Alterações climáticas: Ganso-de-faces-brancas está a mudar rotas de migração

Os gansos-de-faces-brancas, aves migradoras, estão a escolher novos locais de alimentação para se adaptarem às alterações climáticas, segundo um novo estudo científico.

Uma equipa internacional de cientistas escoceses, noruegueses, holandeses e britânicos descobriu que os gansos-de-faces-brancas (Branta leucopsis) têm mudado as suas rotas de migração nos últimos 25 anos. 

Num artigo publicado a 2 de Setembro na revista Global Change Biology, os investigadores concluíram que alguns gansos decidiram alterar a sua rota de migração e que outros gansos aprenderam este novo hábito com eles.

O estudo, baseado em 42 anos de observações (de 1975 a 2017) feitas por especialistas, é um dos primeiros a fornecer provas de que os animais selvagens estão a inventar novas formas para lidar com a alteração dos habitats. Mais concretamente as grandes mudanças ambientais nas áreas da Noruega onde estes gansos passam a Primavera.

Uma área, Helgeland, tem sido o sítio tradicional de paragem para estes gansos se alimentarem naquela época do ano. Mas desde meados dos anos 1990, um número cada vez maior de gansos decide parar 250 quilómetros mais a Norte, em Vesterålen.

“Faz sentido que as aves vão ainda mais para Norte, porque dantes, quando chegavam à Noruega, deparavam-se com neve mas agora a região está verde, mais nutritiva”, explicou em comunicado Thomas Oudman, da Escola de Biologia da Universidade de St Andrews.

“O que nos surpreendeu foi o facto de serem principalmente os jovens gansos a mudar as rotas”, salientou. Os gansos adultos também estão cada vez mais a parar mais a Norte, apesar de muitas vezes regressarem às regiões que usavam tradicionalmente.

Segundo Thomas Oudman, estes dados mostram um “sistema social complexo, que permite aos gansos colonizar rapidamente áreas agora disponíveis”.

Contrariamente à maioria das outras aves migradoras, os gansos-de-faces-brancas dão-se bem mesmo quando o seu habitat natural está a mudar rapidamente. Segundo os investigadores, estas aves são capazes de se adaptar às alterações climáticas por causa da disponibilidade de locais alternativos com alimento suficiente na altura certa e sem a ameaça da perturbação humana ou de predadores.

A disponibilidade de habitats alternativos poderá ajudar outros animais a adaptar-se às alterações climáticas, acreditam. Mas as espécies de animais que são menos sociáveis e exploradoras podem demorar muito mais tempo a descobrir esses locais.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.