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Foto: Joana Bourgard

Agência europeia pede proibição ou restrição do chumbo na caça

Estima-se que todos os anos entre um a dois milhões de aves morram envenenadas na Europa por causa do chumbo em munições de caça. A Agência Europeia de Químicos pede a proibição ou a restrição deste metal perigoso.

 

Esta tomada de posição da Agência surge na forma de um relatório que elaborou, a pedido da Comissão Europeia.

Em causa está o chumbo nos cartuchos que ficam no terreno após uma caçada. A contaminação por este metal perigoso pode afectar o funcionamento do sistema nervoso, da medula óssea e dos rins, por exemplo.

Segundo o relatório da Agência Europeia de Químicos (ECHA), “o uso de munições de chumbo em zonas terrestres é um risco tanto para a saúde humana como para o ambiente”.

Por isso, recomenda a União Europeia e os Estados membros a implementarem medidas que restrinjam ou proíbam o uso de chumbo na caça.

“Não restam dúvidas de que a Comissão Europeia tem de actuar e exigir medidas aos Estados membros e que o Governo português deve implementar estas recomendações”, diz, em comunicado divulgado ontem, Joaquim Teodósio, coordenador do Departamento de Conservação Terrestre da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea).

Agora, a Comissão Europeia tem até 17 de Novembro para apresentar uma proposta de decisão sobre o relatório.

A Agência estima que todos os anos entre um a dois milhões de aves podem morrer envenenadas na Europa por causa do chumbo na caça. Isto porque há várias espécies de aves, como gansos e cisnes, que engolem pequenas pedras para as ajudar na digestão. “Se as aves não as ingerirem, o chumbo destas munições pode penetrar no solo e contaminar as linhas de água, pondo em risco todo o ecossistema, e a saúde pública, ao passar da água para as plantas que cultivamos e os animais que comemos”, explica a Spea.

As limitações actualmente em vigor às munições de chumbo não são suficientes, diz a Spea. Por enquanto, estas apenas proíbem a caça com chumbo nas zonas húmidas em áreas protegidas. “Essas limitações não têm qualquer impacto no resto do território nem noutras espécies que também acabam contaminadas por estas munições, além de não evitarem a contaminação do solo e água fora das zonas protegidas.”

Para combater este problema, a ECHA propõe alternativas ao chumbo, “que terão um impacto muito menor na saúde e no ambiente, sem prejuízo económico”. Por seu lado, a Spea defende que deveriam existir mais recursos para a fiscalização e vigilância.

“A proibição do chumbo é urgente e vai contribuir para a conservação da natureza e reduzir os riscos para a saúde pública e preservação do solo e recursos hídricos”, comenta a Spea.

Este é um pedido que já vem de trás. Por exemplo, há dois anos, seis associações do Ambiente – GEOTA, FAPAS, Liga para a Protecção da Natureza, Quercus, Spea e a ANP/ WWF – juntaram-se para pedir o fim do chumbo nas munições e a sua substituição por materiais não poluentes.

Este calendário venatório está em vigor de 2018 a 2021.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.