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Águia-imperial está a regressar à Andaluzia

A população de águia-imperial (Aquila adalberti) na Andaluzia chegou este ano aos 111 casais nidificantes, cerca de o dobro da população de há dez anos, quando se contaram 53 casais. As autoridades confirmaram ainda um casal que se fixou numa nova região, de onde a espécie tinha desaparecido há mais de 50 anos.

 

Em 2015 foram registados 97 casais de águia-imperial na Serra Morena, nove em Doñana e quatro em Cádiz, segundo o mais recente censo à espécie feito pela Junta de Andaluzia, revelou ontem um comunicado desta entidade.

Além disso, foi registado pela primeira vez um casal na Cordilheira Bética – região montanhosa a Sul da Península Ibérica, desde o Golfo de Cádiz até Alicante e Baleares -, região de onde esta rapina desapareceu na segunda metade do século XX. “Este pode ser o início de um novo núcleo reprodutor entre os núcleos da Serra Morena e de Cádiz, afastando assim o risco de extinção desta ave”, escreve a Junta andaluza em comunicado.

O censo revelou ainda que este ano nasceram 120 crias de águia-imperial na Andaluzia, menos 13 do que em 2015.

Actualmente, a águia-imperial está classificada em Espanha como Em Perigo de extinção. Na Andaluzia vive 20% da população da Península Ibérica, ocupando uma área total de 6.700 quilómetros quadrados.

“Estes resultados confirmam a tendência positiva que mostra esta rapina desde 1989 até agora”, disse a Junta, lembrando que a ave está presente em todos os núcleos de distribuição histórica: Serra Morena, Doñana, Cádiz e agora a Cordilheira Bética.

“Pelo segundo ano consecutivo, a Andaluzia supera o limite dos 100 casais e dos 4.000 quilómetros quadrados, considerados pela Directiva Aves como critérios para alcançar um estatuto favorável de conservação”.

A Estratégia Nacional espanhola para a Conservação da Águia-Imperial define que são precisos 500 casais na Península Ibérica para que a espécie passe a registar uma tendência crescente não fragmentada. Este é também um objectivo estabelecido no Plano de Acção para a União Europeia, baseado nos critérios da União Internacional de Conservação da Natureza (UICN) para populações pequenas e de distribuição restrita, como é o caso desta espécie endémica. Como a população da Andaluzia representa 20% da população da Península Ibérica, é preciso chegar a um mínimo de 100 casais reprodutores e mantê-los durante, pelo menos, seis anos, antes de considerar que têm um estatuto favorável de conservação.

Para recuperar a espécie, a Junta da Andaluzia criou uma equipa de seguimento especializada e colabora com proprietários de terrenos com águia-imperial, no âmbito do Plano de Recuperação da espécie na região.

Em Portugal, a águia-imperial é uma espécie com estatuto de Criticamente em Perigo, de onde se extinguiu nos anos 1970. Depois de uma lenta recolonização com aves vindas de Espanha, em 2013 haviam em Portugal 11 casais confirmados.

No terreno está a decorrer o projeto LIFE Imperial (2014-2018), que pretende contribuir para o aumento da população da espécie em Portugal. O Projecto LIFE Imperial está a ser implementado nas ZPE da Rede Natura 2000 de Castro Verde, Vale do Guadiana, Mourão/Moura/Barrancos e Tejo Internacional, Erges e Pônsul.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais aqui sobre a conservação da águia-imperial a decorrer em Portugal.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.