Foto: Flickr

Alterações climáticas e perdas de habitat ameaçam ornitorrincos

Uma nova investigação científica na Austrália alertou agora para a situação frágil do ornitorrinco, esse animal único entre todos os mamíferos.

 

O ornitorrinco (Ornithorhynchus anatinus) é uma espécie endémica do Leste da Austrália, único país do mundo onde está naturalmente presente, sempre dependente de rios, lagos e lagoas.

Tem um focinho que lembra um bico de pato, membranas interdigitais que o ajudam a movimentar-se na água, cauda semelhante à dos castores e esporões nos tornozelos que produzem veneno. Juntamente com a equidna, outra espécie australiana, é o único mamífero do mundo que põe ovos.

 

Foto: UNSW Science

 

Devido aos hábitos nocturnos e por ser dissimulado, os cientistas até hoje pouco sabiam sobre a distribuição e abundância dos ornintorrincos, que são considerados Quase Ameaçados pela União Internacional para a Conservação da Natureza.

Um estudo feito por uma equipa da Universidade de South Wales (UNSW), publicado este mês na revista Biological Conservation, avisou agora que a espécie vai ser fortemente afectada nos próximos 50 anos. Os cientistas concluíram que o estatuto do ornitorrinco  deve ser revisto para Vulnerável – efectivamente ameaçado de extinção.

Analisando apenas os efeitos previstos da construção de barragens e diques e limpeza de terras, que levam à destruição de habitats, a equipa previu que o ornitorrinco vai desaparecer de 40% dos locais onde está presente. Mas quando cruzou esses dados com as previsão de alterações climáticas, que apontam para o crescimento de secas severas como a actual, as previsões de perdas pioraram ainda mais.

“Esses perigos expõem o ornitorrinco a extinções locais ainda piores, sem capacidade para repovoar essas áreas”, avisou Gilad Bino, investigador da UNSW e autor principal do artigo científico, num comunicado.

“Há uma necessidade urgente de se fazer uma avaliação nacional do risco de extinção do ornitorrinco e do seu estatuto de conservação, avaliar riscos e impactos e definir as prioridades de gestão, de forma a minimizarmos qualquer risco de extinção”, sublinhou.

O problema é que muitos destes animais vivem em áreas que estão a ser rapidamente urbanizadas, lamentou outro dos autores do estudo, Richard Kingsford, também da UNSW. As ameaças “incluem barragens que travam os seus movimentos, agricultura que pode destruir os seus abrigos, equipamentos de pesca e armadilhas que os podem afogar e raposas invasoras que os podem matar”, descreveu.

Acredita-se que o número de ornitorrincos tem vindo a descer desde que os primeiros colonos europeus chegaram à Austrália, no século XVIII.

A equipa pede que seja adoptado um plano nacional com acções de conservação para a espécie, que em grande parte do país não está ainda classificada quanto ao risco de extinção.

O ornitorrinco é considerado uma das espécies mais primitivas, do ponto de vista da evolução. Foi descrito por George Shaw em 1799, mas os cientistas do Museu de História Natural de Londres, para onde o espécime tinha sido enviado, ficaram por algum tempo convencidos de que este estranho animal com bico de pato era afinal uma fraude.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.