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Ambientalistas aplaudem abandono da pesquisa de petróleo ao largo de Alzejur

Os ambientalistas aplaudiram esta segunda-feira o anúncio feito pela Galp de que o projecto de pesquisa e prospecção de petróleo ao largo de Aljezur foi abandonado.

 

O recuo anunciado pela petrolífera portuguesa é “uma das mais importantes vitórias do movimento ambientalista local, regional e nacional que motivou um enorme consenso de dezenas de milhares de pessoas, de autarcas, de empresários”, afirma em comunicado a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável.

O presidente da Galp, Carlos Gomes da Silva, tinha anunciado ao início da manhã que a empresa vai abandonar o projecto de prospecção petrolífera e eventual exploração ao largo da costa alentejana, durante uma apresentação a analistas sobre os resultados do terceiro trimestre.

A decisão foi depois confirmada por uma nota divulgada aos meios de comunicação social pela Galp e pela italiana Eni – que liderava o consórcio envolvido neste projecto – segundo a qual as duas companhias “tomaram a decisão de abandonar o projecto de exploração de fronteira na bacia do Alentejo”. “Apesar de lamentarmos a impossibilidade de avaliar o potencial de recursos offshore do país, as condições existentes tornaram objetivamente impossível prosseguir as atividades de exploração”, acrescentavam.

O consórcio tinha como prazo o próximo dia 15 de Janeiro para completar o primeiro furo exploratório, localizado a cerca de 46 quilómetros ao largo da costa de Alzejur.

Em causa terão estado os atrasos impostos ao plano de trabalhos pelas acções de contestação entradas em tribunal, que tornaram impossível o cumprimento dos prazos legais para que a prospecção avançasse. Em especial a providência cautelar avançada pelo movimento Plataforma Algarve Livre de Petróleo (PALP), que em Agosto passado obrigou à suspensão dos trabalhos.

“Quer através do processo judicial colocado pela PALP, quer pelas inúmeras acções e manifestações públicas em que também a ZERO participou, fica evidente que os alertas para a ameaça à preservação dos valores naturais, sociais e económicos do Sudoeste Alentejano surtiram efeito”, afirma a associação, que “aproveita para congratular a Galp por uma decisão crucial para um futuro mais sustentável”.

Também a Quercus, uma das entidades que fazem parte da PALP, considerou o anúncio feito pela Galp como “a decisão mais correcta”, em declarações de Nuno Sequeira, da direcção. “Esperamos que depois deste também outros projectos que vão sendo anunciados sejam abandonados, que são cerca de uma dezena”, acrescentou, em declarações à Antena 1.

 

‘Fracking’ em Aljubarrota preocupa

A ZERO sublinhou, por seu turno, que “ainda há concessões em vigor e expectativas em curso, nomeadamente no caso da exploração de gás natural por ‘fracking’ em Aljubarrota que devem ser terminadas definitivamente”.

As duas associações ambientalistas lançaram ainda críticas ao actual e ao anterior governos pela forma como lidaram com o projecto do consórcio Eni/Galp.

“Portugal viveu uma esquizofrenia completa em relação a esta questão, com um Governo, uma Secretaria de Estado da Energia e um Ministério do Ambiente que afirmavam apostar nas energias renováveis e ao mesmo tempo nunca colocaram um travão à eventual pesquisa e prospecção”, indicou a associação liderada por Francisco Ferreira.

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.