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Águia-imperial-ibérica. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

Águia-imperial pode estar de regresso a Trás-os-Montes

Uma águia-imperial-ibérica ainda imatura foi avistada no concelho de Mogadouro, no Nordeste de Trás-os-Montes, anunciou a organização não governamental Palombar. Este foi o segundo registo desta espécie ameaçada em menos de dois anos.

 

A águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti) reproduz-se apenas em Portugal e Espanha. “É uma das aves de rapina mais ameaçadas da Europa, estando igualmente entre as mais raras a nível mundial, tendo um estatuto e conservação Criticamente em Perigo em Portugal”, nota a Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, num comunicado enviado à Wilder.

Esta águia de grandes dimensões caracteriza-se pelas asas compridas e largas e a cauda relativamente curta. Alimenta-se essencialmente de coelhos-bravos, mas também de lebres, rolas e outros animais de pequeno e médio porte. É também parcialmente necrófaga.

O avistamento aconteceu no dia 30 de Abril, num dos campos de alimentação para aves necrófagas geridos pela Palombar, no âmbito do projecto LIFE Rupis, destinado à conservação do britango e da águia-perdigueira no Douro Internacional. A ave em questão é ainda imatura, o que se pode avaliar pela plumagem, da cor do palhiço.

 

Foto: Palombar

 

A presença desta águia ficou registada numa das câmaras de foto-armadilhagem colocada por técnicos da ONG portuguesa num CAAN em Mogadouro. Este foi aliás o segundo registo de uma águia-imperial imatura no Nordeste Transmontano, “região onde atualmente não existem casais reprodutores de águia-imperial-ibérica.”

O primeiro registo tinha acontecido a 4 de Setembro de 2018, num outro CAAN gerido pela organização no concelho de Miranda do Douro, igualmente situado no Parque Natural do Douro Internacional.

“O avistamento de indivíduos desta espécie é muito raro tão a norte do país”, lembra a Palombar. “Tratando-se de uma águia-imperial-ibérica imatura, o mais provável é que esteja em dispersão e a estabelecer o seu território, o que poderá ser um sinal do seu possível retorno a esta região do país, que a espécie já ocupou no passado.”

 

Foto: Palombar

 

Com efeito, em Espanha, onde está baseada a maior parte da população mundial de águia-imperial, confirmou-se em 2019 a existência de quatro casais reprodutores junto à fronteira com o Nordeste Transmontano – três casais na província de Salamanca e um na província de Zamora.

Um lento regresso a Portugal

Entre o final da década de 70 e inícios dos anos 80, a população reprodutora de águias-imperiais-ibéricas desapareceu de Portugal. A nidificação desta espécie em território nacional só voltou a ser confirmada em 2003 na região do Tejo Internacional, na Beira Baixa.

Nos últimos anos, esta águia tem sido alvo de vários projectos de conservação, o que está a permitir um lento regresso. Em 2018, a população nacional nidificante totalizou 17 casais distribuídos pelas regiões da Beira Baixa, Alto Alentejo e Baixo Alentejo. Esse número repetiu-se em 2019, ano em que nasceram 20 crias com sucesso.

Mas apesar do aumento, “o tamanho da população reprodutora é tão reduzido que existe um elevado risco de extinção da espécie face ao aparecimento, por exemplo, de uma doença, por redução significativa da população devido a alta mortalidade e períodos consecutivos de baixa produtividade e/ou por deterioração genética (devido à possível reprodução entre indivíduos da mesma “linhagem”, diminuindo a viabilidade e a diversidade genética da espécie)”. Isto de acordo com dados do projeto LIFE Imperial, dedicado à conservação da espécie.

A Palombar sublinha ainda que os dois registos aconteceram em campos de alimentação destinados a abutres e outras aves total ou parcialmente necrófagas, o que demonstra a importância dessas estruturas para a conservação de espécies com estatuto de conservação muito desfavorável. “Como é o caso desta rapina ibérica, sobretudo para os indivíduos imaturos.”

Em causa está também o “amplo impacto” do projecto LIFE Rupis – que decorreu entre 2015 e 2019, cofinanciado por fundos europeu – para a “preservação de várias aves de rapina e necrófagas ameaçadas não só na Península Ibérica, como também na Europa.”

 

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.