Foto: Helena Geraldes/Wilder

Alterações climáticas obrigaram roedores da Península Ibérica a migrar

Os roedores da Península Ibérica e do Sul de França foram obrigados a migrar para Norte por causa das alterações climáticas há 12 milhões de anos, descobriu um estudo científico publicado hoje.

 

Uma equipa de oito investigadores analisou mais de 100 jazidas com fósseis na Península Ibérica e Sul de França e descobriu que “as alterações climáticas ocorridas há entre 12 e cinco milhões de anos tiveram efeitos drásticos sobre as comunidades de roedores do sudoeste europeu”, segundo um comunicado da Universidade Complutense de Madrid (UCM), entidade que liderou a investigação.

Os roedores que habitaram a Península Ibérica há entre 12 e cinco milhões de anos tiveram de se deslocar progressivamente para Norte em busca de ambientes húmidos para sobreviver ao arrefecimento e aridez provocados pelas alterações climáticas, segundo a investigação. Durante esse período, a paisagem do sudoeste europeu transformou-se, tornando-se mais árida.

 

Reconstrução paleontológica de um esquilo voador (em primeiro plano) nas florestas da Catalunha e Sul de França, há 10 milhões de anos. Imagem: Oscar Sanisidro/Vertebrate Paleontology. Biodiversitiy Institute, University of Kansas

 

“Para este estudo foi compilada informação sobre todas as espécies presentes em jazidas da Península Ibérica e Sul de França, o que possibilitou avaliar estatisticamente como se agrupavam as comunidades de roedores em função da sua afinidade ecológica. O estudo de como evoluíram estas populações no tempo permitiu-nos determinar como responderam às alterações climáticas ocorridas desde então”, comentou, em comunicado, Fernando Blanco, investigador do Departamento de Geodinámica, Estratigrafía y Paleontología da UCM.

Durante o período de tempo analisado, as alterações climáticas provocaram mudanças na diversidade e distribuição das populações de roedores. “Uma das principais descobertas do trabalho é que as faunas mais antigas, próprias de ambientes que iam desaparecendo por causa das alterações globais eram, progressivamente, deslocadas para Norte, sobrevivendo temporariamente em refúgios mais húmidos, especialmente na Catalunha e no Sul de França”, comentou Manuel Hernández Fernández, professor da mesma Universidade e coordenador do estudo.

Os resultados deste estudo, publicados na revista Scientific Reports, permitem conhecer o impacto das alterações climáticas na biodiversidade do passado e prever o que pode acontecer no futuro.

A equipa estudou os roedores porque são animais com uma ampla distribuição geográfica, diversidade e sensibilidade a alterações ambientais. Além disso, existe um amplo registo fóssil e bem preservado.

“No caso da Península Ibérica temos centenas de jazidas ricas em fósseis deste grupo que podemos estudar”, explicou Blanco. Ana Rosa Gómez Cano, investigadora do Institut Català de Paleontologia e co-autora do trabalho acrescenta que, partindo desta base, podem “realizar-se estudos de grande resolução para analisar a influência das alterações climáticas do passado sobre as faunas extintas”.

Este tipo de estudos são fundamentais para poder criar modelos explicativos e que prevejam a resposta da biodiversidade às alterações climáticas actuais que estão a afectar drasticamente a vida na Terra. “Se conseguirmos conhecer como se comportou a biodiversidade perante as alterações climáticas do passado, poderemos prever como o vai fazer no futuro. Neste sentido, a Paleontologia tem um papel crucial”, concluiu Blanco.

O estudo é o resultado de mais de 50 anos de escavações e estudos nas jazidas. Contou com o Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC), o Institut Català de Paleontologia, o Museum für Naturkunde de Berlim e a Universidade de Harvard.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.