Foto: Pexels/Pixabay

Alterações climáticas já são a maior ameaça ao património natural mundial

As alterações climáticas são agora a maior ameaça ao património natural mundial, alerta um relatório publicado hoje pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

Um terço (33%) dos sítios Património Mundial estão ameaçados pelas alterações climáticas, incluindo o maior recife de coral do planeta, a Grande Barreira de Coral, avaliada como estando em situação “crítica”, pela primeira vez.

“Os sítios Património Natural Mundial estão entre os locais mais preciosos do mundo e devemos às gerações futuras protegê-los”, comentou, em comunicado, Bruno Oberle, director-geral da UICN.

Este responsável alertou para o que está a acontecer a esses locais, desde o recuo dos glaciares ao branqueamento dos corais e a incêndios e secas cada vez mais frequentes e intensos.

“Enquanto a comunidade internacional define novos objectivos para conservar a biodiversidade, este relatório assinala a urgência com a qual devemos responder aos desafios ambientais, a uma escala planetária”, acrescentou.

O relatório “IUCN World Heritage Outlook 3” vem no seguimento de relatórios anteriores publicados de 2014 a 2017, para avaliar se a conservação dos 252 sítios Património natural mundial é suficiente para os proteger a longo prazo.

Este relatório concluiu que as alterações climáticas destronaram as espécies exóticas invasoras como a maior ameaça ao património natural da Humanidade.

Entre os 83 sítios Património Mundial ameaçados pelas alterações climáticas está a Grande Barreira de Coral, em declínio por causa do aquecimento e acidificação dos oceanos. Como consequência, as populações de espécies marinhas estão a diminuir.

Na África do Sul, na região protegida de Cape Floral, as alterações climáticas exacerbaram a dispersão de espécies invasoras, enquanto que a área protegida do Pantanal, no Brasil, tem sido gravemente atingida por incêndios, especialmente os de 2019-2020.

Em Kluane Lake, sítio Património Mundial entre o Canadá e os Estados Unidos, o rápido degelo do Glaciar Kaskawulsh Glacier alterou o curso dos rios, dizimando populações de peixes de várias espécies.

Segundo este relatório, 63% dos sítios são avaliados como “bons” ou “bons com algumas preocupações”, enquanto 30% são de “preocupação significativa” e 7% são avaliados como em situação “crítica”.

Metade dos sítios avaliados têm protecção e gestão “efectiva” ou “altamente efectiva”. A sustentabilidade do financiamento dos sítios é a questão mais comum avaliada como de “grande preocupação”.

Este Outlook concluiu que 16 sítios se deterioraram desde 2017 e que apenas oito melhoraram.

O relatório também identificou sinais dos efeitos da turbulência causada pela pandemia do COVID-19. “Enquanto que números mais reduzidos de turistas podem ter aliviado a pressão em alguns ecossistemas, em mais casos, os impactos parecem ser negativos”, segundo a publicação.

Isto porque encerrar sítios ao turismo causou perda de receitas e as actividades ilegais estão a ganhar terreno, com menos funcionários para as travar.

Para Peter Shadie, director do Programa da UICN para o Património Mundial, há uma “necessidade extrema de recursos adequados para gerir as nossas áreas naturais insubstituíveis”.

“Muitos sítios Património natural Mundial mostram que a conservação pode e trabalha para um bem maior e que os seus sucessos servem como modelos que podem ser replicados em qualquer lugar.”

Um desses exemplos, acrescentou, é o Parque Nacional Comoé, na Costa do Marfim. Este parque continua a melhorar e foi agora avaliado como “bom com algumas preocupações” depois de ter sido avaliado como numa situação “crítica” em 2014. Isto graças à estabilidade política, gestão efectiva e apoio internacional. Como resultado, populações de chimpanzés, elefantes e búfalos estão estáveis e espécies raras de aves estão a começar a regressar.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.