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Ribeira. Foto: Helena Geraldes (arquivo)

Aliança nacional de peritos vai avaliar risco de extinção dos peixes portugueses

Até 2021, peritos de várias universidades vão trabalhar para sabermos onde estão, quantos são e quão ameaçados se encontram os peixes de água doce e migradores em Portugal Continental. O projecto do Livro Vermelho foi apresentado hoje em Lisboa.

 

Lampreias, trutas, barbos, bogas e escalos fazem parte do grupo ecológico mais ameaçado do país: os peixes de água doce.

Vítimas de décadas de perda de habitat e usos insustentáveis dos sistemas aquáticos, os peixes de rio (dulciaquícolas) e migradores enfrentam uma situação preocupante.

Há 15 anos que o país não faz uma actualização ao risco de extinção destas espécies. Nessa altura, em 2005, eram oito as espécies Criticamente Em Perigo de extinção: lampreia-de-rio, saramugo, boga-do-sudoeste, boga-portuguesa, escalo-do-Arade, escalo-do-Mira, salmão-do-Atlântico e a truta-marisca.

Esta tarde, investigadores e técnicos reuniram-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) para apresentarem o projecto de revisão do Livro Vermelho e Criação de um Sistema Nacional de Informação dos Peixes Dulciaquícolas e Migradores de Portugal Continental.

De 2019 a 2021, várias equipas de peritos vão ajudar a fazer o retrato actualizado da situação destes animais selvagens. “Depois de 15 anos, a informação está desactualizada”, explicou hoje Filomena Magalhães, coordenadora geral do projecto e investigadora do cE3c – Centro para a Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da FCUL. Novas espécies foram entretanto descritas e os rios mudaram, umas vezes para melhor – graças aos esforços de conservação de projectos como o LIFE Saramugo e o LIFE Águeda – e outras para pior.

Os peritos estão a organizar-se para conseguir fazer três coisas cruciais, acrescentou Filomena Magalhães: determinar qual a distribuição e a abundância das espécies (nas mãos dos investigadores da Universidade de Évora, Unidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Instituto Politécnico de Bragança), clarificar a identidade taxonómica das espécies (a cargo do Instituto Superior de Psicologia Aplicada, ISPA) e avaliar o risco de extinção de cada uma (uma fase que só começará em 2020).

Para tudo isto serão utilizadas metodologias diferentes, desde os trabalhos de campo com dezenas de pontos de amostragem por todo o país às análises genéticas.

No final, será elaborado o Livro Vermelho que terá fichas para cada espécie, incluindo a categoria de ameaça, a distribuição, a ecologia, tendências populacionais, factores de ameaça e medidas de conservação.

O projecto prevê ainda a criação de um Sistema Nacional de Informação dos Peixes Dulciaquícolas e Diádromos de Portugal Continental. Segundo explicou João Oliveira, coordenador executivo do projecto, esta pretende ser uma plataforma interactiva que reúna toda a informação sobre estas espécies e que seja de livre acesso para todos, desde os pescadores e investigadores ao público em geral.

A plataforma ajudará ainda a identificar as espécies de peixes.

Os especialistas esperam avançar em relação ao que foi feito em 2005. Até porque, explicou Filomena Magalhães, “nessa altura, 34 das 35 espécies avaliadas foram estudadas só com base em critérios de distribuição. Agora esperamos conseguir usar outros critérios, como os populacionais (tamanho e tendência das populações)”. Assim consegue-se uma “avaliação mais rigorosa da categoria de ameaça”.

Até porque, para algumas espécies – como o peixe-rei e a solha-das-pedras -, o Livro Vermelho de 2005 deu-lhes uma categoria DD (Informação Insuficiente).

Os responsáveis acreditam que a informação conseguida sobre as espécies de peixes de água doce e migradoras mais ameaçadas em Portugal Continental “venha a contribuir para um comportamento mais informado e responsável de todos, em atividades tão diversas como o planeamento e gestão do território e a pesca. Só desta forma será possível travar a perda de biodiversidade”.

“Sem conhecimento não há valorização das espécies”, comentou Célia Ramos, secretária de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, na sessão de abertura esta tarde. “Só com o conhecimento conseguiremos cuidar melhor das nossas espécies e habitats. Este Livro Vermelho é mais um passo nesse sentido.”

O projecto, que representa um investimento de 463 mil euros, é financiado pelo POSEUR e pelo Fundo Ambiental. É promovido pela FCiências.ID – Associação para a Investigação e Desenvolvimento de Ciências, conta com a colaboração de especialistas de várias instituições e é feito em parceria com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Pode acompanhar os trabalhos dos investigadores no site oficial, no Facebook (lvpeixes), no Twitter (LvPeixes) e no Instagram (lvpeixes).

 

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.