as aves – terá de ser adiada para a primeira quinzena de Junho, para proteger a época de nidificação de inúmeras aves selvagens.

Nesta altura do ano, explica o Ministério, “as espécies de aves que ocorrem na Lagoa iniciaram o seu período de nidificação e reprodução”. Até ao momento, os técnicos já identificaram, pelo menos, 60 ninhos de espécies de aves dependentes do plano de água, com algumas espécies prioritárias.

“Para as aves aquáticas nidificantes na Lagoa de Santo André é essencial que a abertura ocorra no máximo até à primeira quinzena de março, ou mesmo antes, uma vez que a abertura mais tardia, já em período de nidificação, tem como consequência deixar os ninhos a seco e ao alcance de predadores.”

A abertura da Lagoa ao mar nesta altura “causaria prejuízos irreparáveis para as aves selvagens que ocorrem naquele espaço natural, promovendo a alteração significativa do habitat de suporte à sua reprodução, o que contraria a legislação nacional e comunitária em vigor”.

Assim, o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) acordaram que a abertura da Lagoa irá acontecer “logo que tal ação não prejudique significativamente o processo reprodutivo das aves selvagens”.

Isso deverá acontecer, “em função da maré, na primeira quinzena de Junho”.

A abertura da Lagoa ao mar é um momento esperado pelas comunidades locais, nomeadamente a comunidade piscatória.

A Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha, no distrito de Setúbal – municípios de Santiago do Cacém e Sines – tem registadas 241 espécies de aves, 54 de peixes, 12 de anfíbios, 15 de répteis, 29 de mamíferos e 205 de borboletas. Ocupa uma área de 5.247 hectares (dos quais 3.110 correspondem à parte terrestre).

O símbolo da Reserva é o rouxinol-pequeno-dos-caniços (Acrocephalus scirpaceus), espécie que inverna em África e chega à lagoa de Santo André na primeira quinzena de Março para aqui se reproduzir.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.