Macho de tartaranhão-caçador (Circus pygargus). Foto: Cks3976/Wiki Comuns

Agricultores e conservacionistas protegem ninhos de tartaranhão-caçador

Três ninhos com um total de oito ovos e três crias de tartaranhão-caçador, espécie de ave Em Perigo de extinção, foram protegidos por proprietários agrícolas e conservacionistas da Palombar em Miranda do Douro.

 

Os ninhos de tartaranhão-caçador (Circus pygargus), ave de rapina migradora, encontram-se em terrenos agrícolas com culturas cerealífera e forrageira no concelho de Miranda do Douro.

 

Fêmea de tartaranhão-caçador. Foto: Palombar

 

O primeiro ninho foi identificado a 21 de Maio, o segundo a 2 de Junho e o terceiro a 9 de Junho pelos técnicos da Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, e por trabalhadores agrícolas.

A organização contactou os proprietários dos terrenos que, sensibilizados para a importância da espécie, “mostraram total disponibilidade para colaborar” na protecção dos ninhos, explicou a Palombar em comunicado enviado esta semana à Wilder. Aliás, segundo a organização, “os proprietários de terrenos e trabalhadores agrícolas têm um papel absolutamente fundamental a desempenhar na protecção e conservação desta ave de rapina. A sua colaboração é imprescindível”.

Após a autorização dos proprietários rurais, os conservacionistas instalaram uma vedação para criar um perímetro de segurança e protecção à volta dos ninhos.

 

Instalação da estrutura de protecção num dos ninhos. Foto: Palombar

 

“Estes foram circunscritos por uma rede de malha metálica para evitar a sua destruição e/ou perturbações em consequência da ceifa de cereais, gramíneas e leguminosas que ocorre no período de nidificação da espécie.”

 

Ninho com vedação de protecção. Foto: Palombar

 

É entre finais de Abril e meados de Maio que o tartaranhão-caçador põe ovos em ninhos no solo, na grande maioria das vezes em terrenos com culturas cerealíferas, arvenses e forrageiras. A ceifa acontece na época de nidificação da espécie, quando ainda podem haver ovos e crias pequenas. O risco que enfrentam é, por isso, muito grande. “A destruição involuntária dos ninhos, ovos e crias por parte de máquinas agrícolas durante a atividade da ceifa (…) constitui uma das principais ameaças ao sucesso reprodutor e sobrevivência” desta espécie, explica a Palombar.

Os três ninhos de tartaranhão-caçador identificados e protegidos não estão em território da Zona de Proteção Especial (ZPE) Douro Internacional e Vale do Águeda da Rede Natura 2000. Contudo, estão abrangidos pelo novo limite proposto para o alargamento desta ZPE pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), o que confirma e corrobora a importância do aumento da extensão desta área protegida, ao abrigo da Diretiva Aves da União Europeia para a conservação das aves estepárias e outras espécies de avifauna em risco.

 

Ninho com crias. Foto: Palombar

 

A Palombar lembra que “a conservação das populações de tartaranhão-caçador promove o equilíbrio dos ecossistemas e beneficia diretamente os agricultores e as suas culturas, pois esta espécie é predadora de pequenos mamíferos roedores e insectos consumidores de sementes e vegetais diversos e contribui para travar o aumento excessivo das suas populações”.

O tartaranhão-caçador é uma rapina migradora que tem um estatuto de ameaça Em Perigo de extinção, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005), e as suas populações têm registado um declínio continuado no território nacional.

 

Macho de tartaranhão-caçador (Circus pygargus). Foto: Cks3976/Wiki Comuns

 

Os casais nidificantes desta espécie no país representam cerca de 13% da população europeia (excluindo a Rússia).

Esta é uma espécie de conservação prioritária em Portugal. A região Nordeste do país tem um efectivo populacional relevante de tartaranhão-caçador e, por isso, a Palombar tem vindo a monitorizar as suas populações e a detectar casais e ninhos no território, sobretudo no Planalto Mirandês.

 

Ninho com ovos. Foto: Palombar

 

Para melhorar as condições de vida para o tartaranhão-caçador, a Palombar pede medidas agroambientais e planos de gestão do território e da espécie que envolvam as comunidades locais. Além disso, também é crucial a realização de censos nacionais e monitorização da população, para “quantificar os seus reais efectivos e identificar os locais onde nidificam, assim como avaliar a evolução das suas populações ao longo dos próximos anos”.

“A ausência de um censo de âmbito nacional desta espécie não tem permitido ter uma perceção mais precisa sobre a sua dinâmica populacional nos últimos anos ao nível de todo o território.”

Contudo, alerta a organização, “sabe-se de declínios dramáticos do tartaranhão-caçador nalgumas zonas, nomeadamente em Campo Maior, onde a espécie sofreu uma forte redução, associada à intensificação da agricultura”.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Cinco factos sobre o tartaranhão-caçador:

  • É a mais pequena das águias europeias. O macho tem plumagem cinzento-azulada, asas muito compridas e estreitas, corpo esguio e cauda comprida e estreita, de coloração negra. Em voo, distingue-se uma banda preta nas penas secundárias. A fêmea e os juvenis têm uma plumagem de tons castanhos-arruivados.
  • Esta é uma espécie exímia na arte da caça e da predação e não é por acaso que os adjectivos “caçador” e “caçadeira” integram os seus nomes comuns. Com movimentos ágeis, rápidos, silenciosos e precisos tem uma grande habilidade para caçar presas vivas de pequenas dimensões: aves, pequenos mamíferos, insetos e lagartos.
  • O tartaranhão-caçador é uma espécie nidificante estival, pelo que só está em Portugal a partir de meados de Março até Setembro. Esta espécie passa o Inverno em África.
  • Gosta de áreas predominantemente desarborizadas, com solos secos ou húmidos e associadas a zonas agrícolas, principalmente culturas cerealíferas, arvenses e forrageiras. Na região mediterrânica, estima-se que 90% dos casais nidificam no interior de searas.
  • Os principais factores de ameaça são a actividade da ceifa, intensificação da agricultura, abandono agrícola, utilização de agroquímicos, florestação das terras agrícolas, expansão de cultivos lenhosos, perturbação provocada pelas actividades humanas, abate ilegal, pilhagem e destruição de ninhos e aumento de predadores de ovos e crias.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.