Foto: Helena Geraldes

Amazónia: Governo brasileiro vai rejeitar 18 milhões de euros de ajuda do G7

Ministro brasileiro da Casa Civil diz que “talvez esses recursos sejam mais relevantes para reflorestar a Europa”.

O ministro da Casa Civil brasileiro Onyx Lorenzoni disse que o Governo rejeitará a ajuda do G7 para combater as queimadas na Amazónia, anunciada nesta segunda-feira pelo Presidente francês Emmanuel Macron, noticia o portal de notícias G1, do Grupo Globo.

A assessoria do Palácio do Planalto confirmou a informação dada por Onyx.

Em causa estão quase 18 milhões de euros anunciados durante a cimeira do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido), que decorreu em Biarritz neste fim-de-semana,  que serviriam para enviar aviões Canadair de combate a incêndios, segundo a agência France Press (AFP).

O G7 também propôs ajuda a médio prazo para reflorestar a Amazónia, a ser apresentada na Assembleia Geral das Nações Unidas no final de Setembro. Para receber esta ajuda, o Governo brasileiro teria de aceitar trabalhar com organizações não governamentais e populações locais.

“Agradecemos, mas talvez esses recursos sejam mais relevantes para reflorestar a Europa”, disse ontem o ministro brasileiro. “O Macron não consegue sequer evitar um previsível incêndio numa igreja que é património da Humanidade e quer ensinar o quê ao nosso país?”, acrescentou, numa alusão ao incêndio na catedral de Notre-Dame em Paris, a 15 de Abril. “Ele tem muito que fazer em casa e nas colónias francesas.”

Onyx Lorenzoni garantiu que o Brasil pode ensinar “a qualquer nação” como proteger florestas nativas. “Aliás, não há nenhum país que tenha uma cobertura nativa maior do que a nossa.”

Já a 15 de Agosto, o Presidente brasileiro Jair Bolsonaro tinha reagido à suspensão da ajuda financeira da Noruega para o Fundo Amazónia, sugerindo que o país deveria emprestar dinheiro para proteger as florestas na Alemanha. “A Noruega não é aquela que mata baleias lá em cima, no Pólo Norte? Que explora petróleo lá também? Não tem nada que nos dar o exemplo. Pegue no dinheiro e ajude a Angela Merkel a reflorestar a Alemanha”, declarou então Bolsonaro.

Este ano, o número de incêndios no Brasil aumentou mais de 80%, em comparação com período homólogo de 2018. Até 25 de Agosto estavam registados cerca de 80.000 focos de incêndio. A Amazónia – a maior floresta tropical do planeta, onde vivem cerca de três milhões de espécies de plantas e animais e de um milhão de pessoas – é a região mais afectada.

Ontem, o ministro brasileiro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, garantiu que os incêndios na Amazónia estavam “sob controlo”, depois do envio de mais de 2.500 militares e das chuvas previstas para a região. A situação “foi um pouco exagerada”, acrescentou, falando aos jornalistas depois de uma reunião com o Presidente Bolsonaro. Disse também que o Brasil já conheceu anos com “picos de incêndio muito mais graves”.

Hoje, Bolsonaro recebe no Palácio do Planalto governadores de vários estados da Amazónia para discutir acções de combate às queimadas na floresta, segundo o jornal O Globo. Segundo ele será dita “a verdade sobre o que os outros querem com esta rica região”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.